A discursar no acto que marca os 50 anos do fim da ditadura militar em Portugal, conheci- da como a Revolução dos Cravos, o Chefe de Estado angolano lembrou que nesta data os portugueses protagonizaram o histórico acontecimento que passou para a História e que pôs fim a mais de 40 anos de ditadura salazarista. Uma ditadura que foi para lá das fronteiras portuguesas, sendo também responsável pela opressão dos povos das então colónias portuguesas, recordou João Lourenço.
“Reconhecemos a coragem e heroísmo dos capitães de Abril e dos resistentes portugueses que lutaram por todas as formas e meios contra a ditadura, enfrentando a máquina opressora do regime, a PIDE/DGS e seus apêndices, que não se coibiam de torturar e matar os melhores filhos desta terra”, considerou.
Perante o Chefe de Estado e o primeiro-ministro portugueses, e demais chefes de Estado e de Governo presentes no Centro Cultural de Belém, João Lourenço assinalou que enquanto o povo português lutava contra o fascismo e a ditadura salazarista desde 1932, “nós, os povos africanos colonizados por Portugal, lutávamos desde o século XV contra a colonização portuguesa e suas consequências, como a escravatura e a pilhagem das nossas riquezas”.
A luta dos povos africanos, disse, caracterizou-se pelo fim dos abusos, dos crimes e da violação dos direitos humanos cometidos pelo regime colonialista contra nossos povos durante séculos.
“As lutas armadas pela nossa Independência na Guiné Bissau, em Angola e em Moçambique, atingiram um estágio de tal modo avançado, sobretudo após o fracasso da operação Mar Verde, o assassinato de Amílcar Cabral e a proclamação da Independência pelo PAIGC nas colinas de Madina de Boé em 1973 na Guiné Bissau”, notou João Lourenço, lembrando que o fiasco da operação Nó Górdio e as pesadas baixas infringidas pela FRELIMO e pelo MPLA às tropas coloniais portuguesas em Moçambique e no Norte e Leste de Angola fizeram precipitar os acontecimentos que levaram ao levantamento e golpe militar do 25 de Abril de 1974 em Portugal.