João Lourenço, que conduziu o debate na qualidade de Presidente em Exercício da SADC, referiu que a região austral enfrenta uma crise humanitária, resultante da seca e das inundações induzidas pelo fenómeno El Niño, que afectou negativamente as vidas e os meios de subsistência de mais de 61 milhões de pessoas na região da SADC.
No entanto, com vista a mitigar as consequências desse fenómeno natural, lançou, por isso, um Apelo Regional no valor de 5,5 mil milhões de USD para apoiar as necessidades humanitárias e a recuperação da resposta a desastres de milhões de pessoas afectadas pela seca e pelas inundações induzidas pelo El Niño na região.
De acordo com o estadista, o Apelo Regional da SADC complementa os esforços envidados pelos Estados-Membros e abrange todos os sectores relevantes da economia da região, a fim de permitir uma abordagem holística para fazer face aos impactos da seca e das inundações induzidas pelo El Niño.
“Visa, essencialmente, dar resposta às necessidades humanitárias imediatas, bem como às necessidades de desenvolvimento e de reforço da capacidade de resistência a longo prazo”, salientou.
O também Presidente da República de Angola, João Lourenço, esclareceu que, ao lançarmos este Apelo, exorta a Comunidade Internacional, o Sector Privado e personalidades de boa vontade para que ajudem a satisfazer as necessidades das populações afectadas.
“A caridade começa em casa, é o que dizemos, pelo que apelo aos Estados-Membros da SADC que tenham capacidade para ajudar os Estados-Membros afectados para que o façam de acordo com a nossa longa tradição de solidariedade e cooperação regional”, apelou.
À imprensa, o Presidente apelou a utilizar o maior alcance e influência para realçar as necessidades das populações afectadas e atrair a atenção da comunidade internacional para a urgência e escala da situação humanitária que a região enfrenta, de modo a ajudar nos esforços de mobilização de recursos para este Apelo.
De referir que as precipitações acima da média já causaram inundações repentinas e deslizamentos de terra em Estados-Membros, como Madagáscar, o Malawi e a Tanzânia.
O ciclone tropical Freddy, que atingiu o Malawi em Março de 2023, afectou dois milhões 267 mil 458 populares, provocou mil 219 óbitos, 659 mil 298 deslocados, cujos custos de recuperação são estimados em mil 147 milhões de dólares, enquanto o ciclone tropical Gamane, que atingiu várias regiões de Madagáscar, abalou 89 mil 465 pessoas de 22 mil 189 agregados familiares, provocando a perda de 19 vidas humanas. O ciclone também forçou 22 mil 615 populares a pro- curarem refúgio em 78 abrigos comunitários.
O fenómeno
Antes, o Presidente da SADC lembrou que, em consequência da seca induzida pelo fenómeno El Niño, as partes sul e central da Comunidade assistiram a precipitações sazonais bem abaixo da média, enquanto as partes central e sudeste da região sofreram condições de extrema seca e aquecimento, por um período de mais de 50 dias consecutivos.
As zonas assoladas por períodos de seca graves tiveram precipitações mais baixas em 43 anos, ou seja, desde 1981. Por outro lado, a análise feita por especialistas em clima revela que, para as partes centrais da região, a estação de chuvas recém-terminada coincidiu com o mês de Fevereiro mais seco em mais de 100 anos, enquanto algumas zonas vivenciaram um dos períodos de chuvas de maior pluviosidade entre o final de Janeiro e o início de Março, causando deslizamentos de terra e danos a culturas agrícolas e a infra-estruturas críticas.
Esta combinação de variados fenómenos meteorológicos extremos, em simultâneo, deve-se às alterações e variação climáticas. Integram a SADC Angola, África do Sul, Botswana, Comores, República Democrática do Congo, Eswatini, Lesotho, Madagáscar, Malawi, Maurícias, Moçambique, Namíbia, Seychelles, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe.
João Lourenço condena tentativa de golpe de Estado na RDC
O presidente da República, João Lourenço, condenou esta segunda-feira, em Luanda, a tentativa de golpe de Estado na Repú- blica Democrática do Con- go (RDC), ocorrida na ma- drugada de domingo último. Ao discursar na abertura da Cimeira Extraordinária Virtual de Chefes de Esta- do e de Governo da Comu- nidade de Desenvolvi- mento da África Austral (SADC), João Lourenço, na qualidade de presidente em exercício desta orga- nização regional, reafir- mou tolerância “zero” contra as mudanças in- constitucionais do poder em África. Disse que estes actos contrariam a Carta da união Africana e os prin- cípios que norteiam a SADC. por isso, o estadista angolano congratulou o facto de a “intentona gol- pista” não vincar e ter vencido a democracia e a vontade popular expressa nas urnas. João Lourenço expressou solidariedade para com o povo congolês que, para além de enfrentar um difí- cil e longo conflito arma- do, acaba de viver este desafio que atentou con- tra as instituições do Es- tado. Várias dezenas de ho- mens congoleses e es- trangeiros, uniformizados e armados, falharam, na madrugada de domingo, a sua tentativa de golpe de Estado para depor o pre- sidente Félix Tshisekedi e instaurar um “novo Zaire” inspirado no regime dita- torial de Mobutu Sese Seco, no final do século passado.