A cooperação bilateral em domínios como o comércio, investimento, clima e energia, e de modo muito particular o desenvolvimento do Corredor do Lobito, serão os temas dominantes do encontro que os Presidentes João Lourenço e Joe Biden vão manter na Casa Branca, Washington, no dia 30 do corrente mês
Segundo uma nota de imprensa, a que OPAÍS teve acesso, o encontro de Quinta-feira entre os Presidentes de Angola e dos EUA confirma o interesse dos dois países na consolidação de uma parceria estratégica para lidar com os desafios regionais e globais. Solicitado a analisar o encontro, o presidente da Câmara de Comércio Angola-EUA, Pedro Godinho, afirmou que servirá apenas para consolidar a cooperação existente, uma vez que o EUA já começou a injectar dinheiro no nosso país.
Citou como exemplo os investimentos americanos que estão a ser realizados em projectos como os das energias renováveis e no Corredor do Lobito, que ligará Angola, República Democrática do Congo e Zâmbia. Fazendo uma análise sobre os níveis de cooperação entre os dois países desde a saída da Administração Trump, Pedro Godinho afirmou que Angola nunca tinha tido um grande advogado no mundo, senão o Presidente Biden. “Angola conseguiu conquistar e ter à sua disposição um dos maiores advogados do mundo que é tão-somente o Presidente dos EUA”.
Para sustentar a sua tese, recordou que em 2022, na Ale- manha, aquando da reunião do G7, o Presidente Joe Biden veio publicamente reconhecer que o seu país estaria a apoiar Angola e que já tinham aprovado um pacote de 2 biliões de dólares para, naturalmente, consolidar a sua situação financeira e fazer investimentos em energias renováveis.
Enfatizou ainda no dia 8 de Novembro, afirmando, numa entrevista, que “os EUA estavam interessados em ajudar o nosso país no sentido de se tornar uma das maiores potências em África”. No seu ponto de vista, estes factos estão entre os sinais de que este encontro entre os dois Chefes de Estado já era de se esperar e poderiam acontecer a qualquer momento. “Portanto, está de parabéns o Presidente João Lourenço. Foi naturalmente persistente e esteve sempre focado nestes objectivos que é de aproximação e consolidação das relações entre os EUA e Angola”, frisou, acrescentando que “é uma estratégia inteligente”.
Questionado sobre as razões que estiveram na base deste encontro, Pedro Godinho apontou as reformas que estão a ser levadas a cabo pelo Presidente da República, desde 2017, tendo como sustentáculos a transparência, o combate à corrupção, a igualdade do género e a política de respeito aos direitos humanos. “Já em 2018, quando a AmCham organizou pela primeira vez um evento com sua Excelência Presidente da República, eu conclui, em função das linhas mestras por si apresentadas, que tinha conquistado os corações do tecido empresarial americano”, frisou.
De acordo com o nosso interlocutor, desde aquele ano que o Chefe de Estado foi sempre trabalhando e, com a mudança de governo nos Estado Unidos da América, Angola passou a ser uma aposta de Joe Biden. Por outro lado, Pedro Godinho entende que Angola precisa de consolidar as relações com aqueles países com poder económico e um nível de desenvolvimento fora do normal.
Oportunidade de investidores americanos explorarem outros sectores, segundo especialista
O analista de política internacional, Osvaldo Mboco considera que com o encontro entre os dois Chefes de Estados abre-se a possibilidade de os investidores norte-americanos explorarem, em Angola, outros sectores além do petrolífero, como são os casos das telecomunicações, banca, agricultura e agropecuária. Para o entrevistado, será positivo caso se façam investimentos nos sectores acima mencionados e não só, porque podem ser determinantes nesta fase em que o Estado angolano procura diversificar a sua economia. “É importante fazer aqui uma referência que quem é o maior investidor de Angola é os Estados Unidos da América, pese embora esse investimento seja muito mais em volta no sector petrolífero”, frisou.
Em termos políticos, Osvaldo Mboco disse que tal encontro é uma demonstração clara do reconhecimento do governo angolano por parte dos Estados Unidos da América, do ponto de vista daquilo que são as reformas que o país tem estado a levar a cabo. Afirmou ser de domínio público que, via de regra, os Presidentes americanos ao receberem um presidente na sala oval é uma espécie de certificação ou então de um crivo de reconhecimento da governação deste Estado. “Claramente que há uma demonstração clara de que há uma satisfação por parte do governo americano daquilo que são os aspectos internos e externos que o Estado Angolano tem estado a fazer e também de um certo alinhamento estratégico neste sentido”, frisou.
No seu ponto de vista, este encontro poderá abrir a possibilidade de se explorar outros sectores, isto porque os empresários americanos poderão olhar para o Estado Angolano como um estado bom para se fazer negócio. Não simplesmente devido ao encontro, mas também porque o Estado angolano tem estado a fazer determinadas reformas estruturais e estruturantes para melhorar o ambiente de negócio.
Osvaldo Mboco disse que, embora essas reformas não se tenham constituído num elemento de- terminante para atrair investidores, mas ainda assim o facto do Estado angolano estar a adoptar reformas de maior transparência, das regras de compliance e a adoptar uma série de medidas de práticas internacionais pode de facto suscitar interesse por parte dos vários empresários americanos em trabalharem com o Estado angolano. O especialista apontou ainda o combate à corrupção e a melhoria do ambiente de negócio e das infraestruturas de apoio ao próprio comércio como factores que podem contribuir neste sentido