Ao discursar na abertura do evento, em representação do Presidente em exercício da União Africana, Mohamed Ould Ghazouani, o estadista angolano afirmou que a agricultura, além de ser uma actividade económica vital, é a chave para o progresso das populações africanas.
João Lourenço defendeu a necessidade de se rever o trabalho realizado desde a adopção da Declaração de Maputo (2003) e da Declaração de Malabo (2014), e reconheceu que o continente está ainda distante de atingir os compromissos estabelecidos.
João Lourenço, que no próximo mês de Fevereiro assume a presidência rotativa da União Africana, defendeu a aprovação de uma nova Estratégia e Plano de Acção (2026-2035) que sirvam como roteiro claro com vista a transformar os sistemas agroalimentares do continente.
“No encontro de hoje, devemos encontrar consensos que nos permitam corrigir os erros do passado e tomar decisões que nos conduzam à eliminação da fome, à redução da pobreza e à promoção da segurança alimentar em África”, afirmou.
O Chefe de Estado angolano referiu, também, que os objectivos traçados de- vem estar alinhados às Agendas 2030 e 2063, visando transformar o continente como exemplo de resiliência e desenvolvimento no mundo.
Compromisso com recursos e inovação
Um dos pontos altos do discurso de João Lourenço foi o apelo para que os Estados-membros cumpram o compromisso de se alocar pelo menos 10 por cento dos orçamentos nacionais à agricultura, conforme estipulado na Declaração de Malabo.
Por outro lado, João Lourenço destacou que, para alcançar a autossuficiência alimentar, é necessário priorizar investimentos em fertilizantes, mecanização agrícola, infra-estruturas rurais e sistemas de irrigação.
“Precisamos de uma agricultura moderna, com altos níveis de produtividade, competitiva e capaz de exportar para mercados externos”, frisou o Presidente, sublinhando, ainda, a importância de se acelerar a certificação de sementes e a produção local de adubos e vacinas.
João Lourenço reconheceu ainda o papel das iniciativas ambientais e de restauração ecológica, como a Muralha Verde Africana, no combate à desertificação e na regeneração dos solos degradados. “Estes projectos são essenciais com vista a mitigar os impactos das alterações climáticas e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações”, afirmou.
Inclusão e parcerias
O Presidente de Angola defendeu a necessidade de uma abordagem inclusiva, que empodere jovens e mulheres como agentes funda- mentais no sector agrícola. Aliás, elogiou a colaboração de instituições africanas, como a Akademyia 2063 e a Policy Link, bem como o trabalho da Comissão da União Africana e da AUDA-NEPAD, pela dedicação à implementação de políticas agrícolas inovadoras.
“A transformação da agricultura em África depende de um esforço colectivo entre governos, sector privado, sociedade civil e nossos parceiros de desenvolvimento”, declarou. Outrossim, apelou à unidade dos líderes africanos para quebrar o ciclo de incumprimentos das metas previamente estabelecidas.
Um futuro de esperança
João Lourenço terminou o discurso com uma mensagem de optimismo, exortando os líderes a colocarem a agricultura entre as mais altas prioridades nacionais. “Ao dar prioridade à agricultura, estamos a investir no nosso povo, a criar empregos, a capacitar os nossos jovens e mulheres, e a abrir oportunidades para as futuras gerações”, disse, para depois reforçar que as decisões tomadas na Cimeira de Kampala devem representar um ponto de viragem para o continente.
“Juntos, podemos construir uma África resiliente, próspera e livre da pobreza e da fome. Devemos avançar com determinação e união para alcançar a África que todos desejamos.”
Os líderes africanos esperam que a Declaração de Kampala e o Plano de Acção para 2026-2035 estabeleçam uma base sólida para transformar a agricultura e posicionar o continente como motor do crescimento económico e social africano e mundial.
Visita à Brazzaville
Depois de discursar na Cimeira de Kampala, João lourenço seguiu para Brazzaville, capital da república do Congo, numa visita de trabalho de 48 horas, onde se reuniu com o presidente Denis Sassou Nguesso para discutir questões bilaterais e a segurança regional.
Depois do encontro, o Chefe de estado angolano participou de um jantar oficial oferecido pelo seu homólogo congolês no palácio presidencial e ontem, domingo, o esta- dista desembarcou no aeroporto internacional 4 de fevereiro onde foi recebido pela Vice-presidente da república, esperança da Costa, por membros do executivo e do seu gabinete.