Inicia, hoje, oficialmente, a visita de Estado a Angola do Presidente zambiano, Hakainde Hichilema, que já está na capital angolana desde o princípio da tarde de ontem. O estadista traz na bagagem a necessidade do reforço da cooperação e ganhos comuns entre os dois países que mantêm relações históricas
A convite do seu homólogo João Lourenço, a visita de Hakainde Hichilema em Angola reabre uma nova era na cooperação bilateral entre os dois países que mantêm laços históricos nos mais variados domínios. Angola e a Zâmbia partilham laços de sangue entre os seus povos e que foram estabelecidos antes mesmo do nascimento dos próprios Estados.
A título de exemplo, a Zâmbia é um dos países que acolhe a maior diáspora angolana no estrangeiro, sendo que muitos angolanos foram lá parar no quadro da luta de libertação nacional e na sequência da guerra civil que Angola atravessou durante décadas.
No quadro desta mobilidade, muitos regressaram a Angola depois do alcance da paz, em 2002, mas outros tantos continuam a viver na Zâmbia com o estabelecimento de ligações fortes e históricas. A Zâmbia marcou, igualmente, um papel preponderante no processo de conquista de paz com o estabelecimento e a assinatura dos Acordos de Lusaka, em Novembro de 1994.
Entretanto, a visita de Hakainde Hichilema acontece cinco anos depois de o Presidente da Republica, João Lourenço, ter efectuado uma deslocação a Zâmbia em Maio de 2018, o que permitiu a assinatura de vários acordos. Já nesta sua deslocação a Luanda, Hakainde Hichilema traz na bagagem, entre várias preocupações, o interesse pelo corredor do Lobito e a construção da futura autoestrada que vai ligar o seu país com Angola.
Vantagens mútuas
Do ponto de vista da parceria estratégica, em declarações a OPAIS, o especialista em relações internacionais Matias Pires entende que os dois países poderão tirar vantagens mútuas com a visita de Estado de Hakainde Hichilema. No campo económicos, Matias Pires referiu que a Zâmbia tem uma forte tradição em termos de extracção mineira, sendo que é o segundo maior produtor africano de cobre depois da República Democrática do Congo (RDC).
Da parte angolana, frisou que a Zâmbia pode aproveitar o corredor do Lobito, quer o seu porto como os caminhos de ferro, para servir de canal de escoamento de equipamentos e produtos. Quanto à construção da autoestrada, que vai ligar os dois países, o especialista entende que a mesma deverá constituir, assim, numa base importante no processo de integração e intercâmbio social entre os Estados. “Nós, em África, temos dificuldades de integração, que é causada pela falta de infraestruturas. E isso remete-nos a viver em ilhas, de modo a que uma infraestrutura dessa, como é o caso da autoestrada, poderá estimular a circulação de um lado para o outro”, apontou.
Negócio do petróleo
Por outro lado, Matias Pires disse que Angola tem ainda o petróleo que muito interessa o país vizinho. Para o especialista, Angola está a construir três refinarias, nomeadamente em Cabinda, Soyo e Lobito, que podem servir de uma mais-valia para a Zâmbia. A fonte entende que, ao invés de este país comprar o petróleo noutras paragens, poderá, com a finalização das três refinarias, socorrer-se de Angola.
Paz e segurança
Quanto às questões de paz e segurança, Matias Pires sublinha que os dois Chefes de Estado deverão passar em revista os grandes temas da actualidade mundial e regional. Ao nível regional apontou os desafios da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), em que os dois países são membros. Nesta região, existe a instabilidade no leste da República Democrática do Congo e também a situação de terrorismo em Cabo Delgado, em Moçambique.
Por dentro da visita
A visita de Estado, de 72 horas, de Hakainde Hichilema, prevê um encontro com o seu homólogo, João Lourenço, e uma deslocação ao Memorial Dr. António Agostinho Neto, onde fará a deposição de uma coroa de flores. O estadista tem ainda programada uma visita à província de Benguela para tomar contacto com as potencialidades económicas daquela região
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