UNITA diz que a reconciliação nacional não acompanhou a paz vigente em Angola. Já o MPLA, partido que suporta o Governo, assevera que a mesma conferiu mais liberdades aos cidadãos, promovendo, deste modo, a participação do cidadão na vida política do país
POR: Constantino Eduardo, em Benguela
O município do Cubal é hoje, 4 de Abril, palco das comemorações do 16º aniversário da Paz e Reconciliação Nacional. Para dimensionar a efeméride, estão circunscritas, no programa elaborado pelo Governo local, uma série de actividade, entre as quais inaugurações de infra-estruturas sociais. Rui Falcão, chefe do Executivo, preside naquela localidade ao acto político. A paz é um bem que deve ser preservado por todos, independente da opção política, salientam vários segmentos em Benguela. A UNITA, realipor exemplo, vê nesta proeza um grande feito para o país. Todavia, entende que Angola está distante de alcançar uma reconciliação social efectiva, quando o MPLA, partido sustentáculo do Governo, é de opinião de que a reconciliação de que tanto fala o partido liderado por Isaías Samakuva não depende apenas dos políticos, mas dos cidadãos que, filiados ou não num partido, têm responsabilidade neste quesito.
O clima de paz vigente em Angola, justifica Alberto Ngalanelã, secretário provincial da UNITA, é apenas uma paz do calar das armas, mas isso não basta, o país precisa de evoluir para uma social, onde o cidadão tem à sua disposição o básico para a sua sobrevivência. Por essa razão, defende a inclusão política, económica e social do angolano. Para o correligionário de Samakuva, o 4 de Abril é uma data de reflexão. “A UNITA gostaria de chegar ao 4 com os principais pendentes resolvidos”. O também deputado à Assembleia Nacional salienta que se celebra a paz numa altura em que os restos mortais dos dirigentes da UNITA mortos em 1992, juntando os do líder-fundador Jonas Savimbi, tombado em 2002, não estão sob custódia das famílias, de modo a conferir-lhes funerais condignos.
O 2º secretário do comité provincial do MPLA, António Kapewa Kalianguila, refere que, para os angolanos, a paz é uma “premiação de ouro” que em circunstância nenhuma deverá ser dispensada. Prova disso, ilustra o dirigente partidário, é a circulação de pessoas e bens e a promoção das liberdades. “As críticas estavam, de alguma maneira, afuniladas. Eram tidas como posições de riscos”, reconhece, enaltecendo que, hoje, o quadro se alterou significativamente “com os reflexos da paz, as pessoas já ousam falar um pouco mais sobre aquilo que deve ser criticado, sem que para isso sofram alguma pressão ou perseguição, se quisermos assim entender”, diz.
Paz fez as instituições do Estado funcionar com estabilidade
Para o cidadão Martins Domingos, a paz contribuiu para que as instituições do Estado funcionassem com maior estabilidade, facto que se reflecte na liberdade de pensamento e a salvaguarda dos interesses dos cidadãos previstos na Constituição e na Lei. Além de estabilidade, Martins entende que a paz criou também interesse no cidadão de participar activamente na vida política do país. “Este foi o melhor ganho”, considera. Entretanto, não obstante estes ganhos, a fonte refere que existem outras questões que precisam ainda de ser tidas em conta pelo Governo, relacionadas com a economia. Segundo disse, não se pode conceber que, em 16 anos de paz, Angola não tivesse conseguido diversificar e continuasse dependente de um único recurso de exportação e “alicerce” da economia, no caso pendente, o petróleo. “Temos estabilidade do ponto de vista económico. Falta a garantia da estabilidade para a produção interna para o desenvolvimento sustentável da economia”, adverte, pois, no seu ponto de vista, este factor é que assegura a estabilidade política e social.