O acto central sobre a Batalha do Cuito Cuanavale acontece, hoje, no município do Cuito Cuanavale, província do Cuando-Cubango, sob o lema “Pela integração regional da África Austral, honremos os combates do Cuito Cuanavale”
“O Executivo angolano está a trabalhar para dar dignidade a to- dos os ex-combatentes do Cuito Cuanavale”, garantiu, ontem, em Luanda, o ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Pereira Furtado. O também general na reforma fez essa afirmação por ocasião da mesa redonda sobre a Batalha do Cuito Cuanavale, realizada pelo Ministério da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria.
Francisco Pereira Furtado ex- plicou que há programas em curso que brevemente serão implementados para dar maior dignidade a todos os ex-combantes. E vão beneficiar todos aqueles que estiverem na linha da frente da Batalha do Cuito Cuanavale e, no geral, sejam ex-combatentes das ex-FAPLA, das ex-FALA como dos ex-ELNA. “Porque nós somos um só povo, uma só Nação, devemos trabalhar todos em prol de uma só unida- de comum e não haver separação no tratamento. O Executivo trabalha nesse sentido de dar tratamento igual para todos”, disse.
No decorrer da mesa redonda, subordinada ao tema “Batalha do Cuito Cuanavale, uma batalha lo- cal com impacto global”, Francisco Pereira Furtado fez uma apresentação cronológica dos antecedentes dessa batalha, defendendo a necessidade de haver maior divulgação dos factos que ocorreram antes e depois da mesma. “Nós, infelizmente, comunica- mos mal. Há pouca comunicação para fora. Os sul-africanos comunicam, os cubanos comunicam e nós, que tivemos o heroísmo de lutarmos e ganhamos a batalha no terreno, comunicamos muito mal”, disse.
Por outro lado, defendeu a necessidade de haver algum incentivo, tanto por parte dos académicos militares, bem como das demais individualidades, para uma melhor transmissão dos factos. Já o tenente-general Miguel Júnior, que também revisitou a história da Batalha do Cuito Cuanavale, ao fazer uma análise da visão estratégica que os protagonistas da referida batalha tiveram, defendeu a necessidade de se valorizar todos aqueles que lutaram e aqueles que prestaram a sua ajuda.
“A verdadeira história tem sido deturpada”
José Maria de Sá, secretário executivo do Fórum dos Combatentes da Batalha do Cuíto Cuanavale, que recordou vários momentos vividas no terreno, afirmou que a história sobre a Batalha do Cuito Cuanavale não está a ser contada tal como deveria. Este antigo guerrilheiro, que participou activamente na mesma, disse que foi uma batalha Neusa Filipe marcante, que ficou marcada com perda de muitos dos seus companheiros de trincheira. “Foi uma batalha muito marcante nas nossas vidas. Foi ali onde nós começamos por perder a nossa juventude”, frisou. Acrescentou de seguida que o mais marcante “foi a perda de muitos companheiros de trincheira, companheiros de recruta e de formação que não voltaram mais à casa”.
Ainda assim, segundo conta, a mesma valeu a pena, pois ser- viu para defender o solo pátrio de uma invasão estrangeira, que caso vencesse teria a possibilidade de dar início à expansão do regi- me Apartheid em toda região da África Austral. Confirmou que com o apoio da União Soviética, Angola tinha alguns assessores nas brigadas, conselheiros militares, assim como de efectivos das Forças Armadas Cubanas, nas segundas e terceiras linhas de defesa. José Maria de Sá afirmou que alguns documentários que têm sido passados sobre a Batalha do Cuito Cuanavale não vão de encontro com a verdade. “Naturalmente que as tropas cubanas apoiaram-nos mui- to, mas na situação de defesa.
No contacto directo com as tropas sul-africanas não tivemos a presença de tropas cubanas. Apenas as FAPLA, exército angolano, fez frente ao exército regular sul- africano”, garantiu. O responsável acrescentou ainda que “há muitos escritos que deturpam a verdadeira história”. “Nós, como protagonistas e como combatentes da Batalha do Cuíto Cuanavale, vamos nos bater até ao fundo da questão para sanar essas dúvidas”, realçou. De salientar que a referida mesa redonda serviu para revisitar a história da Batalha do Cuíto Cuanavale, passar o conhecimento e contribuir para o enriquecimento da história militar de Angola, por via dos antecedentes desta batalha.