O presidente da República, João Lourenço, desloca-se hoje para o Congo Brazzaville, onde se vai encontrar com o seu homólogo Denis Sassou Nguesso, tendo como mote conversações a respeito do golpe de Estado de que foi alvo o presidente Ali bongo Ondimba, no poder há 14 anos
De acordo com comunicado a que OPAÍS teve acesso, sem avançar muitos pormenores da sua deslocação à República do Congo Brazzaville, o esta- dista vai abordar com o seu homólogo os meandros decorrentes da acção militar que tirou de cena Ali Bongo Ondimba, eleito no último Sábado, Presidente do Gabão. No entanto, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, “condena firmemente a tentativa de golpe em curso” no Gabão como forma de resolver “a crise pós-eleitoral”, disse ontem o seu porta-voz, conforme noticia da RTP.
“O secretário-geral está a acompanhar de muito perto a evolução da situação no Gabão. O secretário-geral regista com profunda preocupação o anúncio dos resultados eleitorais no meio de relatos de infracções graves das liberdades funda- mentais”, afirmou Stéphane Dujarric. Guterres “condena firmemente a tentativa de golpe em curso como forma de resolver a crise pós-eleitoral” e “reafirma a sua forte oposição a golpes militares”, acrescentou o porta-voz em comunicado.
O ex-primeiro-ministro português apelou a todos os intervenientes envolvidos para que exerçam moderação, se envolvam num diálogo “inclusivo e significativo” e “garantam que o Estado de direito e os direi- tos humanos sejam plenamente respeitados”. “O secretário-geral apela também ao exército nacional e às forças de segurança para que garantam a integridade física do Presidente da República e da sua família. As Nações Unidas apoiam o povo do Gabão”, conclui o comunicado de Dujarric.
O Gabão enfrenta desde a madrugada da última Quarta-feira um golpe de Estado levado a cabo por militares, iniciado pouco de- pois de terem sido anunciados os resultados das eleições de Sábado, segundo os quais o Presidente, Ali Bongo Ondimba, permaneceria no poder, dando continuidade a 55 anos de domínio do poder pela sua família. Um grupo de militares do Gabão anunciou na televisão o cancelamento das eleições presidenciais que reelegeram Ali Bongo e a dissolução de todas as instituições democráticas.
Depois de constatar “uma governação irresponsável e imprevisível que resulta numa deterioração contínua da coesão social que corre o risco de levar o país ao caos (…) decidiu-se defender a paz, pondo fim ao regime em vigor”, declarou um dos militares. O mesmo militar, alegando falar em nome de um Comité de Transição e Restauração Institucional, disse que todas as fronteiras do Gabão estavam “encerradas até nova ordem”.
De acordo com a agência France- Presse, durante a transmissão televisiva ouviram-se tiros de metralhadoras automáticas em Libreville. A comissão eleitoral anunciou que o Presidente Ali Bongo Ondimba, no poder há 14 anos, tinha conquistado um terceiro mandato nas eleições de Sábado com 64,27% dos votos expressos, derrotando o principal rival, Albert Ondo Ossa, com 30,77% dos votos.