Ao tomar a palavra no palco da maior montra política mundial, referente à 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o Presidente da República, João Lourenço, defendeu a necessidade de revisão da representatividade das diferentes regiões do mundo no Conselho de Segurança do órgão
O Chefe de Estado angolano, João Lourenço, defendeu nesta Quartafeira, 20, durante a 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas, que decorre em Nova Iorque, Estados Unidos da América, a necessidade da reforma no Conselho de Segurança, para que este órgão reflicta a realidade dos tempos actuais.
Neste sentido propôs a necessidade da revisão da representatividade das diferentes regiões do mundo no Conselho de Segurança.
“Neste domínio, no que diz respeito ao continente africano, defendemos o consenso de Ezulwini e a Declaração de Sirte, que estabelecem a necessidade de atribuição à África de assentos como membros permanentes no Conselho de Segurança, com todos os privilégios inerentes à categoria”.
Entretanto, deu nota que nas últimas décadas África testemunhou transformações que galvanizaram mudanças com impacto nas gerações vindouras, sendo que países africanos resolveram conflitos, investiram o que lhes foi possível no desenvolvimento sócio-económico e promoveram a educação dos seus cidadãos, tornando-os mais informados e dispostos a contribuir para o desenvolvimento económico e social dos respectivos países.
As transições democráticas, referiu o Presidente, tornaramse regulares e as instituições essenciais para a consolidação da democracia mais interventivas e, por isso, mais capazes de dar sustentação e solidez às conquistas democráticas alcançadas nessas nações.
Trata-se de um registo que deve ser enaltecido e, por isso, mostrou-se convencido que tudo deve ser feito para que não ocorra um retorno aos modelos que vigoravam antes do advento da democracia em África.
“Contudo, a falta de perspectivas, que se observam em muitos dos nossos países no plano económico e social, cria um terreno fértil para a subversão e para a fragilização das democracias recentes no nosso continente”, lamentou.
Por isso, acrescentou João Lourenço, ser urgente e imperativo que seja concedido apoio real ao desenvolvimento por via do financiamento em condições favoráveis para a construção de infra-estruturas de produção e distribuição de energia eléctrica e de água potável, de vias de comunicação rodoviárias e ferroviárias, de saneamento básico, de construção de escolas, de hospitais, e outras e também no investimento privado directo nas economias africanas, para que África possa passar a ter uma contribuição maior na economia mundial.
“Em África, temos procurado buscar os caminhos que nos levem a sair do estado em que nos encontramos actualmente, como a iniciativa da criação da Zona de Comércio Livre Continental Africana, com mais de mil milhões de consumidores e que constitui, por isso, uma plataforma impulsionadora de progresso do continente”, anunciou.
Mitigação de imigração
Ainda a olhar para o continente africano, o Presidente manifestou a pretensão em atender-se às expectativas dos jovens africanos que se veem forçados a tentar realizar os seus sonhos fora do seu continente em contextos de adaptação quase sempre difícil, para além do elevado risco de vida que muitos deles enfrentam ao fazerem perigosas travessias do Mediterrâneo.
Angola tem-se assumido como promotora do diálogo que, em sua opinião, não se deve limitar aos espaços políticos e diplomáticos, mas abranger também um vasto leque de protagonistas, designadamente organizações da sociedade civil, empresas e indivíduos, cabendo um lugar de destaque à juventude, verdadeira força motora das transformações que almejamos para garantir o progresso das nossas nações.
Foi imbuída deste espírito que Angola decidiu albergar o Fórum Pan-africano para a Cultura de Paz em África, organizado em parceria com a União Africana e a UNESCO, cuja 3ª edição realizar-se-á em Novembro deste ano, em Luanda.
O Fórum, também conhecido como «Bienal de Luanda», constitui uma plataforma privilegiada de intercâmbio entre diferentes culturas, religiões e modelos sociais, através de sessões interactivas e construtivas para identificar, promover e difundir modelos viáveis e inclusivos de resolução pacífica de conflitos a nível do continente africano, podendo servir como uma referência potencialmente inspiradora para outras regiões do mundo.
Paz na RDC
O estadista angolano salientou que Angola tem procurado contribuir com a sua experiência em termos de construção da paz, da harmonia e da reconciliação nacional, para a resolução de conflitos que assolam o continente africano, com especial enfâse para o que ocorre na RDC, em que acredita que se poderá construir uma base de confiança entre os beligerantes, que contribua para um abrandamento da tensão na região dos Grandes Lagos e conduza à tão almejada paz.
Essas diligências, apontou, são para conter a expansão do terrorismo e outras acções de desestabilização.
Porém, implicam custos financeiros que nem sempre os países africanos são capazes de suportar e que, por isso, podem comprometer o sucesso das operações de pacificação que se levam a cabo e deitar por terra as esperanças que se alimentam à volta desses processos.
“É por isso essencial reafirmarmos a necessidade de um financiamento adequado, sustentável e previsível para os esforços na luta contra o terrorismo no continente, pelo que considero oportuno renovarmos o apelo às Nações Unidas, particularmente ao Conselho de Segurança, para a utilização de contribuições fixas para operações de apoio à paz mandatadas pela União Africana”, manifestou.
De salientar que a 78ª Assembleia Geral das Nações prossegue até ao próximo dia 26 deste mês e decorre sob o lema “Reconstruir a Confiança e Relançar a Solidariedade Mundial: Acelerar a Acção no Âmbito da Agenda 2030 e dos seus Objectivos de Desenvolvimento Sustentável Rumo à Paz, à Prosperidade, ao Progresso e à Sustentabilidade para todos”.