O relógio marcava ontem 12 horas e 15 minutos, quando o Chefe de Estado dos Estados Unidos da América, Joseph Robinette “Joe Biden”, chegou ao Palácio Presidencial da Cidade Alta. Foi recebido em seguida pelo Presidente da República, João Lourenço, para os devidos cumprimentos.
Os dois Estadistas observaram o momento de entoação dos hinos nacionais. Primeiro, foi entoado o “Star-Spangled Banner”, hino nacional dos Estados Unidos da América, de seguida, entoou o “Angola Avante”, hino nacional da República de Angola, acompanhados, em simultâneo, com o lançamento das “21 Salvas de Canhão”, o que marcava a recepção e as saudações com honras militares ao Presidente Biden.
Concretizava-se, desta feita, o segundo momento mais importante da primeira visita de Esta- do de um Presidente norte-americano em solo angolano, depois do momento que se registou com a sua chegada, no Aeroporto Internacional 4 Fevereiro, no dia anterior, o que marcava também o início do primeiro dia de trabalhos da sua visita de Estado à República de Angola. Observado todo o protocolo, os dois Estadistas seguiram para o Salão-Nobre da Cidade Alta para as conversações oficiais.
Na ocasião, o anfitrião, Presidente João Lourenço, proferiu palavras de boas-vindas ao Presidente Joe Biden e a delegação que o acompanha. O momento serviu, igualmente, para o Chefe de Estado angolano reafirmar o compromisso e o interesse de Angola de ver fortalecidas, cada vez mais, as relações com os Estados Unidos da América.
O Presidente João Lourenço lembrou que a República de Angola e os Estados Unidos da América mantêm relações político-diplomáticas desde 19 de Maio de 1993, e as mesmas têm vindo a crescer ano após ano, sobretudo desde que se deu em Angola o início ao combate sério contra a corrupção e a impunidade e de se estar a criar um melhor ambiente de negócios, ressaltando, de igual modo, a importância histórica das visitas ao mais alto nível que Angola já efectuou à Casa Branca.
“O Presidente angolano José Eduardo dos Santos foi recebido na Casa Branca em Setembro de 1991 e Dezembro de 1995 pelos Presidentes George Bush e Bill Clinton, respectivamente. Agradeço ao facto de o Presidente Joe Biden ter-me recebido, de forma muito amistosa e calorosa, na Casa Branca, no dia 30 de Novembro de 2023”, disse o Presidente João.
De referir que, nos últimos tempos, os dois países têm trocado visitas de delegações ministeriais e empresariais, com destaque para as visitas dos ministros da Defesa Nacional de Angola e do Chefe do Estado Maior das Forças Armadas Angolanas a Washington D.C. e as visitas de vários secretários de Estado americanos a Luanda e, mais recentemente, pela primeira vez, a visita do secretário de Defesa americano e do director da CIA a Luanda.
A visita histórica
O Presidente João Lourenço referiu, na ocasião, que esta visita que o Presidente Joe Biden está a realizar dos Estados Unidos da América à República de Angola, em vésperas de Angola comemorar 50 anos da sua Independência Nacional, ficará registada na história de ambos os países como a primeira de um Presidente americano a pisar o solo angolano.
“Isto não só enterra um passado das nossas relações em que, no quadro da Guerra Fria, nem sempre estivemos alinhados, como marca um importante ponto de viragem nas nossas relações, que, sem sombra de dúvidas, conhecerão uma nova dinâmica a partir de hoje”, sublinhou.
Cooperação e atracção de investimentos
João Lourenço garantiu que Angola e Estados Unidos da Amérca pretendem trabalhar juntos na atracção do investimento directo americano para Angola, na abertura de oportunidades de comércio e de negócios de investidores angolanos no mercado americano.
Manifestou a vontade de ver incrementada a cooperação no sector da Defesa e Segurança, no acesso às escolas e academias militares, no treino militar em Angola, na realização de mais exercícios militares conjuntos, mais cooperação nos programas de segurança marítima para a protecção do Golfo da Guiné e do Atlântico Sul, bem como no programa de reequipamento e modernização das Forças Armadas Angolanas.
Enalteceu, por outro lado, os importantes projectos de investimento público que estão em curso, com o financiamento do EXIM- BANK americano, do CITI Capital e a Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional DFC, com empresas americanas como a SUN África, a Africell, a Mayfair Energy, a Acrow Bridge, a GATES Air, entre outras, sem falar das petrolíferas CHEVRON e ES-SO, que estão em Angola há várias décadas, assim como as inúmeras empresas americanas prestadoras de serviços no ramo petrolífero.
“Com a empresa Amer-Con, estamos a trabalhar na constru-ção de silos de grãos e pontos de recolha em plataformas e par- ques ao longo do Corredor do Lo- bito e de outros pontos considera- dos potenciais celeiros do país, no quadro da segurança alimentar”, avançou.
No sector da Saúde, referiu que Angola beneficia com a USAID, a GAVI e o Fundo Global dos pro- gramas de combate à malária, à tuberculose, ao VIH-SIDA, à Covid-19 e do programa de cirurgia robótica que começa a ser uma realidade em Angola, em parceria com um renomado Hospital de Orlando.
“Gostaríamos de ver os investidores americanos envolvidos na construção das linhas de transportação de energia em alta tensão no regime de parcerias público- privadas para os países da África austral, nomeadamente para a região do Copper belt na Zâmbia e RDC, assim como para a Namíbia, conectando à rede eléctrica dos países da SADC”, salientou.
João Lourenço falou também dos principais projectos em curso no país, destacando o projecto ANGOSAT 2, que trabalha com a NASA e a Maxar na aquisição de imagens de satélite de alta resolução para a monitorização das calamidades naturais, nomeadamente na implementação do Programa de Combate aos Efeitos da Seca no Sul de Angola (PCESSA).
Fez saber que Angola está no processo de aquisição de seis aeronaves BOEING 787 Dreamliner, cujas primeiras entregas acontecem já no início do próximo ano de 2025. Avançou que o Executivo está ainda a trabalhar com a empresa americana WICKS Group Consulting para a ascensão do país para a Categoria 1 da Administração Federal da Aviação, o que poderá ficar facilitado com a entrada em funcionamento pleno do Aeroporto Internacional António Agostnho Neto.
Cimeira EUA – África
O Chefe de Estado angolano enalteceu o facto de, em Junho de 2025, Luanda albergar a realização da Cimeira EUA/África, que vai aproximar políticos, empresários, académicos e a sociedade civil americana e africana para falar de negócios, de história, de cultura e de interesses cruzados.
Reconheceu a visão e o engajamento do Governo americano para o sucesso do Corredor do Lobito, bem como a sua grande contribuição para o programa angolano de transição energética, com a construção dos parques solares no sul de Angola, alegando que serão sempre lembrados como sendo um grande contributo para a segurança alimentar e energética, para o desenvolvimento económico e social de Angola e da região austral de África.
‘EUA comprometidos com Angola’
Por sua vez, o presidente americano Joe Biden, ao tomar a palavra, agradeceu à hospitalidade do país anfitrião, tendo ressaltado, em relação à cooperação, que muito ainda há pela frente, cônscio de que os resultados até ao momento apresentados falam por si mesmo.
Joe Biden fez referência ao Corredor do lobito pelo facto de ter sido construída uma linha ferroviária de acesso, de oceano a oceano, que conecta o continente de oeste a leste, pela primeira vez na história. “investir em projectos de energia solar que vão ajudar Angola a gerar 75 por cento da sua energia limpa até ao próximo ano.
Actualizar a infra-estrutura de internet e comunicações, para conectar todas as redes de internet de alta velocidade de Angola”, apontou. o estadista americano lembrou na ocasião que, quando Franklin Roosevelt levou electricidade para a América rural, lá não existia e o governo a forneceu.
“hoje em dia, é difícil seguir adiante nos negócios ou na pecuária, ou em qualquer outra coisa, sem acesso à internet. saber o que está a acontecer, quando vender o seu produto e coisas do tipo, é crucial”, destacou a importância deste meio tecnológico e de telecomunicações.
Alimentação
Joe Biden defendeu a necessidade de se aumentar a produção agrícola para que os angolanos possam se alimentar e, com toda a franqueza, referiu, alimentar o resto do mundo, lucrando com esse feito, gerando emprego, proporcionando oportunidades e dando força à sua economia.
3 mil milhões de dólares investidos pela administração Biden os EUA já investiram em Angola mais de 3 mil milhões de dólares só na administração Biden, fez saber o próprio na conversa oficial com o homólogo angolano João Lourenço. A razão do investimento, disse, “o futuro do mundo está aqui em África, em Angola’’.
por outro lado, destacou a necessidade de discutir, entre outros temas, como ambos países podem continuar a garantir que a democracia traga resultados para as pessoas. “porque, se elas não acreditarem que é uma democracia, não vão acreditar que fazem parte de um acordo. não vão acreditar que fazem parte disso. E você tem trabalhado muito para estabelecer uma boa democracia”, reconheceu.
Laços mais fortes
Joe Biden entende ser necessária uma discussão relacionada à construção de fortes laços entre os dois países, quer ao nível dos negócios, quer entre os povos. “há muito a dizer sobre tudo isso.
E sei que estamos prepara- dos e estamos no caminho certo para responder a muitas questões. mas acho que você deve entender o quanto estamos dispostos a nos envolver”, manifestou. num gesto de humildade, Joe BIiden salientou que o facto de serem maiores e mais poderosos, sejam os mais inteligentes, daí que não tenham, por isso, todas as respostas.
“Estamos prontos para ouvir as suas respostas às suas necessidades, particularmente respostas sobre o financiamento internacional da dívida e uma série de outras coisas que esta- mos prontos para discutir”, aditou. Ao terminar, perspectivou que, daqui a mais 20 anos, Angola será o maior país do continente e do mundo.
E para tal, almeja que tenham sucesso. “isso não é totalmente altruísta. Quanto mais vocês tenham sucesso, mais nós temos sucesso, mais o mundo terá sucesso”, desejou, na esperança de que este relacionamento entre os dois Estados possa ser longo.