Sob o signo “Abraçar e perdoar”, a Comissão para a Implementação do plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos políticos (CIVICOP), continua a desdobrar energias com vista a encontrar vítimas destes conflitos e desta vez trabalha no Cuemba, província do Bié, onde pode ter encontrado ossadas de figuras de proa do então braço armado da UNITA, as FALA, e de Ana Savimbi, uma das mulheres de Jonas Savimbi
As ossadas dos generais Armando Júlio “Tarzan”, Altino Bango Sapalalo “Bock” e Antero Vieira, à época todos na casa dos 40 anos de idade, podem ter sido encontradas pela CIVICOP, no quadro da acção que desenvolveu recentemente, no Luando, localidade do Tchanji, município do Cuemba, província do Bié. Além desses cidadãos alegada- mente assassinados a mando do então líder da UNITA, Jonas Savimbi, pode ter sido igualmente encontradas as ossadas de Ana Isabel Paulino Polipossa “Ana Savimbi” e ainda de uma menina entre os 11 e os 14 anos, cuja identidade é desconhecida, assim como do general António Perestelo Moura.
Com o objectivo de encontrar as vítimas dos conflitos políticos de 1975 a 2002, a CIVICOP, depois de já ter estado no Cuando Cubango, trabalha nesta localidade da província do Bié sob o comando de coordenador da sub-comissão de segurança, logística e infra-estrutura da CIVICOP, general Fernando Garcia Miala. O registo desse incidente em que estão envolvidos altos comandantes do extinto braço armado da UNITA, FALA, terá ocorrido na sequência da derrota militar que essa força sofreu a 25 de Abril do ano de 2000, na cidade do Cuito, província do Bié. Numa zona inóspita marca de forma negativa a vida de milhares de famílias que viveram em zonas ocupadas pela UNITA, na fase mais difícil da guerra civil.
Isolada a área e mobilizados os meios técnicos e humanos, o trabalho engajado e o espírito patriótico levou os peritos a quatro túmulos que de- pois de escavado, trouxe ao de cima o que há muito não se queria revelar. Estas ossadas, segundo fontes no local, podem pertencer aos generais Armando Júlio “Tarzan”, Altino Bango Sapalalo “Bock” e Antero Vieira, à época todos na casa dos 40 anos de idade. No mesmo local podem, igualmente, estar os restos mortais do general António Perestelo Moura, que devia ter perto de 50 anos de idade.
Desabafo
O cidadão Avis Vieira actualmente ligado aos Serviços Penitenciários afecto ao Ministério do Interior no Bié, é filho do general Antero Vieira uma das vítimas que pode ter sido encontrada pelos trabalhos desenvolvidos pela CIVICOP, pelo que espera poder proporcionar um enterro condigno ao seu progenitor. “Já havia escrito uma carta à direcção da UNITA para esse fim, mas até agora há um silêncio to- tal. Fizemos essa carta no sentido de solicitarmos apoios a fim de podermos localizar. O partido é uma organização que não se esgota com o seu fundador e aqueles que estão hoje à testa do partido devem as- sumir os ossos do ofício. Penso que deviam assumir as próprias atrocidades que o partido foi responsável ao longo desse tempo”, manifestou o filho do malogrado general Vieira.
De igual modo, a irmã Analtina Vieira de forma emotiva clama pela morte do pai. “O pai não morreu na frente de combate. Ele foi morto… nós queríamos que a UNITA nos dissesse onde foi enterra- do, porque segundo a história ele não terá sido morto sozinho, morreu mais gente e não sabemos onde foram enterrados. E quando vimos essa abertura do processo escrevemos para a direcção da UNITA para saber se alguém nos podia dizer exactamente onde é que foi enterrado que era para fazer a exumação e inumação, nesse caso apenas das ossadas porque já não há corpo”, lamentou. No entanto, um crânio foi encontrado que pode ser a esperança dos filhos do general Antero Vieira, que pelas suas características os médicos acreditam que sejam do general devido às falhas na sua dentadura, pois era conhecido por usar dentes de prata.
Missão da CIVICOP
De recordar que em Abril de 2019, o Presidente João Lourenço ordenou a criação da CIVICOP, com vista a elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola entre 11 de Novembro de 1975 (dia da independência) e 4 de Abril de 2002 (fim da guerra civil). O Plano de Reconciliação em Memória às Vítima de Conflitos Políticos prevê, entre outras questões, a emissão de certidão de óbito e a construção de um memorial único para todas as vítimas dos conflitos políticos registados no país.
POR: Jorge Fernandes* com a TPA