Sob o signo “abraçar e perdoar”, a campanha que está a ser levada a cabo pelo Executivo, através da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVI- COP) entregou ontem à família as ossadas do general de exército, Eduardo Ernesto Gomes “Bakalof”, vítima dos conflitos políticos de 27 Maio de 1977
No acto presidido pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Marcy Lopes, além da urna contendo as ossadas, devidamente confrontada com os testes de DNA, feito a alguns membros da família, pelo laboratório central forense de criminalística, foi igualmente entregue certidão de óbito. A inumação acontece nesta Sexta- feira, 17, a partir das 9 horas, no Cemitério da Sant’ana, em Luanda.
O momento da entrega das ossadas ficou marcado por um misto de sentimentos, tendo sobressaltado o conforto, pois a família aguardou por 46 anos para que pudesse viver aquele momento, que não foi possível no passado devido ao contexto da época. De acordo com o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, para se chegar ao momento da entrega das ossadas obedeceu-se a um trabalho cuidadoso do laboratório central forense de criminalidade e de teste de DNA, de alguns elementos da família.
Para o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Marcy Lopes, a história de Angola, sobretudo no período pós- independência, ficou marcada por conflitos políticos que causaram feridas profundas às famílias, com destaque ao 27 de Maio, em cujas circunstâncias o malogrado “Bakalof” encontrou a morte. O governante destacou que a paz que hoje reina no país foi conseguida com o sacrifício de filhos que deram vida pelos seus sonhos e desígnios.
Marcy Lopes reconheceu que o trabalho de localização é árduo e a identificação dos corpos não é tarefa fácil, tendo apelado às famílias das vítimas a colaborar com os médicos forenses na confirmação laboratorial genética, pois o trabalho da CIVICOP vai continuar em toda extensão territorial e os desafios são sensíveis. “Outros casos serão dados igual tratamento, dignidade e respeito às vítimas dos conflitos políticos”, realçou o ministro pedindo paciência às famílias que ainda aguardam.
Família
A filha mais velha do malogrado general “Bakalof, Sónia Francisco, em nome da família, agradeceu o Governo, por depois de mais de quatro décadas de espera e de incertezas ter apresentado o que mais esperava, a localização do corpo que agora está a merecer um óbito digno. “Foi um caminho longo e só fica o sentimento do abraçar e perdoar”, manifestou a filha, com lágrimas nos olhos.
Fundação 27 de Maio
Por sua vez, o presidente da Fundação 27 de Maio, Silva Mateus, congratulou-se com o acto do Executivo porque, segundo disse, os objectivos da agremiação que dirige estão a ser realizados. “Há 22 anos a Fundação já reclamava por funeral condigno dos mortos de 27 de Maio e hoje está a ser materializado”, lembrou, para depois dar a conhecer que neste momento decorre a inserção social de alguns órfãos e viúvas e os sobreviventes também estão a ser inseridos na Caixa Social dos Antigos Combatentes.
O momento da entrega das ossadas do general de exército Eduardo Ernesto Gomes “Bakalof foi testemunhado por familiares, representantes de partidos políticos e da sociedade civil, bem como pelo presidente da Fundação 27 de Maio, Silva Mateus. De recordar que a CIVICOP foi criada por Decreto Presidencial, em Abril de 2019. A referida comissão tem por missão elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos ocorridos em Angola, no período de 11 de Novembro de 1975 a 4 de Abril de 2002, no âmbito da unidade e reconciliação nacional.