A Bienal de Luanda, que vai já na sua 3.ª edição, é, na opinião de políticos e especialistas em Relações Internacionais, uma plataforma para a promoção da paz, do diálogo e elevação dos jovens e das mulheres. Para estes, a mensagem de paz do Presidente da República, João Lourenço, constitui um passo importante para o alcance deste objectivo
Para o analista Osvaldo Isata, trata-se de um evento importante que versa sobre matérias de promoção da paz, assim como é também certeiro o discurso do Presidente da República, João Lourenço.
Salientou que, embora o chefe de Estado angolano tenha olhado para os conflitos que acontecem um pouco por todo o mundo, o interesse primário é o continente africano, que acaba por ter o maior interesse geopolítico e geoestratégico e dos mecanismos de segurança, “uma vez que, se tivéssemos o continente estável, teríamos condições muito mais avançadas para olhar para aquilo a que o Presidente fez menção em relação aos conflitos Israel/Palestina e Rússia/Ucrânia”, considerou.
Em relação à vinda de Paul Kagame a Angola, esclareceu que poderá ser um momento em que os dois chefes de Estado vão procurar encontrar um mecanismo propício para que haja, de forma rápida, soluções para o Leste da RDC. Por sua vez, Osvaldo Mboco explicou que a Bienal representa um evento no qual Angola consegue aumentar a sua visibilidade a nível internacional sobre as matérias ligadas à paz e à segurança no continente. Conforme o também docente universitário, este pressuposto demonstra que Angola é um dos principais players, através da diplomacia, no que a resolução dos conflitos diz respeito.
Todavia, esta visão de Angola não se limita apenas na dimensão política, mas também cultural e do intercâmbio. “Portanto, a partir do diálogo que deve existir entre os povos. E este é um dos instrumentos que Angola tem estado a utilizar para motivar o debate sobre questões de paz ao nível continental”, elucidou. Para Osvaldo Mboco, a Bienal de Luanda constitui-se nu- ma plataforma estratégica da promoção do país naquilo que é entendido como um dos Estados construtores da paz ao nível do continente.
Entretanto, explicou que as decisões, ideias e recomendações que são defendidas ao nível da Bienal não possuem carácter jurídico-vinculativo ao nível das organizações, uma vez que este evento é uma organização do Estado angolano em estreita colaboração com a União Africana (UA) e a UNESCO. Todavia, disse, pode-se adoptar os documentos ou relatórios de conclusão das bienais ao nível da UA sobre determinadas matérias, tendo em conta que estes encontros produzem ideias e apontam para possíveis soluções de paz na arquitectura do continente africano.
Quanto à possível vinda, nos próximos dias, do Presidente do Ruanda, Paul Kagame, a Angola, referiu que pode constituir uma lufada de ar fresco na situação no Leste da RDC. Segundo Osvaldo Mboco, o Presidente ruandês é um actor importante para a pacificação da região dos Grandes Lagos e, também, para o Leste RDC. “Dificilmente, participa dos encontros promovidos por Angola, pelo que a sua possível vinda dá um sinal da actividade da diplomacia angolana”, destacou. Ademais, esclareceu que o encontro entre o Presidente João Lourenço e Paul Kagame é um sinal de que Kigali e Luanda não estão distantes um do outro do ponto de vista das aspirações de paz.
“O objectivo é promover cultura de paz em África”
Para o politólogo Francisco Afonso, a Bienal de Luanda tem como objectivo promover a prevenção da violência e dos conflitos, através do intercâmbio cultural entre os países africanos e o diálogo intergeracional. Na opinião deste especialista, este fórum constitui uma plataforma privilegiada de intercâmbio entre diferentes culturas, religiões e modelos sociais, através de sessões interactivas e construtivas para identificar, promover e difundir modelos viáveis e inclusivos de resolução pacífica de conflitos a nível do continente africano, podendo servir como uma referência potencialmente inspiradora para outras regiões do mundo.
Juventude deve ser educada para a cultura de paz
Para o presidente do Partido de Renovação Social (PRS), Benedito Daniel, trata-se de um evento de elevada importância, uma vez que versa sobre as questões da paz no continente, mas também no mundo. Frisou que o evento persegue os ideais dos fundadores das independências das nações africanas, das mulheres e jovens de hoje, virados para a pacificação do continente, promoção da democracia, desenvolvimento e felicidade dos seus povos.
No que ao lema da Bienal de Luanda diz respeito, o líder dos renovadores sociais salientou ser necessário que a juventude seja educada para uma cultura de paz e deve saber que, para a sustentabilidade da economia e dos processos sociais, é necessário que os países estejam em paz. “Qualquer circunstância que possa advir da necessidade ou da falta de educação pode descarrilar para um conflito que pode surgir de questões sociais para depois resultar, mais tarde, em conflitos que podem inflamar e ser armados”, sustentou.
Bela Malaquias defende adopção de lei da paridade do género
Por sua vez, a presidente do Partido Humanista de Angola (PHA), Bela Malaquias, disse olhar para o exercício com alguma expectativa no sentido de que venha a traduzir-se em algo aplicável na prática. A líder dos “humanitários” disse que são realizadas muitas conferências e seminários, mas que raramente saem do papel para a prática.
Já em relação à igualdade do género, um dos temas abordados no segundo painel de ontem, disse tratar-se de abordagens muito teóricas, defendendo, para o efeito, a lei da paridade para que este objectivo se venha a cumprir na íntegra. Para si, sem a Lei, a paridade é letra morta, “porque ninguém vai ser responsabilizado por não ter cumprido esta ou aquela quota”, defendeu.
UNITA considera evento como “gasto vão de dinheiro”
Para o porta-voz da UNITA, Marcial Dachala, o evento é mais uma forma de gasto vão de dinheiro. Um dinheiro que, aliás, segundo o político, deveria ser investido na construção de infra-estruturas sociais como hospitais, escolas e etc., e ainda para a dignificação daqueles que se bateram para o alcance da paz em Angola. Marcial Dachala considera que falar de paz é um exercício que qualquer governo deveria começar por abordar em sua própria casa, com os seus cidadãos.
Ademais, refere que, desde logo, o país compreende, ainda hoje, vários problemas não resolvidos. A título de exemplo, o porta-voz do maior partido na oposição em Angola considera a democracia um objectivo a perseguir, assim como a não institucionalização das autarquias locais, elementos que, em sua opinião, colocam em causa a liberdade do povo angolano.