Das 82 empresas de segurança privada funcionais na província de Benguela, 7 devem entre 3 e 28 meses de salário aos seus trabalhadores. Estes, desconhecendo os seus direitos, não fazem greve e muitos temem a prisão, caso os locais que protegem sejam assaltados na sua ausência.
José Gouveia, secretário- geral do Sindicato dos Trabalhadores dos Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Domésticos, Profissões Similares e Actividades Diversas, em Benguela, prometeu, uma vez mais, que a associação iria intervir em prol dos trabalhadores. Porém, “o sindicato muito fala e pouco faz”, defende Manuel Muhongo, representante local da “Organizações Inácio & Filhos”, sediada em Luanda, com cerca de 300 funcionários em Benguela, sendo 4 administrativos e os demais seguranças. Tendo ocorrido um encontro grupal deste sindicato em Dezembro, abordando-se condições laborais, em que o atraso salarial foi tema destacado, Manuel acredita que está na altura de ver resultados por parte da associação que os protege.
Ao invés, mais uma reunião sucedeu em Março, destinada às empresas com atraso salarial de 3 a 28 meses. Actualmente, são 7, dentre as 82 organizações que trabalham no ramo de segurança privada na província. Os convocados, funcionários nestas condições limitantes, têm de fazer das tripas coração para se deslocarem e estarem presentes, declarou Manuel Muhongo, vindos de diferentes municípios de Benguela, sem salários para pagar as despesas de deslocação. OPAÍS soube que a acta da reunião do dia 14 foi distribuída às empresas apenas Terça-feira, dando-lhes o sindicato um mês para pagamento dos salários, contando-se de 2 de Abril a 2 de Maio.
Há mais de dois anos sem salário As 82 empresas de segurança e os 35 sistemas de auto-protecção em Benguela, empregam mais de 9700 homens, em vigilância, segurança privada, somando mais efectivos na província do que a Polícia Nacional. Um desses milhares de seguranças é Avelino Sapalo. Trabalhando sem salário, diariamente, quando sai do posto que guarda, transporta sacos com compras na praça. É assim que sustenta a sua família, esposa e 4 filhos. Avelino tem 29 anos, está no sector de vigilância há 7 anos. A esposa vendia tomates mas, há muito que não consegue dinheiro para comprar a mercadoria. O jovem confessou: “por vezes, passamos fome”. Trabalhou na empresa “Chingango”, até ser alvo de corte, em despedimento colectivo, sem receber 7 meses de salário atrasado.
Depois, começou a trabalhar na “Organizações Inácio & Filhos”, que não lhe paga há 10 meses. Sobre a possibilidade de greve, Avelino diz estar fora de questão pois, na sua ausência, em caso de assalto, “por abandonar, quem vai preso sou eu”, respondeu, temendo pela liberdade, desconhecendo os seus direitos. O secretário do sindicato, José Gouveia, fez saber que, a empresa que tem a maior dívida salarial para com os seguranças chama- se “Dinélia”, localizando-se no município do Lobito. Deve 28 meses de remuneração aos trabalhadores. Outro exemplo gritante, “Consórcio Comandante Loy”, tem dívidas salariais de 17 meses. Na, “Organizações Inácio & Filhos” não remuneram os colaboradores há 10 meses, culpando a Movicel e Angola Telecom, clientes a quem protegem as infra-estruturas.
“A Angola Telecom não paga os serviços”
Palanca Adão, ex-funcionário na empresa de segurança “Chingango”, exerceu a função de supervisor, no município do Lobito, durante 3 anos, até Abril último, quando, sem aviso prévio, foi dispensado pela empresa. Cerca de 88 colaboradores foram demitidos em simultâneo no ano passado. E, na altura do despedimento em massa, a organização devia aos colaboradores 7 meses de salários em atraso. A causa alegada pela entidade patronal terá sido que, a Angola Telecom, companhia que os seguranças protegiam, sendo o único cliente localmente, não pagava à empresa os serviços prestados. Logo, não recebendo pagamentos do seu cliente, a empresa “Chingango” fundamenta não ter meios para pagar aos seus funcionários, prometendo liquidar as dívidas salariais quando a Angola Telecom pagar o que lhe deve.
Assim, passado um ano, desde que os trabalhadores foram demitidos, a 1 de Abril de 2017, ainda não viram a cor do dinheiro que lhes é devido, nem os seus outros direitos foram respeitados. Cessado o contrato de prestação de serviços entre a organização “Chingango” e a Angola Telecom, na província de Benguela, a empresa de comunicações contratou a “Organizações Inácio & Filhos”, para vigilância e segurança das suas instalações. Pelos vistos, mudaram-se os parceiros profissionais, mas os problemas mantêm-se pois, os funcionários da “Organizações Inácio & Filhos” estão há 10 meses sem receber salários, alegadamente porque a Angola Telecom não paga a esse cliente. Desesperados e injustiçados, os trabalhadores dispensados pela empresa “Chingango” pretendem levar o caso ao tribunal. Todavia, há quase dois anos sem obter uma fonte fixa de rendimento, argumentam não ter dinheiro para pagar um advogado.