O centro nacional de Oncologia realiza diariamente 500 consultas em que são diagnosticados 10 novos casos de cancro. A informação foi avançada recentemente pela directora clínica, Isabel Sales, durante uma visita de constatação à instituição efectuada pelos deputados da 10ª Comissão da Assembleia Nacional
Texto de: Rila Berta
O Instituto Angolano do Controlo do Cancro é a instituição responsável pela prevenção, diagnóstico e tratamento de todos os casos de cancro no país. Em entrevista a OPAÍS, à margem da visita de uma delegação de deputados da 10ª Comissão da Assembleia Nacional realizada na semana finda à instituição, a médica Isabel Sales, directora clínica, afirmou que diariamente são atendidos cerca de 500 pacientes.
A responsável anunciou que o instituto diagnostica cerca de 10 casos novos de pessoas com cancro por dia. Tendo referido que o número de pessoas que recorre ao centro tende a aumentar, porque “algumas pessoas que tinham algum poder económico conseguiam fazer os tratamentos no exterior do país, mas agora, com a crise, elas também acabam por recorrer à nossa instituição”, justificou.
Outrossim, referiu que, com a informação que se tem passado, as pessoas têm conhecimento de que o instituto existe e começam a procurar os seus serviços. Claudina Pedro, de 40 anos, soube que tinha cancro do colo do útero em 2014. A doença foi detectada tarde, por isso não podia ser operada. Foi-lhe dito que se tratava de um cancro já ramificado, por isso foi submetida a tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Mãe de dois filhos. Hoje diz estar bem, mas já não pode voltar a ter filhos. O cancro está combatido, mas a luta não terminou. “Disseram-me que só depois de cinco anos se pode considerar que estou curada”, explicou.
Entretanto, trimestralmente tem de fazer consultas de rotina. Está satisfeita com o atendimento no Instituto. Sobretudo, porque fez todos os tratamentos médicos e medicamentosos a custo zero. “Quando comecei a ser atendida estava desfigurada”. Em 2017 foram diagnosticados 1300 novos casos de cancro, num universo de 6800 pacientes que estão sob controlo da unidade hospitalar. Cerca de 30 profissionais especialistas trabalham na instituição que tem capacidade para 50 internamentos, 30 para adultos e 20 para crianças.
A médica Isabel Sales referiu que a preocupação da instituição não está no número de pessoas que são atendidas diariamente, mas na capacidade de resposta. “Nós somos a instituição para lidar com esse tipo de pacientes, então, para nós não é problema atender, mas sim ter capacidade para atender a todos”, disse.
A médica apelou às mulheres para procurarem consultar sempre os especialistas quando notarem alguma anomalia no seu organismo. “No meu caso, o meu período menstrual demorava muito tempo e eu ignorei. Se tivesse consultado um especialista mais cedo, hoje eu poderia ainda fazer filhos”, disse. Segundo a directora clínica, nas mulheres, o principal diagnóstico é o cancro da mama e do colo útero.
Nos homens, maioritariamente, é diagnosticado o cancro da próstata. “Mas nós temos pessoas com cancro em quase todas as partes do corpo, como o sistema nervoso, do olho, do nariz, da boca, do pulmão, da pele, enfim, nuitos casos”, acrescentou.
Cerca de 700 pessoas na lista de espera para o tratamento de radioterapia
Por ora, aguardam na lista de espera cerca de 700 pessoas para o tratamento de radioterapia. Segundo a directora clínica, para atender este universo seriam necessários pelo menos mais cinco equipamentos do género. Ao nível técnico, Isabel Sales reconheceu haver restrições de equipamentos a funcionar. A título de exemplo, disse haver apenas um aparelho operacional para o tratamento de radioterapia. “Temos mais dois aparelhos novos, mas que ainda carecem de aprovação ou de algum instrumento para que possam funcionar”, disse.
O director-geral do Centro Nacional de Oncologia, Fernando Miguel, explicou que os medicamentos quimioterápicos são muito caros e que o mesmo acontece com a manutenção dos aparelhos de radioterapia, o que, na sua opinião, acaba por encarecer os tratamentos de cancro, tanto para a instituição, como para o país.
Director do centro defende criação do programa nacional do cancro
O director do Centro Nacional de Oncologia defende a criação de um programa nacional de controlo do cancro que facilite a criação de consciência da existência das doenças cancerígenas. Fernando Miguel entende ser necessário que, no âmbito do referido programa, sejam aprovadas iniciativas de rastreio obrigatório de determinados tipos de cancro, de modo a facilitar o diagnóstico precoce de muitos casos que chegam em estado avançado. “Cerca de 85% dos casos que recebemos chegam em estado avançado”, disse.
A instituição recebe diariamente pessoas provenientes de diferentes pontos do país.
“ equipamento de ressonância magnética descontinuado Entre os vários equipamentos que existem no Centro Nacional de Oncologia utilizados para o tratamento do cancro destaca-se o de ressonância magnética, que se encontra descontinuado. Segundo Fernando Miguel, trata-se de um aparelho necessário para o seguimento e diagnóstico de alguns tipos de cancro, que já não está a ser fabricado e que precisa de ser substituído. “Mas na falta, algumas unidades hospitalares privadas têm. Temos estado a recorrer a essas unidades enquanto não tivermos um”, disse.
Deputados preocupados com “baixo orçamento” para unidades hospitalares
Os deputados da 10ª Comissão de trabalho especializado da Assembleia Nacional realizaram, na última semana, visitas ao Hospital geral de luanda e ao Centro Nacional de Oncologia. No fim dos encontros, Raúl Danda, presidente da 10ª Comissão, afirmou que as deslocações permitiram constatar in loco, que nas referidas instituições há prestação de serviço, mas faltam verbas.
É que, segundo o deputado, nas duas instituições há serviços que vão sendo descontinuados por falta de pagamentos. “Quando chega a altura de pagamentos não há ordens de saque e os gestores ficam com dificuldades”, disse.
Referindo-se ao Centro Nacional de Oncologia, Raul Danda lamentou o facto de a instituição estar a atravessar dificuldades financeiras, tendo em conta a especificidade dos tratamentos feitos na referida instituição, que são onerosos. “Tratar de um doente de oncologia custa muito mais do que tratar cinco doentes de uma instituição normal, com outras patologias como a malária”, referiu.
Reconheceu que a instituição tem bons profissionais e que prestam o serviço com profissionalismo. Assim, afirmou que a delegação parlamentar, de que faz parte, solicitará ao Executivo maior investimento para aquela instituição.
Relativamente ao Hospital geral, os deputados constataram haver um médico a cuidar de 25 pacientes. “Entre os doentes vimos parturientes que tinham de ser operadas. Isto é humanamente impossível, porque o médico e o enfermeiro são humanos e chega uma determinada altura em que o corpo fica cansado”, reclamou.
A 10ª comissão da Assembleia Nacional trata de questões relacionadas com os direitos humanos, petições, reclamações e sugestões dos cidadãos.