O Presidente Joe Biden vem para Angola. Qual é o sentimento da sociedade americana em relação às relações entre os dois?
A sociedade americana, especial- mente nos sectores político e empresarial, tem visto Angola como um parceiro estratégico crescente, especialmente à medida que expandimos as relações económicas, de segurança e culturais. A visita do Presidente Biden reflecte esse sentimento positivo e a importância que os EUA atribuem à parceria com Angola.
Como é que Angola é vista nos EUA ao mais alto nível?
Angola é vista como um país de relevância estratégica em várias áreas, incluindo energia, segurança regional e desenvolvimento económico. Os Estados Unidos valorizam Angola como um parceiro confiável em África, com potencial para fortalecer laços em prol da estabilidade e do crescimento mútuo.
A classe empresarial dos EUA vê Angola como um país de oportunidades? O que eles buscam quando procuram a nossa embaixada?
Sim, muitos empresários americanos consideram Angola um país de grandes oportunidades, especialmente nos sectores de energia, infra-estruturas e tecnologias emergentes. Eles procuram principalmente informações sobre o ambiente de negócios, facilitação de investimentos e parcerias em projectos estratégicos, como o Cor- redor do Lobito.
Em que posição podemos dizer que estão consolidadas as relações entre os dois países?
As relações entre Angola e os EUA estão num momento sólido e dinâmico. A colaboração económica, política e cultural tem se intensificado, e a troca de visitas entre os dois Presidentes marca um ponto alto neste processo de consolidação.
De 1994 a 2024, as relações entre os dois países sempre foram tênues. Quais foram os bons e maus momentos para se atingir o estágio em que vivemos hoje?
Tivemos momentos desafiadores, especialmente durante os primeiros anos pós-Guerra Fria. Contudo, os últimos anos têm sido marcados por uma aproximação crescente, graças à diplomacia activa, à paz em Angola e às reformas económicas que despertaram o interesse dos EUA.
Quais são os factores que pensa que terão contribuído para que os dois países hoje pudessem estar de braços dados depois de um início conturbado no passado?
A estabilidade política em Angola, as reformas económicas do governo, o crescente interesse americano por África e a disposição de ambos os países em dialogar sobre interesses comuns são os principais factores para o fortalecimento das relações.
Não há resquícios de saudosistas e conservadores que ainda olham para Angola de forma diferente, sobretudo no Congresso e no Senado?Ainda existem lobbies anti- Angola como no passado?
Embora existam vozes divergentes em qualquer democracia, o consenso geral no Congresso e no Senado é de que Angola tem dado passos significativos para se tornar um parceiro de confiança dos EUA. As questões do passado têm sido superadas por meio do diálogo e da cooperação.
A vinda de Biden a Angola é ou não uma vitória da diplomacia angolana?
Sem dúvida, esta visita é uma grande vitória da diplomacia angolana. Ela simboliza o reconhecimento dos esforços do governo angolano em promover reformas e fortalecer as relações internacionais.
Quais são as vantagens que Angola deverá tirar deste momento histórico? Devem ser dias trabalhosos para a embaixada ou não, senhor embaixador?
As vantagens incluem o fortalecimento dos laços económicos e políticos, além de novas oportunidades de investimento. Para a Embaixada, esses são dias de intenso trabalho, com vários desafios e procura para garantir o sucesso da visita.
No plano geral, Angola está na boca do mundo, isto é ou não resultado da política externa que vem sendo desenvolvida pelo Presidente João Lourenço?
Sim, o Presidente João Lourenço tem liderado uma política externa activa e pragmática que colocou Angola em destaque no cenário internacional, promovendo parcerias estratégicas e atraindo investimentos para o país. Entretanto, os resultados levam sempre algum tempo para que as pessoas sintam o impacto nas suas vidas.
É a primeira visita de um Presidente americano a Angola, depois de o Presidente de Angola ter sido recebido em solo americano. Qual foi o segredo, senhor embaixador, para tal êxito em pouco tempo?
O segredo está na consistência das reformas internas em Angola, no engajamento diplomático proactivo e no interesse mútuo dos EUA em fortalecer os laços com parceiros estratégicos em África. E, como disse o Presidente Biden em Novembro do ano passado, Angola é um destes parceiros estratégicos para os Estados Unidos da América.
No plano comercial, é o caminho certo para Angola fortalecer as relações com os empresários norte-americanos? Quais são os maiores interesses neste momento?
Sem dúvida. Os maiores interesses no momento incluem energia, infra-estrutura, mineração e tecnologia. O Corredor do Lobito também está a gerar grande interesse devido ao seu potencial transformador para a região.
Quais são os investimentos e a participação concreta dos norteamericanos neste projeto do Corredor do Lobito?
Há interesses paralelos ao projecto? Já existem empresas americanas interessadas em participar do desenvolvimento do Corredor do Lobito, seja na construção de infra-estrutura, seja em parcerias logísticas. Também há interesse em projectos paralelos, como o desenvolvimento de zonas económicas ao longo do corredor.
Que experiências política, social e económica se podem tirar da América para a nossa realidade?
Os EUA oferecem importantes lições em termos de governança democrática, desenvolvimento económico impulsionado pelo sector privado, e inovações tecnológicas. Angola pode inspirar-se no fortalecimento das instituições e na promoção de um ambiente de negócios favorável.
No plano cultural, existem algumas semelhanças entre Angola e os EUA?
Quais são as áreas em que se poderia atacar neste momento? Ambos os países partilham uma história complexa de diversidade cultural. Há espaço para aprofundar trocas culturais em áreas como a música, o cinema, a literatura e a preservação da memória histórica.
‘A diáspora angolana nos EUA tem acompanhado com grande expectativa essa visita histórica’
Foi de Angola onde saíram os primeiros africanos que foram escravizados e que contribuíram para a edificação deste país. Temos de valorizar este facto e, por esta via, aproximar ainda mais as populações.
Recentemente foram assinados acordos de geminação entre as cidades de Luanda e Newark, na Nova Jérsia, Malanje e Hampton, na Virgínia. Além de outras iniciativas que temos estado a promover ao nível da diplomacia económica.
Embora se possa atribuir mérito à diplomacia angolana, no geral, e ao Presidente João Lourenço enquanto seu timoneiro, acreditamos que o facto de um presidente americano visitar o nosso país, durante a sua presença enquanto embaixador, deve ter um certo sabor. Como têm sido estes dias?
Esses dias têm sido intensos, mas muito gratificantes. A visita do Presidente Biden é o ponto alto de muitos meses de trabalho diplomático e representa um marco importante na minha carreira como embaixador.
Mas aqui não se trata do embaixador Agostinho VanDúnem e da sua equipa de diplomatas, mas de todo um conjunto de trabalho diplomático desenvolvido pelo Ministério das Relações Exteriores e outros sectores, e particularmente pelo senhor Presidente João Lourenço.
Certos sectores políticos usam sempre a presença de lobbies para menosprezar o papel que a diplomacia vai desenvolvendo. O que pensa disso?
Os lobbies são uma realidade na política americana, mas não devemos subestimar o papel fundamental da diplomacia. O sucesso das nossas relações bilaterais é fruto de um diálogo aberto e de interesses partilhados entre Angola e os EUA.
Como pensa que será o ‘day after’ após a visita do Presidente norte-americano?
A embaixada está preparada para a demanda e solicitações que possam surgir da sociedade americana? Após a visita, esperamos uma intensificação das relações comerciais e diplomáticas.
A Embaixada está preparada para atender esta procura e aproveitar as oportunidades que surgirão. Temos a expectativa que no país tem havido um trabalho dedicado para a melhoraria do Ambiente de Negócios ou o Doing Business.
Como é que vive a diáspora angolana aí radicada esses dias de ansiedade?
A diáspora angolana nos EUA tem acompanhado com grande expectativa essa visita histórica. Eles veem a visita como um sinal positivo de que Angola está no caminho certo e que as oportunidades de engajamento entre os dois países estão crescendo.
A eleição do presidente Donald Trump trouxe mudanças significativas nas relações internacionais dos Estados Unidos. Como o senhor avalia a sua eleição e o impacto que ela pode ter nas relações entre Angola e os EUA, especialmente no contexto económico e político?
A eleição do presidente Donald Trump representa uma nova fase nas relações entre os Estados Unidos e o mundo, incluindo Angola. Embora a sua futura administração demonstre uma abordagem mais assertiva e focada na negociação de acordos bilaterais, acredito que o compromisso com o fortalecimento da economia global e a promoção de parcerias estratégicas serão fundamentais para Angola.
Esperamos que, sob a sua liderança, haja um maior aprofundamento da cooperação no sector energético, infraestrutura e investimentos, áreaschave para a nossa economia. A relação entre os nossos países está madura e nossa expectativa é que o governo de Trump reconheça e aproveite as oportunidades que Angola oferece como um parceiro estratégico na África.
A administração Trump tem adoptado uma postura de maior foco em acordos bilaterais e parcerias estratégicas. Quais são as principais áreas de cooperação que Angola considera prioritárias para fortalecer sua relação com os EUA nos próximos anos?
Angola vê grande potencial na parceria estratégica com os Estados Unidos, especialmente nas áreas de energia, infra-estrutura e comércio. Acreditamos que uma colaboração mais estreita nos sectores de petróleo, gás e energias renováveis pode beneficiar ambas as partes, dado o potencial que Angola tem como um importante fornecedor de energia na África.
Além disso, o sector agrícola e a tecnologia de informações oferecem oportunidades substanciais para expandirmos a nossa cooperação. Esperamos que, com o apoio da administração Trump, possamos estabelecer novos acordos que promovam investimentos significativos, criação de empregos e desenvolvimento sustentável em Angola.
Com a chegada da nova administração em Janeiro de 2025, acredita que haverá mudanças nas políticas dos Estados Unidos em relação à África e a Angola. O senhor acredita que haverá uma visão renovada sobre o continente africano, e como isso pode beneficiar Angola especificamente?
Acreditamos que a administração Trump vai reconhecer a importância crescente de África no cenário global, tanto em termos de recursos naturais quanto do seu papel no desenvolvimento económico e geopolítico.
A renovação do foco americano em África pode trazer benefícios significativos para Angola, particularmente na promoção de investimentos em infra-estrutura e na expansão do comércio bilateral.
Além disso, Angola, como um dos países mais estáveis e com grandes potencialidades no continente, está bem posicionada para ser um parceiro estratégico para os EUA. Com a nova administração, podemos esperar uma maior colaboração em áreas como segurança, governança e desenvolvimento de infra-estrutura.
O presidente Donald Trump foi muito criticado no seu primeiro mandato pela sua postura em relação a questões globais, incluindo os direitos humanos. Como Angola pretende lidar com essas questões nas interacções com a nova administração americana, considerando o contexto de diplomacia pública e desenvolvimento sustentável?
Angola tem um compromisso firme com a paz, a estabilidade e o desenvolvimento social. Como país em processo de transformação, estamos focados em melhorar a qualidade de vida de nossa população e em promover boas práticas de governança.
Na interacção com a administração Trump, a nossa abordagem será de diálogo aberto e construtivo, destacando os avanços que fizemos e as áreas em que podemos continuar a colaborar para melhorar ainda mais.
Em relação aos direitos humanos, Angola valoriza o diálogo e a cooperação internacional e acredita que, através de parcerias com os EUA, podemos fortalecer as capacidades locais e promover um ambiente de paz e inclusão.
Num cenário em que a rivalidade com a China continua a ser uma questão central para a política externa dos EUA, como Angola pode equilibrar sua relação com os Estados Unidos, mantendo ao mesmo tempo a sua parceria estratégica com a China?
Angola adopta uma política externa de não alinhamento, baseada no princípio da diversidade de parceiros e no respeito pela soberania nacional. Com a China, temos uma parceria estratégica fundamental, especialmente em áreas como a infra-estrutura e financiamento de grandes projectos.No entanto, isso não impede Angola de buscar e fortalecer as suas relações com os Estados Unidos e outros países.
Acreditamos que a diplomacia multilateral é a melhor forma de garantir o desenvolvimento sustentável, equilibrando as nossas relações com diferentes potências globais.
A nossa prioridade é garantir que as parcerias com a China e com os EUA, assim como com outros países, sejam benéficas para o crescimento e prosperidade do nosso povo.