A decorrer sob o lema “ MPLA, Servir o Povo e fazer Angola Crescer”, o MPLA, partido no poder, está a realizar, desde ontem, de Dezembro, o seu 8.º Congresso Extraordinário, cujo encerramento está marcado para hoje.
O evento, que reúne em Luanda os delegados provenientes de vá- rias partes do país, vai debater e aprovar a tese “MPLA – Da Independência aos Nossos Dias – Os Desafios do Futuro” e vai ainda fazer ajustamentos aos estatutos do partido, algo que acontecerá pela sexta vez num Congresso Extraordinário.
O presidente do partido, João Lourenço, considerou, no discurso de abertura, que tudo isto demonstra a capacidade que o MPLA tem em acompanhar e permanentemente se adaptar à dinâmica da própria vida interna do partido, da sociedade e da conjuntura internacional.
“O MPLA tem um grande percurso de lutas e de vitórias, que remontam à luta clandestina nas cidades e vilas, mobilizando os angolanos para a luta contra o regime colonial português”, disse, apelando aos militantes a primarem pela necessidade do reforço da organização e unidade internas, assim como por uma maior inserção do partido na sociedade angolana.
João Lourenço lembrou, no seu discurso, das batalhas que o par- tido teve que travar juntamente com os povos irmãos da Guiné- Bissau e Cabo Verde, de Moçambique e das forças antifascistas portuguesas, para, finalmente, derrubar o regime colonial fascista, a 25 de Abril de 1974, em Portugal.
O líder do partido dos Camaradas afirmou que tinha sido o MPLA quem tinha um programa de luta unificador e com abrangência verdadeiramente nacional, aquele que teve a capacidade de mobilizar compatriotas de todas as origens, de Cabinda ao Cunene, do litoral ao leste, camponeses, operários e intelectuais à volta de uma mesma causa (a da libertação nacional).
Coube-lhe igual- mente a responsabilidade de pro- clamar a Independência Nacional, na voz do Presidente António Agostinho Neto, aos 11 de Novembro de 1975. “Com o MPLA, o país soube manter a soberania nacional frente às investidas dos invasores externos, que acabariam por ser definitivamente derrotados na histórica batalha do Cuito Cuanavale, aos 23 de Março de 1988, abrindo o caminho para a proclamação da Independência da Namíbia e a queda do regime do Apartheid e a consequente implantação de um regime de democracia multipartidária na África do Sul”, sublinhou.
Falando ainda das conquistas e honras do MPLA, João Lourenço referiu que foi com este parti- do, sob a liderança do Presidente José Eduardo dos Santos, que se pôs fim à guerra, se alcançou a paz definitiva e se deu início ao processo de reconciliação nacional, que apelou que deve ser contínuo.
Reconstrução nacional
Sublinhou que, com o MPLA à frente dos destinos da nação, o país conhece hoje um grande programa de reconstrução nacional e construção de novas infraestruturas como portos, aeroportos, estradas, barragens hidro-eléctricas, parques foto- voltaicos de energia solar, linhas de transmissão, estações de captação e adução de água, estabelecimentos escolares e hospitalares em todo o país e de todos os níveis.
Avançou que, com o MPLA, o calvário das populações da Huíla, do Cunene e do Namibe, devido aos efeitos da seca severa e cíclica que vem há anos assolando aquela região, está em vias de terminar com a construção das barragens e canais de água, no quadro do amplo Programa de Combate aos Efeitos da Seca no Sul de Angola (PCESSA).
“É o MPLA que está a combater de facto a corrupção e a impunidade, a criar um bom ambiente de negócios, a diversificar a nossa economia, a aumentar a produção interna de bens e serviços, a atrair o investimento directo estrangeiro em vários sectores da economia e a fomentar o turismo”, disse.
Abertura ao mundo
No quadro da diplomacia, João Lourenço enalteceu também os esforços do partido, alegando que, com o MPLA, o país está cada vez mais aberto ao mundo, com uma diplomacia pujante, com maior credibilidade junto das instituições financeiras e de crédito internacionais.
Apontou como exemplo a recente visita do Presidente dos Esta- dos Unidos da América, Joe Biden, o que considera ter deixado os angolanos orgulhosos pelo que vai significar para a imagem de Angola e pelas perspectivas de atracção de investimento privado estrangeiro, bem como a possibilidade de os empresários angolanos investirem no mercado americano.
Disse que o engajamento e financiamento americano no Corredor do Lobito, uma infraestrutura mais segura, rápida e barata de transporte, logística e do comércio mundial, vai contribuir para a segurança alimentar, para a transição e segurança energética mundial e, consequentemente, para o combate às alterações climáticas e suas consequências.
Garantir o bem-estar social
Como partido no poder, João Lourenço garantiu que o MPLA vai trabalhar mais nos próximos anos para garantir maior oferta de energia e água potável para os cidadãos e as indústrias, mais habitação construída por todos os agentes, o Estado, o sector privado, as cooperativas e os próprios cidadãos, através da auto- construção dirigida.
Defendeu a necessidade de se manter o esforço contínuo na construção de estradas e de se prestar particular atenção à agricultura, às pescas, à indústria e ao turismo, para assegurar uma maior oferta de bens e de serviços, mas também de postos de trabalho.
“Para garantir o desenvolvimento do país nas próximas décadas, devemos fazer um esforço maior com a educação e a formação de quadros nos diferentes domínios do saber, da ciência e da tecnologia”, avançou
Transição energética
João Lourenço defendeu a necessidade de cada país fazer a sua parte, como contributo ao esforço global, destacando que Angola continua atenta aos problemas que afectam toda a humanidade, nomeadamente os que se prendem com as alterações climáticas e suas consequências globais sobre a vida dos povos e das economias dos países.
Referiu que Angola está a mudar a sua matriz energética, fazendo a transição que se impõe, com a redução do consumo de combustíveis fósseis na produção de energia, privilegiando a energia de fontes limpas, como a hidro- eléctrica, a solar e a de biomassa, esta última ainda em carteira. Fez saber que o país já produz 65 por cento da energia dessas fontes amigas do ambiente, com tendência a aumentar logo que tiver a energia da rede nacional a interligar o Gove à Matala, Belém do Huambo ao Lubango, Ondjiva e Moçâmedes, assim como Malanje a Xá-Muteba, Saurimo, Dala, Luena e Dundo.
Estabilidade nos Grandes Lagos
No que respeita à paz e estabilidade na Região dos Grandes Lagos, João Lourenço assegurou estarem a trabalhar arduamente pelo fim do conflito na região, que opõe a RDC ao Ruanda e desestabiliza toda região rica em recursos minerais que, numa situação de paz, deviam contribuir para o desenvolvimento económico e social daqueles países.
Apelou ainda às autoridades governamentais, aos partidos políticos e à sociedade civil de Moçam-bique a trabalharem para encontrarem as melhores soluções com vista a ultrapassar a crise pós- eleitoral que surgiu e que afecta a paz e segurança, a integridade física dos cidadãos e a economia moçambicana e dos países limítrofes.
“A situação no Sudão estará no topo das prioridades da minha agenda, logo que assumir a Presidência da União Africana, em Fevereiro de 2025”, afirmou, sublinhando que esta situação explosiva que o mundo vive justifica cada vez mais a premente necessidade de reformas do sistema das Nações Unidas, particularmente do seu Conselho de Segurança, que já não reflecte a realidade actual, daí a sua inoperância perante o agravar dos conflitos que podem levar a uma confrontação de consequências imprevisíveis para a paz e segurança universal.
Paz mundial Ainda no seu discurso, João Lourenço lamentou o facto de a paz e a segurança mundiais estarem cada vez mais ameaçadas com as guerras, terrorismo e mudanças inconstitucionais que proliferam em África, na Europa e no Médio Oriente. Defendeu a necessidade de se pôr fim à guerra contra a Ucrânia e a ocupação e anexação de seus territórios, apelando para maiores esforços para que se alcance a paz pela via negociada, como terminam todas as guerras no mundo.
Apelou mais uma vez à necessidade da libertação dos reféns israelitas e ao fim do genocídio contra o povo palestino na Faixa de Gaza e dos colonatos na Cisjordânia. “Ninguém pode negar ao povo palestino o direito inalienável de viver em paz na sua própria terra, devendo ser desencoraja- da qualquer tentativa de expulsão dos seus cidadãos para países vizinhos”, apelou.