O Governo da República de Angola tem vindo a acompanhar com grande inquietação a continuação do conflito militar na República do Sudão, que eclodiu a 7 de Abril de 2023, cuja prevalência tem vindo a registar uma grave deterioração, com impacto directo sobre a população e os mais de sete milhões de pessoas carentes de assistência humanitária, deslocados e refugiados, bem como a destruição de importantes infra-estruturas críticas para o desenvolvimento so-cioeconómico do país.
Neste contexto, Angola manifesta a sua preocupação pelo recente bombardeamento da Residência Oficial do Embaixador dos Emiratos Árabes Unidos, e face a esses desenvolvimentos, apela às partes em conflito a observar e fazer respeitar a Convenção de Viena sobre o Estabelecimento de Relações Diplomáticas, o Direito Humanitário Internacional e a Lei Internacional sobre os Direitos Humanos.
Angola exorta, por isso, as partes em conflito a privilegiar a via do diálogo inclusivo e a reposição da normalidade constitucional em harmonia com a Carta das Nações Unidas e o Acto Constitutivo da União Africana.
Para o efeito, o Governo angolano saúda a criação do Comité Presidencial Ad-Hoc da União Africana sobre a Crise no Sudão, encorajando as partes a participar na reunião prevista para este mês de Outubro, em Kampala, República do Uganda.
Angola defende o diálogo
Em análise, o especialista em Relações Internacionais, Afonso Botáz, referiu que Angola tem-se posicionado como um defensor do diálogo e da resolução pacífica do conflito, enfatizando a importância da unidade africana e da cooperação regional.
“Espera-se que mais iniciativas diplomáticas e mediadoras, apoiadas por países africanos e organizações internacionais, possam ajudar a alcançar uma paz duradoura no Sudão, embora os desafios sejam significativos devido à complexidade da situação interna”, disse Botá
O analista, que lamentou o facto de as disputas entre diferentes fracções étnicas estarem a atingir patamares altos, como o recente bombardeamento à embaixada árabe naquele país, afirmou que tal acto fere a Convenção de Viena sobre o direito de relações diplomáticas entre Estados e povos.
No que respeita ao isolamento do Sudão, sublinhou que um prolongamento do conflito pode levar a sanções internacionais mais duras e ao afastamento de parceiros comerciais, impactando a economia e a ajuda humanitária. “A falta de apoio externo poderia agravar a crise humanitária e dificultar a recuperação do país, levando a um isolamento político e económico significativo”, concluiu.
O conflito
O conflito no Sudão eclodiu em Abril de 2023, quando combates entre as Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido eclodiram em todo o Sudão. Além dos confrontos armados no Palácio Presidencial e na sede das Forças de Apoio Rápido, também foram relatados combates no Aeroporto Internacional de Cartum e no Aeroporto de Merowe.
Trata-se de um conflito que envolve disputas políticas e étnicas, acentuadas pela luta pelo poder entre diferentes fracções militares.
A par do Sudão, o continente africano enfrenta ainda conflitos no Leste da RDC, que opõe o país às forças rebeldes do M23, sob patrocínio do Rwanda, e ainda em Moçambique, concretamente na província de Cabo Delgado, que enfrenta, desde 2017, violência armada, tendo entre as causas conflitos religiosos entre diferentes denominações islâmicas, interesses sobre a terra e recursos naturais da região, presença de grandes projectos de extracção (com o maior investimento na história da África Austral no projecto de extracção de gás da Bacia de Rovuma), pobreza e desigualdade, tráfico ilegal de drogas, marfim e pedras preciosas, entre outras.