O partido Zanu-PF, até ontem liderado pelo presidente do Zimbabwe, demitiu Robert Mugabe da liderança e afastou, “para sempre”, a sua mulher
Segundo a BBC, o Comité Central da União Nacional Africana do Zimbabué – Frente Patriótica, que se reuniu ontem de urgência para analisar a crise político- militar zimbabweana, decidiu também nomear como novo líder o antigo vice-Presidente do Zimbabwe Emmerson Mnangagwa, abrindo a porta de saída a Robert Mugabe, não só do partido, mas também da presidência do Zimbabwe. Mas ontem à noite Mugabe, numa comunicação ao país, disse que vai presidir o partido no congresso previsto para o próximo mês, o que adensa ainda mais a situação.
Emmerson Mnangagwa foi afastado do partido há duas semanas. A sua demissão despoletou uma inesperada série de acontecimentos que culminaram, nos últimos dias, numa intervenção militar na capital do país, destinada a evitar que a mulher de Mugabe assumisse o poder no Zimbabwe.
Na reunião do Comité Central, órgão encarregado de tomar as decisões no seio da ZANU-PF, oito dos dez Comités Coordenadores Provinciais do partido manifestaram- se a favor da destituição de Robert Mugabe, devido à “incapacidade” provocada pela idade avançada (93 anos) e lamentaram que toda esta situação tenha criado várias facções internas.
Na abertura da sessão, realizada na sede da ZANU-PF, em Harare, o ministro do Interior, Obert Mpofu, defendeu que, apesar de Robert Mugabe ter desempenhado um papel valioso no Zimbabwe, a mulher e os mais próximos, têm estado a “aproveitar-se” desse facto para se posicionarem na sucessão.
Após a intervenção do exército, centenas de milhar de zimbabweanos saíram desde então às ruas para protestar contra a decisão e contra a manutenção de Mugabe no poder, acções que culminaram no Sábado numa das maiores manifestações de sempre em Harare.
Entretanto, os comandos militares que levaram a cabo a iniciativa, previam receber ontem Mugabe na presidência zimbabweana onde estão instalados.
A decisão tomada na reunião de urgência do Comité Central da ZANU-PF abre, assim, caminho à reintegração de Mnangagwa, que, por sua vez, deverá assumir a liderança de um novo Governo até às eleições gerais de 2018.
Confirmado este cenário, a destituição de Mugabe é o passo seguinte, que terá de ser confirmada pelo Parlamento, medida que o líder parlamentar do maior partido da oposição, o Movimento para as Mudanças Democráticas (MDC), Innocent Gonese, já avançou na casa parlamentar zimbabweana após discutir a questão com a ZANU- PF. “
As conversações de Mugabe com o seu ex-comandante do exército, Constantino Chiwenga,estão na segunda ronda e as Forças Armadas tudo estão a fazer para evitar uma acusação internacional de golpe de Estado, algo que a União Africana (UA) já veio a público defender que não aceitará.
Fontes oficiais de ambas as partes não têm revelado pormenores sobre as negociações, mas os militares parecem querer defender uma resignação voluntária de Mugabe para manter a legalidade na transição política que, inevitavelmente, se seguirá.
A intransigência de Mugabe em deixar o poder tem sido, referem analistas locais e internacionais, uma forma de o Presidente zimbabueano contar com o apoio da UA e da comunidade internacional para preservar o seu legado como um dos líderes da libertação de África, bem como para proteger-se, tal como a família, de possíveis processos judiciais.