As fundações, por serem pessoas colectivas privadas de tipo funcional, criadas por iniciativa própria e ou particular, actuam no sector social, cultural, sanitário, ambiental, educacional, no desporto e outras áreas afins.
Por serem constituídas sem fins lucrativos e com o propósito de se darem a conhecer do ponto vista moral, de justiça e de solidariedade, formam cidadãos em várias vertentes, geram emprego e estimulam o voluntariado.
É preciso não perder de vista que as fundações contribuem para a efectivação dos direitos dos cidadãos, porque, mesmo sendo de índole privada, o seu substrato é sempre o interesse público. Tal como noutras paragens, para a realidade angolana, elas são uma espécie de instituição particular de solidariedade social, obedecendo à lei, estatutos e outras normas que as conformam.
Em razão disto, é importante levar ao conhecimento do público a natureza de actuação das fundações, pois têm dimensão nacional e internacional e se relacionam abertamente com as instituições públicas. Longe do que se pensa, as fundações em Angola têm dado um contributo significativo em vários domínios, sendo que umas são de utilidade pública e outras caminham para o efeito.
Apesar disto, não cruzam os braços e, com os patrocínios que recebem, segundo as que foram ouvidas pelo jornal OPAÍS, fazem da contabilidade regra de ouro para se manterem de pé. Em regra, as fundações são compostas por voluntários e colaboradores eventuais que normal- mente se juntam à mesma causa e dão o seu melhor para ajudarem os mais necessitados.
O impacto e o trabalho do “terceiro sector”, entre todas as conclusões, focam-se no amor ao próximo e na ideia de se materializar a equidade, cuja luta é acabar com as assimetrias. Por isso, a fundação Obra Bella, Arte e Cultura, Lwini e BAI continuam, com as suas tarefas filantrópicas, a afastar o homem do obscurantismo e a transformá-lo para um mundo cada vez melhor onde quer que seja, sem esquecer que este jornal bateu a porta de outras, mas sem sucesso.
Fundação Obra Bella com pontos de realce no Rangel
A fundação Obra Bella, cujo raio de acção é o distrito urbano do Rangel, em Luanda, foi criada no ano 2000 e trabalha sob o lema “Identidade, solidariedade e desenvolvimento”.
A partir do seu escritório, na Praça da Harmonia, a direcção cria as condições administrativas e “operativas” para promover e melhorar a imagem do distrito, à luz de projectos no sector da educação, saúde, desporto e cultura que faz parte da sua linha orientadora há mais de duas décadas.
Por conta disto, o porta-voz da fundação Obra Bella, Carlos Pombal, referiu que, com o surgimento deste “terceiro sector”, o bairro e arredores vão dando passos significativos. Aliás, a comunidade continua a dar passos significativos em vários domínios, porque a ideia é cada vez mais ser solidário com quem não tem alguma coisa para desenvolver.
“Com a Obra Bella, já tiramos muitas crianças fora do sistema de ensino, da delinquência, do mundo das drogas, das ruas, sendo certo que também já formamos muitos jovens para Angola e o mundo”, admitiu o responsável. Carlos Pombal adiantou que a fundação, em parceria com a Organização Não Governamental (ONG) Acção Humanitária Angola Unida (ACHAU), realizaram vários projectos.
Assim, quatro escolas primárias de raiz foram construídas, duas escolas primárias foram reabilitadas e uma escola primária foi ampliada e também reabilitada no âmbito da inclusão de meninos no sistema de ensino.
Com base na sua carteira de projectos, a fundação Obra Bella instituiu o prémio para o melhor professor do município do Rangel, assim como do aluno mais destacado durante o ano lectivo.
O Programa Malária Zero, com o reperfilamento das valas de drenagem e campanhas de fumigação, Núcleo de Ciclismo, Mais Higiene e Saneamento para melhor qualidade de vida, Meu Chão está limpo, minha rua tem Beleza, Jornadas de Harmonia, Corrida bebés do Rangel e aspectos programas culturais realizados na Casa de Cultura Njinga Mbandi.
Quanto ao desporto e lazer, a fundação também criou e reabilitou campos multiúsos, meias-quadras de jogos, parques infantis, jardins, jangos e, ainda assim, o fluxo mensal ultrapassa os mais de mil utentes.
Fundação Arte e Cultura enraizada na Ilha de Luanda
Na Ilha do Cabo, em Luanda, mais do que fazer praia e saborear um peixe grelhado, aspectos de natureza social e inclusiva para os cidadãos são desenvolvidos pela fundação Arte e Cultura.
A organização, sem fins lucrativos, foi fundada em 2006 por Haim Taib, que, depois do conflito armado que assolou Angola, pensou unir os angolanos por via das artes e da cultura. Em razão disto, o director adjunto da fundação, Xavier Narciso, em conversa com o jornal OPAÍS, adiantou que a cultura é um veículo que ajuda as pessoas a se conectarem.
Xavier Narciso disse que a Arte e Cultura, cujos patrocínios são do grupo Mitrelli, dividiu-se em três sectores, os quais estão a Escola de Arte, Centro Cultural e a Área Social. Assim, a escola conta com crianças, desfavorecidas das cercanias da Ilha do Cabo e de rua, que diariamente aprendem disciplinas artísticas, como o canto, piano, dança, ballet e outras.
Numéro de crianças na escola: 900
“As crianças não pagam pelo aprendizado, aliás, somos parte da responsabilidade do projecto e um grupo de empresas do grupo Mitrelli”, adiantou o responsável adjunto da fundação. Quanto ao centro, a galeria Tamar Golan tem um anfiteatro, o Wiza, e promove também o cinema nacional com metragens de produção nacional em momentos devidamente programados.
Xavier Narciso fez saber que há também noites de poesia em que artistas e grupos de jovens e escritores já experimentados participam desses momentos e sempre com vontade de transmitir aos mais novos talentos. Artistas como Raquel Dalomba, José Luís Mendonça e outros já foram homenageados nesse espaço de cultura, porém, sem esquecer as frequentes exposições de obras de arte.
O escritor Fragata de Morais será o próximo homenageado. Por último, a área social ocupa-se de artes e ofícios e promove e encoraja, dentro da comunidade, a sustentabilidade proactiva à luz de novas formas de auto-financiamento. Por isso, a carpintaria é um programa desenvolvido pela fundação Arte e Cultura e oferece aos utilizadores competências, de maneira que possam conquistar independência financeira para o futuro.
Dentro deste segmento, há também a cooperativa Costura para Todos, iniciativa de um micro- financiamento vocacionado para mulheres das cercanias e arredores, proporcionando habilidades e competências de costura e gestão para negócios. Entre outras actividades, Xavier Narciso falou do projecto alfabetizar a Ilha, registo civil, música na rua, todos com vista a tornar os cidadãos desfavorecidos, e não só, mais incluídos na sociedade.
Fundo Lwini mantém-se focado no apoio à mulher rural, crianças desfavorecidas e portadores de deficiência
O fundo Lwini, criado em 1998, por conta da visita da Princesa Diana em 1997, no âmbito da campanha da luta contra as vítimas das minas no mundo, mantém-se focado no apoio à mulher rural, crianças desfavorecidas e também portadores de deficiência.
Com uma folha se serviço acima da média, a fundação, no período em que o país viveu o conflito armado, definiu a sua estratégia em dois pólos, os quais eram o apoio directo às vítimas das minas.
Após a assinatura dos acordos de paz, em 2002, o fundo Lwini redefiniu o seu escopo, tendo como base o apoio às pessoas com deficiência e diversos programas concretos ligados à formação e ao desporto paralímpico. Por conta disto, o director executivo da fundação, Alfredo Ferreira, disse ao jornal OPAÍS que recentemente muitos projectos foram concluídos, sendo que 1500 utentes se beneficiaram dos mesmos.
“No sector materno infantil, o fundo Lwini instalou uma maternidade para apoiar a comunidade no Morro dos Veados, em Luanda”, admitiu o responsável daquela fundação. Alfredo Ferreira disse que as acções do fundação, sem fins lucrativos, continuam, visto que na cidade de Caxito, no Bengo, foi criado um centro de costura que ocupa homens e mulheres.
Em Caxito, há também uma escola de ensino especial, incluindo também a província de Benguela e Huíla, contendo cerca de oitocentos alunos de diversos escalões etários.
Fundação BAI realiza conferência internacional sobre humanização na saúde
A Fundação BAI, no âmbito das suas atribuições, realizou ontem uma conferência internacional de saúde “humanização no sistema de saúde”, na sua sede, no Morro Bento, em Luanda. Na magna sala, a PCA daquela instituição bancária, Inkcelina de Carvalho, deu as boas-vindas aos prelectores e aos convidados, ressaltando que a saúde e o bem-estar devem ser um aprendizado.
Ainda no seu diuscurso, a responsável fez saber que deve haver uma abordagem mais humana no que concerne à ética no sistema de saúde, porque a história e a vida devem ser respeitadas.
“A ética, lembra, deve sempre agir com integridade, e respeitar o ser humano é um caminho que todos devem seguir”, disse Inkcelina de Carvalho. Por sua vez, o secretário de Estado para Saúde Pública, Carlos Pinto de Sousa, falou da importância da humanização nos cuidados de saúde, um tema que mereceu atenção de profissionais, e tudantes e dos convidados.
“As fundações são importantes parceiros do Estado”
O sociólogo Nkanga Gomes disse que as fundações são importantes parceiros do Estado, porque elas ajudam a compensar, sem fins lucrativos, algumas tarefas dos mais desfavorecidos. Nkanga Gomes disse que as fundações servem sempre as camadas sociais mais vulneráveis e isso permite que elas sejam incluídas na sociedade, na esperança de progredirem também.
“O fracasso do sistema social gera exclusão e as fundações normalmente aparecem para fazer o contrário e encontrar-se mecanismos de se apoiar os mais fracos”, disse o sociólogo. Nkanga Gomes disse que o foco das fundações varia de acção para acção, por isso umas estão na saúde, cultura, desporto, ciência, literatura e são sem fins lucrativos e dotadas de personalidade jurídica própria.