O Presidente norte-americano, Joe Biden, vai deslocar-se para uma visita à República de Angola, no cumprimento de uma promessa feita ao homólogo João Lourenço, aquando da sua deslocação à cidade de Washington, em Novembro do ano passado
O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, poderá visitar Angola nas próximas semanas. A confirmar-se, esta será a primeira deslocação de Joe Biden ao continente africano, e se constituirá na primeira visita de um Presidente norte-americano em solo angolano.
Considerado um dos principais produtores de petróleo do mundo e um país rico em recursos minerais e agrícolas, Angola tem vindo a solidificar a sua relação com os EUA, numa cooperação que já soma três décadas.
No histórico dos presidentes norte-americanos, Barack Obama foi o último presidente dos Estados Unidos a deslocar-se à África subsaariana, em 2015. A visita de Joe Biden à República de Angola é aguardada com expectativas. Políticos e analistas esperam que a mesma possa gerar benefícios mútuos para ambos os países.
Para o porta-voz do maior partido na oposição angolana, Marcial Dachala, a visita de Biden será apenas o cumprimento de uma promessa, lembrando que, a partir do mês de Janeiro, já não será o Presidente dos Estados Unidos da América.
“O estadista pode concordar com várias coisas, mas já não será Presidente. Vem para Angola e terá a oportunidade de ver as coisas que lhe vão mostrar. Seria muito bom que, depois desta visita enquanto Presidente dos Estados Unidos, viesse visitar Angola como turista para descobrir a realidade”, disse Dachala.
Apesar de aguardada com expectativas, a visita de Joe Biden, para o porta-voz da UNITA, não se constituirá numa “varinha mágica” que irá mudar a condição de vida dos angolanos. “Não é por ser a primeira vez que um Presidente dos Estados Unidos vem que isso vai ser logo uma vara mágica que vai fazer com que a nossa vida aqui mude.
Para a nossa vida aqui mudar, é fundamental e é essencial que nós trabalhemos e concordemos entre nós. O esta- dista é bem-vindo a Angola, mas o que é fundamental para o nosso bem-estar é o diálogo e a convergência entre nós os filhos de Angola”, sublinhou.
Angola e EUA com relações mais sólidas
O presidente do Partido de Renovação Social (PRS), Benedito Daniel, entende que a cooperação entre Angola e os EUA foi parar longe, alegando que a mesma foi incipiente por algum tempo, porém, agora se pode considerar que essas relações são cada vez mais sólidas.
“O Presidente João Lourenço foi recebido na sala oval, portanto, os americanos não recebem qualquer presidente na sala oval, e se o fizeram é porque estão conscientes de que existe uma relação muito bem consolidada.
O Presidente Biden virá a Angola, quer dizer que, antes de deixar a Casa Branca, vai deixar o seu legado, e eventualmente venha dizer aos seus sucessores que Angola é um país com o qual de- vem cooperar”, disse, enaltecendo o trabalho da diplomacia.
O líder do PRS entende também que esta visita enquadra-se mais numa relação comercial entre Angola e os EUA, num interesse mais bilateral do que propriamente político.
Benedito Daniel apontou os vários investimentos americanos em Angola, referindo que o Corredor do Lobito é de grande interesse para os americanos, e acredita que seja este o grande interesse que traz Biden a Angola, sem deixar de fora os projectos de energia fotovoltaicos e o gás angolano que também estão sob os auspícios dos americanos.
Melhores condições de vida Quanto ao seu impacto na melhoria da condição de vida dos angolanos, o político referiu que este é um sonho que não deve ser alimentado.
“Esta visita não terá grande impacto na vida dos angolanos, por- que nós nunca ouvimos pronunciamento de algum Presidente dos EUA a chamar a atenção ao Governo angolano pelo facto de o povo angolano estar a passar por vicissitudes de pobreza, isto nunca foi dito”, apontou.
Relançamento das relações estaduais
O especialista em relações internacionais, Mella Bento, acredita na existência de uma vontade norte-americana para que Angola seja, de facto, um bom país para se viver, apesar de reconhecer essa necessidade dos EUA de se afirmar no continente africano, com a celebração de parcerias estratégicas de longo prazo, assente na criação de zonas de influências periféricas, fruto do expansionismo chinês e russo.
Apesar de considerá-la como uma visita de cumprimento de uma promessa do Presidente Biden antes do final do seu mandato, feita ao Presidente João Lourenço, aquando da sua recepção em Washington, o analista disse tratar-se também de uma vista de relançamento das relações estaduais ao mais alto nível, na medida em que será a primeira de um Chefe de Estado da maior potência mundial a Angola.
O especialista espera que a presença de Biden na República de Angola alavanque o investimento norte-americano e simbolize a aceitação da nova opção da política externa angolana, isto é, o estabelecimento de relações estratégicas e privilegiadas com o Ocidente. “Há na diplomacia o princípio da criação de imagem, como substrato para a afirmação dos Estados no concerto das nações.
Portanto, a vinda de Biden dará a Angola o prestígio de ser um Estado da África Austral de significado elevado para os interesses norte-americanos, considerando essencialmente a sua posição geopolítica (acesso ao mar e extenso território) que facilita a ligação com outros pontos do continente e do mundo”, disse Mella Bento.
Por sua vez, Afonso Botáz, também especialista em relações internacionais, considera a visita de Joe Biden como um marco histórico na diplomacia do Presidente João Lourenço, por se tratar da primeira vez em toda história de Angola que um presidente norte-americano pisará em solo angolano.
“Embora a visita de Biden visa reforçar as relações económicas com a Angola, de um outro lado, podemos agora claramente denotar que as viagens diplomáticas do Presidente João Lourenço começam a trazer à tona alguns benefícios tangíveis para o país, sem precisarmos olhar necessariamente para os ganhos económicos”, disse Botáz.
Sublinhou que, com a chegada de Biden a Angola, a imagem do país estará em véspera de melhorias no cenário político internacional, isto desde a ida de João Lourenço à Casa Branca até à vinda do seu homólogo norte- americano a Angola.
Considerou, por outra, que, num cenário geopolítico global em que o sistema internacional tem estado a abanar em função da ascensão de outras potências, como os BRICS, é crucial para os norte-americanos procurarem alargar a sua zona de influência para garantirem a durabilidade da sua hegemonia.
“Nesta conformidade, é fundamental que os países africanos tenham em consciência o ciclo de fases que marcarão essas mesmas relações, lembrando que os Estados, a nível do sistema internacional, não são amigos, porém, têm interesses e agendas pontuais.
Em suma, espera-se que os diplomas que marcarão essas relações possam de facto garantir um benefício multilateral, seja a longo ou a curto prazos”, concluiu.