O analista político Luís Jimbo considera benéfico para Angola o envio de forças militares à RDC, no âmbito do seu esforço de trabalhar para a paz e estabilidade na Região dos Grandes Lagos, mas alerta para a necessidade de se rever a sua metodologia de intervenção no conflito
O Presidente da República, João Lourenço, na qualidade de Comandante em Chefe das Forças Arma- das Angolanas, vai solicitar a autorização da Assembleia Nacional para o envio de um contingente militar à República Democrática do Congo (RDC) no quadro do pro- cesso de paz. Na sequência, a Assembleia Nacional agendou para o dia 17 deste mês a discussão desta solicitação do Presidente da República.
Relativamente a esta solicitação para o envio de forças militares à RDC, o analista político Luís Jimbo afirma que o Presidente João Lourenço, enquanto mediador, já conquistou o reconhecimento e o elogio da comunidade internacional, e até a aceitação e a credibilidade do Governo da RDC e do M23, que representam as partes em conflito.
Luís Jimbo entende que isto é benéfico para Angola, no âmbito do seu esforço de trabalhar para a paz e estabilidade na Região dos Grandes Lagos, mas alerta para a necessidade de Angola rever bem a sua metodologia de intervenção, para não fazer com que o media- dor perca o mérito e a confiança já conquistados. Apesar de considerar fundamental a intervenção de Angola, enquanto mediador, o especialista defende a necessidade de continuar a manter uma postura de não interferência directa nas partes em conflito.
Disse que é preciso ter em conta alguns aspectos fundamentais, tais como definir primeiramente a sua metodologia entre as diferentes forças de intenção, isto é, entre a força de manutenção de paz e a força de intervenção de paz. “A força de manutenção de paz representa militares, mas que não têm o direito de disparar ou fazer guerra.
São forças que estarão ali para assegurar as zonas de aquartelamento e de transição para os veículos humanitários passarem e para que as populações fiquem asseguradas. Já as forças de intervenção de paz, estas podem mesmo intervir, no sentido de impor, por via da força, a segurança. Estas forças podem militarmente intervir para repor uma situação imediata”, explicou.
Sublinhou que Angola ao adoptar qualquer uma dessas forças, o Presidente da República, na qualidade de mediador, vai naturalmente ter consequências positivas ou negativas. “Por exemplo, se as forças de intervenção da paz exercerem uma acção em que o M23 reivindica que a mesma acção favoreceu o Governo da RDC, naturalmente que a liderança do M23 vai deixar de acreditar no mediador. São estas as consequências que têm que se ver”, salientou.
Avançou que Angola pode enviar as forças militares, mas é preciso que este envio seja no quadro da intervenção da União Africana (UA), visto que esta organização continental tem um mecanismo de intervenção de forças de manutenção de paz. Outro aspecto que considerou importante no âmbito deste envio é o de haver primeiro um cessar-fogo para se assegurar com eficiência as zonas de aquartelamento.
“Neste preciso momento, as forças no terreno estão em guerra, naturalmente não podemos enviar forças de manutenção de paz num contexto em que há guerra aberta. Neste caso, Angola deve juntar- se aos outros Estados que têm esta responsabilidade no âmbito do acordo e do Roteio de Paz de Luanda”, avançou. Também considerou fundamental que esta intervenção de Angola tenha a aceitação, não só do Governo da RDC , mas também do Governo do Ruanda para não se criar outras situações inamistosas, tal como já aconteceu no passado.
Referiu que as boas relações económicas também são fundamentais para se manter a paz entre os povos, e pede neste sentido para que Angola aproveite a oportunidade de mediador para impulsionar a paz pela via da prosperidade económica, no âmbito dos instrumentos da União Africana que facilitam as trocas comerciais entre os povos. “É fundamental distinguir a nossa metodologia e a nossa responsabilidade enquanto mediadores e enquanto facilitadores na manutenção de paz.
Temos que pensar que a paz se mantem com boas relações económicas e o Presidente João Lourenço tem que aproveitar esta ocasião de mediador, daquele que está a trabalhar para que a paz na Região dos Grandes Lagos seja um facto. Tem que aproveitar este momento para engajar o sector empresarial, as empresas públicas, os Estados para estabelecer negócios, principalmente no sector mineiro e petrolífero, para que a paz seja duradoura pela via da prosperidade económica”, concluiu.