A última visita de Estado à República de Angola, chefiada por um alto mandatário cubano, foi efectuada em 2009. Com a vinda do Presidente da República de Cuba, que se encontra no país desde o dia 20, espera-se que a cooperação entre os dois países seja ajustada ao contexto actual dos dois povos
A primeira visita de Estado do Presidente da República de Cuba, Mi- guel Díaz – Canel, encerra hoje, depois de ter três dias em República de Angola, visando o relançamento e o reforço da cooperação bilateral entre os dois países. Por ocasião desta visita, o Presidente da República, João Lourenço, destacou, ontem, a importância histórica das relações entre Angola e Cuba, que datam do conturbado período de transição do poder colonial para Angola independente.
O Presidente João Lourenço referiu que, no período de transição do poder colonial para a independência, Angola sofreu uma séria ameaça que soube enfrentar com ajuda desinteressada do povo cubano, que enviou para as terras angolanas um contingente militar que foi crescendo à medida das necessidades, tornando-se assim capaz de derrotar as duas invasões de que Angola foi vítima.
Segundo o Presidente João Lourenço, esse apoio serviu para garantir a independência, a manutenção da soberania e da integridade territorial. “Falar das relações entre Angola e Cuba é falar da relação de irmandade entre dois povos que, em momentos de dificuldade de um, o outro surge a prestar socorro”, lembrou.
O Chefe de Estado angolano ressaltou que a solidariedade de Cuba não foi apenas para com o povo angolano, referindo que a vitória alcançada em Angola, sobretudo a partir da histórica batalha do Cuito Cuanavale, abriu portas para que o povo namibiano também pudesse proclamar a sua independência e para que a África do Sul pudesse constituir o primeiro governo democrático do país de maioria negra.
Sublinhou que a “mão amiga” de Cuba estendeu-se também para a economia, para a formação de quadro, para a assistência médica e para todos os outros domínios da vida nacional. Manifestou o compromisso de Angola em permanecer fiel aos princípios de gratidão que caracterizam os angolanos, procurando retribuir o apoio que Cuba tem prestado ao longo dos anos com uma parceria multifacetada, defendendo o levamento do bloqueio económico a que Cuba está sujeita há décadas.
“Acreditamos que sem o embargo, Cuba e o povo cubano definirão por si próprios o modelo político e económico que satisfaça as as- pirações de liberdade, justiça e de desenvolvimento económico e social e manterão trocas comerciais e relações de cooperação económica com todos os países na base da reciprocidade de vantagens”, defendeu.
Dinamizar a cooperação
O Presidente João Lourenço reconheceu, por outra, que o nível de cooperação económica entre Angola e Cuba está abaixo do que é exigido pelos seus povos e espera que a visita de Estado sirva para a correcção desta situação, apelando para que os dois Estados trabalhem no sentido de elevar o nível de cooperação económica para o mesmo patamar que o nível das relações de amizade existente entre os dois povos. “Com a visita do Presidente Miguel Díaz – Canel vamos também dinamizar o actual quadro das cooperações entre os dois povos, que precisam de ser ajustadas à nova realidade dos nossos povos e ao contexto do mundo”, avançou.
De refereir que a convite do seu homólogo, o Presidente João Lourenço vai igualmente deslocar-se a Havana, nos dias 15 e 16 de Setembro, para participar na Cimeira do chamado “Grupo dos 77”, que o país caribenho passará a presidir. O Grupo dos 77+China é uma co- ligação de países, fundada em 1964, e vocacionada para a promoção dos interesses económicos colectivos dos membros, bem como a criação de uma maior capacidade de negociação conjunta.
Cuba reafirma compromisso com Angola
O Presidente da República de Cuba, Miguel Díaz – Canel, que também retribuiu os agradecimentos por todo apoio que a República de Angola tem prestado ao povo cubano, nos momentos dramáticos que este enfrentou nos últimos anos, considerou que as relações entre os dois países foram sempre caracterizadas pelo respeito mútuo, união e solidariedade. De sua parte, ficou o compromisso de continuar a manter a cooperação económica, político-diplomática e de amizade que sempre existiu entre os dois países. Enalteceu ainda o importante papel que Angola tem desempenhado na pacificação da África Austral e da Região dos Grandes Lagos, sublinhando que Cuba espera beber da experiência de Angola, numa altura em que vai assumir a presidência do Grupo dos 77.
Acordos
Os dois estadistas testemunharam a assinatura de três acordos de cooperação bilateral, nomeadamente o acordo para a promoção de investimentos entre as zonas francas e económicas especiais dos dois países, o acordo no domínio da saúde, concretamente, entre as Agências Reguladores de Medicamentos igualmente dos dois países e o acordo no domínio da cultura e turismo.
De salientar que as delegações ministeriais de Angola e de Cuba, encabeçadas pelos seus respectivos ministros das Relações Exteriores, Téte António e Bruno Rodríguez Parrilla, mantiveram esta Segunda-feira, no Palácio Presidencial, conversações oficiais sobre o estado da cooperação bilateral, enquanto os Presidentes João Lourenço e Miguel Días Canel de- batiam, num téte-a-téte, o presente e o futuro das relações entre os dois países.