A notícia da morte do nacionalista e político, França Van-Dúnem, por doença, em Portugal, deixou os mais diferentes segmentos da sociedade angolana consternada que reconhecem, na sua figura, qualidades que o definem como um dos “bons filhos” que Angola viu nascer em 1934.
Diante da notícia da sua partida, os angolanos, que vêem nele as mais distintas qualidades, “choram” pelo académico, político, militar e nacionalista que fazem dele uma das mais importantes figuras do país.
Em sua memória, a Assembleia Nacional, órgão que o malogrado já foi presidente, prestou uma homenagem com o registo da interrupção dos trabalhos e um minuto de silêncio, que gerou consenso das mais diferentes bancadas parlamentares que compõem aquela casa das leis.
Comoção nacional
Em declaração a OPAÍS, Samuel Chiwale, veterano da UNITA, disse que, apesar das diferenças partidárias, a morte de França VanDúnem representa uma perda “enorme” para Angola, a julgar pelas suas qualidades enquanto político, académico e antigo militar.
Para Samuel Chiwale, França Van-Dúnem foi combatente da primeira linha, pelo que a sua partida representa uma dor para o país.
“Foi um bom filho e bom camarada. Guardo dele memórias boas. Mas a vida é feita assim, de perdas e ganhos”, lamentou.
“Nunca perdeu o seu amor pelas causas mais importantes”
Também em declarações a este jornal, a veterana do MPLA, Rodeth Gil, lamentou a perda daquele que considerou como sendo um pai, irmão e companheiro de todos os momentos.
Segundo Rodeth Gil, até na guerrilha, França Van-Dúnem nunca perdeu o seu amor pelas causas mais importantes do país, olhando para as pessoas sem cores partidárias.
“Para mim, ele representou muita coisa. Tudo que sou hoje, enquanto pessoa, cidadã e nacionalista, também devo ao França Van-Dúnem. Ainda estou em choque com a sua partida, porque apanhou a todos de surpresa”, disse.
“Estaremos aqui para honrar a sua memória”
Por seu turno, também abalado com a sua morte, Higino Carneiro, general, considerou França Van-Dúnem como sendo uma figura histórica do partido MPLA, que exerceu cargos importantes no país como primeiro-ministro, presidente da Assembleia Nacional e deputado.
“Enfim, temos só é de lamentar a morte dele que nos deixa consternados, logicamente. Estaremos aqui para honrar, naturalmente, a sua memória”, apontou.
MIREX consternado com a morte Já o ministério das Relações Exteriores (MIREX) lamentou com “profunda dor e consternação” o falecimento do embaixador na reforma, Fernando José de França Van-Dúnem, vítima de doença, aos 89 anos, ocorrido em Lisboa, Portugal.
Numa mensagem de condolências, assinada pelo chefe da diplomacia angolana, Téte António, lê-se que Fernando José de França Van-Dúnem foi quadro sénior do Ministério das Relações Exteriores, “onde desempenhou as funções de vice-ministro do MIREX e embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Angola em Portugal e no Reino da Bélgica.
Um percurso de reconhecida competência
França Van-Dúnem, nascido a 24 de Agosto de 1934, foi primeiro-ministro de Angola por duas vezes, entre 1991 e 1992, e, de 1996 a 1999, vice-ministro das Relações Exteriores e ministro da Justiça.
O antigo deputado da bancada parlamentar do MPLA presidiu a Assembleia Nacional (parlamento angolano) de 1992 a 1996.
Entre 1982 e 1986, foi embaixador de Angola em Portugal e Espanha, depois de ter desempenhado essas funções, entre 1979 e 1982, na Bélgica, Países Baixos e Comunidade Económica Europeia.
Foi também vice-presidente da União Africana e membro do Parlamento Africano e professor de Direito da Faculdade de Direito da Universidade Católica de Angola.