Para os Naturais e Amigos da Baixa de Cassange, província de Malanje, a retirada do dia 4 de Janeiro da lista de feriados nacionais não honra a memória dos homens e mulheres que deram a sua vida para dignificar a região, lutando contra a opressão colonial
Hoje completam-se 62 anos da Revolta da Baixa de Cassange, na província de Malanje, um dos graves acontecimentos da história de Angola devido à revolta de camponeses no dia 4 de Janeiro de 1961. Nesta data, deu-se a considera- da primeira rebelião contra o regime colonial português, encetada pelos trabalhadores rurais da Companhia Geral dos Algodões de Angola (COTONANG), a em- presa angolana produtora de algodão, reprimida com participação belga, vigente no tempo colonial.
O que originou a revolta foi a obrigatoriedade imposta pelo regime colonial da produção da cultura do algodão no território da Baixa do Cassange. A revolta prolongou-se ao longo de várias semanas de Janeiro de 1961, porque os camponeses recusaram-se a trabalhar e a pagar impostos, o que resultou na mor- te de milhares de angolanos, entre mulheres, crianças e velhos. Em homenagem ao acontecimento, a data já foi feriado em anos anteriores.
Porém, com a alteração da data dos feriados nacionais, actualmente o dia 4 de Janeiro deixou de ser celebrado como feria- do, uma posição que não agrada aos Naturais e Amigos da Baixa de Cassange. O presidente desta Associação, Vumo Nzamba, disse, ontem, a o jornal OPAIS, que os naturais e amigos da Baixa de Cassange não desistiram da luta para a reposição do 4 de Janeiro como Feriado Nacional, em respeito à memória das milhares de pessoas que, em 1961, foram assinadas por reivindicarem os seus direitos.
Conforme referiu, a retirada da data da lista de feriados nacionais não honra a memória dos homens e mulheres que deram a sua vida para dignificar o país. “É uma data que devia parar o país para reflectirmos em torno do que foi o massacre da Baixa de Cassange. Por isso é que continuamos a lutar para que volte a ser feriado”, apontou.
Mais dignidade
Por outro lado, Vumo Nzamba defendeu maior dignidade para a região da Baixa de Cassange que compreende os municípios de Quela, Caombo, Kunda dya Base, Massango e Marimba), com maior incidência na localidade do Teka dya Kinda, no Quela. Conforme referiu, os sobreviventes e as populações destas localidades ainda passam por muitas necessidades, o que não honra a memória dos percursores da luta contra a repressão colonial. “Sobretudo a nível do apoio do Governo ainda enfrentamos mui- tas necessidades. Precisamos que nos apoiem, acima de tudo, com materiais agrícolas”, apelou.
Governo de Malanje reafirma apoio
Por seu lado, o director provincial dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, em Malanje, Ananias Gomes, disse ao jornal OPAIS, que as populações da Baixa de Cassange têm merecido apoio genérico quer do governo provincial bem como das administrações municipais. A título de exemplo, referiu que a Associação dos Naturais e Amigos da Baixa de Cassange tem sido uma parceira do Executivo local na identificação e resolução das necessidades que afectam as populações.