O secretário provincial do bloco Democrático (BD), em Benguela, Zeferino Cuvíngua, afirmou, ontem, em conferência de imprensa, que o Governo é culpado pela condição social da população, tendo alegado que o seu partido não vislumbra vontade política de alteração do estado das coisas em Angola
O Bloco Democrático entende que, nos últimos tempos, a condição social da população tende a gravar-se cada vez mais e responsabiliza o Governo pelo estado das coisas. No passado, sustenta o seu secretário provincial do BD, “não se padecia de fome como hoje”, porquanto as famílias dispunham de alternativas para se alimentar e cita, como exemplo, as práticas agrícolas e pastorícias.
“Em tempo de paz, uma coisa vergonhosa é não estar preocupado com a defesa da segurança alimentar das populações”, acusa o político, reprovando, pois, o facto de, actualmente, o Governo importar parte significativa dos produtos da cesta básica. Zeferino Cavíngua sugere, por isso, que se inverta o cenário de cidadãos à procura de comidas enterradas por empresas em aterros sanitários.
De acordo com o responsável partidário, ao Governo cabe ir ao encontro das populações para ter noção das dificuldades por que essas passam, de modo a resolvê-las. Nos dias que correm, diz, a preocupação do BD é para com a cesta básica, cujos preços tendem a subir vertiginosamente.
“Uma questão só de exemplo prático: os funcionários públicos que ganham 200 mil não conseguem ter alimentação suficiente na sua casa para alimentar os seus cinco filhos durante um mês. Se alimenta os filhos, não paga luz, não paga água, tem dívida com serviços públicos’’, considera. O secretário provincial do Bloco Democrático em Benguela ressalta que muitos funcionários públicos se têm valido do mecanismo de contracção de dívidas, os famosos “kilapes”, para sustentar as suas famílias. Por estas e outras razões é que Cuvíngua chama atenção ao Governo para que cumpra cabalmente o compromisso assumido de garantia de bem-estar social à população.
“Os funcionários recebem salários apenas para poderem pagar as suas dívidas e fazer a sobrevivência para os próximos dias”, dramatiza o político opositor. De preocupação não é tudo. O BD olha com bastante apreensão para o número crescente de crianças na rua a que se juntam, igualmente, alguns cidadãos que têm nos contentores as suas fontes de sobrevivência, sem perder de vista a questão relativa a idosos que ‘pululam’ pelas artérias das cidades de Benguela como que abandonados por ente queridos. O político qualifica de ‘fenómeno’ o facto de o lar de idosos, no vale do Cavaco, em Benguela, estar vazio, por eles estarem, alegadamente, a abandonar aquelas casas a si destinadas para viver na rua a pedir esmolas.
“Queremos chamar atenção ao Governo que nada mais deve fazer senão garantir a segurança alimentar da população. Não há guerra para se justificar, não há outros conflitos. Então, tem de haver um esforço da administração para acudir os idosos, as crianças na rua”, apela. O responsável do BD em Benguela lembra que o Gabinete de Acção Social tem uma dotação orçamental para assistência social a estas franjas sociais, daí que tenha colocado acento tónico nessa questão.