No quadro da visita de trabalho de três dias que o Presidente da República Democrática de Timor- Leste, José Ramos-Horta, efectua a Angola, os dois estadistas reuniram-se em privado e manifestaram o desejo de aprofundar os laços de amizade e cooperação.
Em declarações à imprensa, à saída do encontro, o Chefe de Estado angolano enfatizou o facto de o Presidente timorense efectuar a sua segunda visita de Estado a Angola.
“Pela segunda vez, Angola tem o privilégio de receber o Presidente José Ramos-Horta, Presidente de Timor-Leste, um país da CPLP com quem mantemos muito boas relações de amizade e cooperação que dura há anos, mas que pretendemos desenvolvê-las”, afirmou o Presidente João Lourenço, sublinhando o desejo de explorar novos domínios de cooperação em benefício dos dois países e dos dois povos.
João Lourenço reconheceu que apesar de esta ser a segunda visita de Estado do Presidente timorense, nunca um estadista angolano visitou o país asiático. Uma realidade que o Titular do Poder Executivo angolano prometeu mudar, realçando a necessidade de reciprocidade nas relações internacionais.
“O Presidente José Ramos-Horta acabou de estender-me o convite e isso vai acontecer nas datas em que as nossas diplomacias acordarem”, disse. Ademais, salientou que, dos vários países que compõem a CPLP, o único país que Angola não tinha uma embaixada era precisamente a República de Timor-Leste.
“Mas, já temos uma Embaixada em Díli. Isto é um sinal que corrigimos a lacuna com o objectivo de incrementar as relações entre os nossos dois países”, notou João Lourenço.
Ramos-Horta expressa gratidão
Por sua vez, José Ramos-Horta expressou a sua gratidão pela recepção em Angola e destacou os avanços do país após o fim do conflito, que reconheceu terem devastado o povo e a economia angolana.
“Pude ler, ao longo de anos, e pude presenciar sobre os progressos havidos em Angola, desde o fim do longo conflito que custou muito ao povo angolano e à sua economia.
Mas, firmada a paz, Angola deu grandes exemplos de como solucionar conflitos, sarar feridas e reconciliar a grande nação angolana”, afirmou. O Chefe de Estado timorense ressaltou, também, a importância do apoio prestado por Angola e outros países da CPLP na luta pela independência do seu país, que, como disse, será o 11.º membro da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) em 2025.
“Somos hoje um país livre e independente, e isso se deve muito a Angola, assim como aos outros países dos PALOPs, Portugal e Brasil, que sempre estiveram connosco na batalha moral, ética e diplomática”, explicou Ramos-Horta.
Acordos
Durante a visita à Cidade Alta, foram assinados três instrumentos jurídicos pelo ministro das Relações Exteriores de Angola, Téte António, e o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Timor-Leste, Bendito dos Santos Freitas.
Entre estes, destacam-se um memorando de entendimento sobre consultas políticas bilaterais, um memorando de entendimento entre a Academia Diplomática Venâncio de Moura e o Centro de Estudos Diplomáticos do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, e um acordo de isenção de vistos em passaportes diplomáticos e de serviço.
A seguir, foi realizada uma conferência de imprensa, onde os dois estadistas abordaram sobre uma possível parceria no sector energético, nomeadamente petróleo e gás. Neste quesito, o Presidente João Lourenço afirmou ser este um domínio das economias dos dois países que pretendem reforçar a cooperação.
“Angola é um país produtor de petróleo e gás há mais tempo que Timor-Leste, mas o país irmão descobriu grandes jazidas e tem boas perspectivas de ser um grande produtor”, disse o estadista angolano.
O Presidente da República manifestou, ainda, a vontade de cooperar com o Timor-Leste em outras áreas, como turismo e comércio, agricultura, sobretudo após a entrada de Timor-Leste na Asean.
Por seu turno, Ramos-Horta mencionou que Timor-Leste tem muito a aprender com Angola no sector energético e expressou a ambição de reforçar a cooperação diplomática com Angola.
Antes, o Presidente de Timor-Leste rendeu homenagem ao fundador da nação angolana, Agostinho Neto, ao depositar uma coroa de flores no seu sarcófago, no mausoléu construído em sua memória.
À tarde, José Ramos-Horta marcou presença na reunião Plenária Solene na Assembleia Nacional, por ocasião da sua visita a Angola. Para hoje, terça-feira, o programa inscreve visitas às academias de Ciências Policiais e Diplomática Venâncio de Moura.
Relações
Os dois países estabeleceram relações bilaterais em Maio de 2002. De lá para cá, as partes têm vindo a desenvolver uma série de políticas e consultas públicas, com vista a fortalecer os laços no âmbito do interesse mútuo.