Fonte ligada à Comissão para a implementação do plano de reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos políticos (CiViCOp), desdramatizou as alegadas acusações de que tenham sido entregues ossadas falsas de Sita Vales e José Van-dúnem para exames de peritagem, em Lisboa, portugal
Numa carta aberta, alegadamente subscrita por sobreviventes, familiares e a Associação 27 de Maio, a partir de Lisboa, Portugal, é acusado o Governo angolano e a CIVICOP de terem apre- sentado ossadas, supostamente, não pertencentes a Sita Vales e José Van-Dúnem, ambos vítimas do 27 de Maio. Os subscritores da referida carta, datada de Março deste ano, alegam que “os resultados apresentados comprovaram que as amostras ósseas recolhidas em Angola não correspondem a quem eram imputados, contrariamente ao que fora anunciado pela CIVICOP”.
Os mesmos dizem “trata-se de uma evidência científica, como acentuou o Professor Duarte Nuno Vieira – que também referiu que os laboratórios de Angola não têm as aptidões necessárias para realizar estudos de recuperação de ADN em ossos, sem que tal seja motivo de vergonha, já que, muitos países do mundo também o não têm”. E mais, diz a carta, “lamentam profundamente que tenha sido anunciada, de forma individualizada, a descoberta dos restos mor- tais de vítimas conhecidas, sem que tal tivesse sido precedido de perícias, estudos antropológicos e de genética credíveis, o que levou alguns familiares a caírem no logro”.
Em reacção a estas declarações, uma fonte ligada à CIVICOP referiu que quando o Governo angola- no decidiu efectuar exames de peritagem às ossadas, deu, também, a liberdade aos familiares de confrontarem os resultados com outros laboratórios à sua escolha.
A fonte explicou que ninguém decidiu enganar as famílias, apre- sentando resultados falsos. Ade- mais, acrescentou, a liberdade que o Estado deu às famílias de procurarem por outros especialistas, demonstra a clareza do processo. Todavia, referiu que a resolução deste impasse, entre as famílias e o Estado angolano, deverá necessariamente passar pelo diálogo. Ali- ás, disse, o Estado está disponível a continuar a trabalhar juntamente com as famílias no sentido de se concluir este processo. “Tratando-se de um assunto político, e da Pátria, têm que dialogar com aqueles que os entregaram as ossadas”, asseverou, para depois dizer que, até agora, estes casos são os únicos reclamados.
Conferência de impressa sobre o 27 de Maio
Para saudar mais um aniversário daquele fatídico ‘incidente’, o Ministério da Justiça e dos Direi- tos Humanos realiza, hoje, às 16 horas, nas suas instalações, uma conferência de imprensa, com vis- ta a detalhar tudo o curso do pro- cesso de identificação, exumação, exames de peritagem e realização de funerais de todas as vítimas dos conflitos políticos. Na referida conferência, o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos vai se esclarecer, também, tudo sobre as alegadas acusações.
Romagem em homenagem às vítimas do 27 de Maio
Por sua vez, o presidente da Fundação 27 de Maio, Silva Mateus, avançou, em declarações ao jornal OPAÍS, que será realizada, amanhã, Sábado, data em que se assinala o 46º aniversário dos conflitos políticos de 27 de Maio de 1977, uma romagem até ao cemitério municipal do Alto das Cruzes, para homenagear as vítimas.
O responsável adiantou que a escolha do cemitério do Alto das Cruzes tem que ver com o facto de, em Junho do ano passado, ter-se realizado, naquele campo santo, o funeral de Nito Alves, Monstro Imortal, Arsénio Lourenço Mesquita “Sianouk” e Ilídio Ramalhete, ao lado de outras sete vítimas que padeceram do lado do Governo.
Desta vez, avançou, a fundação pretende realizar um acto que homenageia todas as vítimas daquele funesto conflito político, sem excepção, englobando quer os que perderam a vida às ordens de Nito Alves, como aqueles que tombaram ao serviço do Governo angolano. “Porque todos eles são vítimas do 27 de Maio”, disse, garantindo que contam com conhecimento e apoio do Governo. A marcha, de acordo com Silva Mateus, deverá partir da se- de da Fundação 27 de Maio, e seguir, em viaturas, até ao cemitério do Alto das Cruzes, onde vão se fazer os discursos em memória das vítimas.
POR: João Feliciano