Paz, segurança, democracia, direitos humanos, desenvolvimento social, industrialização são alguns dos vários desafios que ainda persistem no continente africano, aponta analista, no dia em que o Continente “Berço” assinala mais um aniversário da União Africana
O analista político Osvaldo Mboco considera fundamental que os Estados africanos criem condições económicas e sociais, para se conseguir reter os talentos e fazer com que os africanos estudem em África, com qualidade, e desenvolvam as suas capacidades no Continente. Falando em entrevista ao jornal OPAÍS, Osvaldo Mboco lamentou o facto de muitos africanos, sobretudo jovens, não encontrarem as melhores condições de vida nos seus próprios países, facto que os força a emigrar para outros continentes.
O jovem analista lembrou que a África apresenta a população mais jovem do mundo, mas considera que é, ao mesmo tempo, a menos escolarizada, alegando haver um fraco investimento no ensino e investigação no próprio continente africano, sublinhando que toda e qualquer Nação para se desenvolver precisa de fazer uma aposta na educação e na investigação.
Apontou a falta de condições de vida e a insegurança que o próprio continente regista, como os principais factores que fazem com que muitos africanos procurem emigrar. Disse que movimentos migratórios acontecem um pouco por todo o continente, movido por conflitos civis, perseguições políticas, étnicas e religiosas, e também por falta de condições de vida. “Essa falta de condições de vida é o elemento chave da fuga de cé- rebros para a Europa e para outros continentes. Quando um quadro sai ou emigra, é uma força de trabalho que vai para projectar e desenvolver economias de outros Estados. A África precisa dos seus filhos e quadros, para ajudar no seu desenvolvimento e crescimento”, referenciou.
Inconstitucionalidade
No que respeita à questão política, afirmou que têm sido regista- das, ao nível do continente, mudanças inconstitucionais opera- das por via de golpes de Estado. Apontou também o surgimento de uma democracia ainda em fase embrionária, a politização do sistema judicial e outros poderes. Ainda no leque dos desafios do continente “berço”, considerou a questão da liberdade de expressão, que ainda não é uma realidade em muitos países, uma realidade que garanta a liberdade de expressão dos próprios cidadãos.
Apontou também a questão ligada a uma governação mais inclusiva, participativa, em que os Estados devem criar instrumentos e métodos para que a população participe muito mais na vida política do Estado, não simplesmente em época eleitoral, mas naquilo que são também as grandes decisões estruturais, por via de instrumentos como consultas públicas, referendos ou qualquer outro instrumento que permita uma maior participação e articulação entre o povo e quem governa.
Economia
Do ponto de vista económico, mencionou a fragilidade industrial que os países africanos apresentam, defendendo uma maior aposta nas infra-estruturas de apoio ao comércio, nomeadamente as estradas, aeroportos, portos e todas as estruturas determinantes para que o comércio e a economia dos Esta- dos circulem. “Temos ainda aqui um grande problema que tem a ver com o comércio intra-africano, que é um comércio incipiente. É um comércio em que, maioritariamente, os Estados praticam com terceiros Estados, daí que a zona de comércio livre continental, que é ambiciosa do ponto de vista do programa, mas que se torna opaca ou irrealizável face à própria instabilidade ou fraca capa- cidade de produção”, sublinhou. Defendeu para o sector social, o empoderamento da juventude, a sua formação, dar às mulheres as mesmas possibilidades de escolaridade que são dadas aos homens, quer também ao nível de empregos, e maior aposta nos sectores da educação e saúde no continente, que considerou ser dos piores a nível do mundo.
60 anos da união africana
No que respeita às políticas da própria União Africana, Osvaldo Mboco entende que a mesma se tem mostrado, do ponto de vis- ta prático, incapaz de dar respostas aos vários problemas que têm estado a assolar o continente africano. “Remete-nos aqui a uma reflexão para o papel da União Africana, dos blocos regionais e económicos. É preciso prestar maior atenção para aqueles que são os novos desafios, que são a defesa da integridade territorial, face aos novos riscos e ameaças à soberania dos Estados. E quando me refiro aos novos riscos e a ameaças à soberania dos Estados, estou aqui a dizer, necessariamente, a questão do terrorismo que desestabiliza o continente. Os crimes cibernéticos que têm estado a criar prejuízos nas empresas estratégicas dos Estados com as informações que são roubadas entre outros”, salientou.
Soluções
Para a busca de soluções, referiu que os Estados devem procurar soluções africanas para os problemas africanos e olhar para a questão ligada à solidariedade entre os povos. O 25 de Maio é considerado o Dia de África. Trata-se de uma celebração anual do dinamismo do continente africano que surgiu com o aniversário da fundação da Organização da Unidade Africana (OUA), actual União Africana, que completa, hoje, 60 anos de existência.