O Presidente da República, João Lourenço, em companhia da Primeira-Dama, Ana Dias Lourenço, rendeu na tarde de ontem, segunda-feira, 7, homenagem a Dom Alexandre Cardeal do Nascimento, cujos restos mortais vão a enterrar hoje, na Sé Catedral, na Cidade Alta, em Luanda.
O Presidente da República apresentou cumprimentos de pesar aos bispos da Conferência Episcopal Angola e São Tomé (CEAST) e aos familiares de Dom Alexandre Cardeal do Nascimento, falecido no dia 28 de Setembro, vítima de doença, em Luanda, aos 99 anos de idade.
No livro de condolências aberto no local, o Presidente da República voltou a elogiar as virtudes do Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, à semelhança do que o fizera já na mensagem endereçada à família no dia da morte do eminente homem de Deus. João Lourenço referiu-se a Dom Alexandre como “filho insigne de Angola”, “homem Bom” e autor de um “percurso de elevada grandeza”.
No mesmo texto, o Chefe de Estado manifestou a convicção de que “serão perpetuados os feitos do servo da Igreja e da Nação que agora nos deixa”, numa confirmação da “nobreza da causa geral que defendeu ao longo da vida, a de disseminar o Bem”.
O prelado católico, natural da província de Malanje, distingue-se não apenas como um homem pregador da palavra de Deus através do Evangelho, como académico, homem de letras e de cultura, mas também como nacionalista que muito contribuiu para auto-determinação do povo angolano.
Relatos apontam que o bispo, paralelamente à actividade cristã e sem imiscuir-se ao que é de “César”, enquanto cidadão, sempre esteve favorável à luta pela independência nacional que veio a ser alcançada a 11 de Novembro de 1975 depois de quase 500 anos de domínio e opressão colonial.
O comunicólogo Celso Malavoneke, afilhado espiritual do Arcebispo Emérito de Luanda, destacou recentemente que era seu apanágio, em relação à filosofia do direito, que os operadores de direito, quer fossem magistrados judiciais quer do Ministério Público, entre outros, utilizassem esse fim para o alcance da justiça e esta, por sua vez, para a paz social.
Sepultamento
Por outro lado, o padre Carlos Catanha explicou que Dom Alexandre do Nascimento será sepultado na Sé Catedral pelo facto de ser um direi- to a si reservado, pois todos os primeiros de Bispos da diocese são sepultados na Sé Catedral.
“Os outros são sepultados em cemitério comum, mas, depois de 5 anos, os restos mortais são sepulta- dos definitivamente igualmente na Sé Catedral”, esclareceu, acrescentado que Dom Alexandre é emérito de Luanda e o 1.º Cardeal angolano. “Esta é uma das razões de ser sepultado na igreja da Sé Catedral e não no Paço, que é a residência oficial do bispo diocesano ou titular.
Percurso
Dom Alexandre Cardeal do Nascimento nasceu a 1 de Março de 1925, e foi ordenado padre em Roma, onde estudou, a 20 de Dezembro de 1952. De regresso a Angola, foi professor de Teologia e jornalista, entre outras missões, antes de ser exilado de Angola em 1961, passando a residir em Lisboa, Portugal.
Dez anos depois, o então sacerdote voltou a Luanda, onde assumiu funções como secretário-geral da Cáritas de Angola e presidente do Tribunal Eclesiástico de Luanda. A 10 de Agosto de 1975, o Papa Paulo VI nomeou-o bispo de Malanje, tendo sido ordenado a 31 do mesmo mês, na Catedral de Luanda.
A 3 de Fevereiro de 1977, foi nomeado para a nova Sé Metropolitana do Lubango, Huíla. A 15 de Outubro de 1982, foi raptado – durante uma visita pastoral – por um grupo de homens armados, que o libertaram a 16 de Novembro seguinte; foi criado Cardeal a de 2 de Fevereiro de 1983 por São João Paulo II.
O Papa polaco nomeou-o arcebispo de Luanda a 16 de Fevereiro de 1986, tendo permanecido nessa missão até 23 de Janeiro de 2001.
Por que o Cardeal deve ser sepultado na igreja Sé Catedral?
À pergunta silenciosa de alguns fiéis e público em geral, o padre Eduardo Firmino, especializado em Direito Canônico ou simplesmente canonicista, como se considera no seio eclesial, disse que é de lei, porque assim reza o ordenamento jurídico da vida interna da Igreja Católica.
“O Código prevê até um cemitério próprio para os fiéis defuntos e os clérigos, uma recomendação que se obedece em alguns países com condições para tal. Antigamente, dizia-se que só os primeiros bispos das dioceses, o Romano Pontífice ou o Papa”, explicou o sacerdote, tendo adiantado que esse preceito foi ‘revogado’ em 1983, pelo Papa João Paulo II.
O Sumo Pontífice promulgou, igualmente, que não se podia enterrar na igreja, a não ser que se tratas- se de Romano Pontífice, cardeais e outros bispos. O padre Eduardo Firmino disse que a tendência de afectar o lado psicológico das pessoas está salva- guardado no facto de a campa não ser tão visível.
“Mas tudo isso é a parte jurídica que se assenta no cânon 1242 do Código de Direito Canónico de 1983”, frisou o clérigo. Do ponto de vista social, o padre sublinhou que a ideia é honrar essas personalidades consideráveis da Igreja Católica pelos seus feitos.