O especialista em Relações Internacionais, Tiago Armando, alertou que a falta de confiança entre o governo congolês e o movimento M23 pode comprometer o cessar-fogo proposto pelo Presidente João Lourenço, já a partir de ontem, dia 16. Segundo ele, qualquer negociação de paz precisa ser precedida por garantias reais de compromisso, sob o risco de se tornar apenas uma trégua temporária. O analista lembra ainda que a interferência de actores externos e o histórico de descumprimento de acordos dificultam a estabilidade na região leste da RDC
De acordo com o especialista, a mediação do conflito tem pela frente vários desafios estruturais, uma vez que não existe consenso sobre os interesses em jogo nem sobre a legitimidade das forças envolvidas, numa altura em que delegações do Governo congolês e do M23 têm encontro directo previsto para amanhã, em Luanda.
“Todo processo de negociação para a paz deve ser antecedido por um ambiente minimamente estável. Sem isso, os acordos se tornam frágeis. No caso do leste da RDC, a principal questão é que há uma enorme desconfiança entre as partes e uma dificuldade em definir quem realmente deve ser incluído nas negociações”, explicou Tiago Armando.
O analista lembrou que a anterior tentativa de se resolver o conflito, por via do ‘Roteiro de Luanda’, não chegou a alcançar os resultados esperados, em parte porque a implementação das decisões foi dificultada pelas divergências entre os actores envolvidos.
“O roteiro de Luanda previa a mediação do conflito e a normalização das relações entre a RDC e o Ruanda. No entanto, um dos maiores problemas foi a falta de neutralidade percebida por algumas partes, o que fragilizou o papel do mediador e dificultou o cumprimento dos compromissos assumidos”, afirmou.
Já em razão da viabilidade do cessar-fogo, Tiago Armando sublinhou que, mesmo que as armas se calem temporariamente, a paz duradoura dependerá da resolução de questões mais profundas, tais como o papel do M23 no futuro polí- tico e militar do país.