A organização aponta caminhos para que o país atinja a autossuficiência alimentar e nutricional, no âmbito do combate à seca, à pobreza e no alcance da segurança alimentar
A segurança alimentar e as acções do Executivo angolano para conter os efeitos das alterações climáticas no sul do país foram abordadas, recentemente, em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, durante a reunião da segunda Comissão da Assembleia Geral da ONU, que decorreu sob o tema “Construir uma recuperação sustentável para todos”.
Por ocasião do referido evento, o representante permanente de Angola junto das Nações Unidas, Francisco José da Cruz, apontou, na sua intervenção, os projectos estruturantes para tornar as comunidades rurais das províncias do Cunene, Huíla e Namibe mais resilientes. O diplomata angolano fez referência ao projecto do Cafu, orçado em mais de 130 milhões de dó- lares, que consiste num sistema de captação e transferência de água do rio para várias aldeias da província do Cunene, através de um canal com 160 km de extensão, e que prevê beneficiar mais de três milhões e meio de pessoas.
Durante a abordagem, o embaixador falou do “Diálogo Nacional sobre Sistemas Alimentares”, no âmbito da Segunda Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do país, com vista a promover um sistema alimentar sustentável para erradicar a fome. No quadro dessa abordagem, o director da Acção para Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), Carlos Cambuta, afirmou que Angola tem urgência em melhorar os seus sistemas alimentares, apontando para a necessidade de se adoptar um conjunto de práticas que concorram para o fomento à produção agrícola, para que o país se torne autossuficiente alimentar numa perspectiva de curto e médio prazo.
Para Carlos Cambuta, investir no sector agrícola é crucial, o que significa que o Orçamento Geral do Estado (OGE) deve alocar verbas que possam permitir ao Ministério da Agricultura desenvolver a sua missão que visa estimular a produção agrícola nacional. “Para ter uma ideia, a declaração de Malabo refere que os Estados membros da União Africana de- vem dedicar dez por cento do total do Orçamento Geral do Estado para o sector da agricultura. Angola tem alocado nos últimos 25 anos menos de três por cento, uma percentagem muito irrisória quando comparada com a recomendação da declaração de Malabo sobre aceleração da agricultura em África”, manifestou.
Para além do aumento de recursos financeiros, o director da ADRA apontou a necessidade de se trabalhar para melhorar um conjunto de factores que concorram para o fomento da produção agrícola, nomeadamente o reforço das competências das administrações municipais, concretamente as estações de desenvolvimento agrário com recursos humanos, materiais e técnicos.
“Há mais de 10 anos que o Ministério da Agricultura não procede ao recrutamento de técnicos agrários, os poucos recursos humanos existentes nas administrações municipais tendem a migrar do sector da agricultura para outros sectores que proporcionam melhores condições de salário e de trabalho”, sublinhou.
O responsável falou também da necessidade de haver uma artculação institucional, alegando que a agricultura não vai ser apenas desenvolvida por via do Ministério da Agricultura, pois existem outros ministérios cujas competências têm muito a ver com a importância de fomentar a produção agrícola, apontando os Ministérios das Obras Públicas, do Comércio e Indústria e da Educação.
Merenda Escolar
A aposta na distribuição da me- renda escolar é também uma política fundamental, segundo Carlos Cambuta, que considera se tratar de uma medida que vai fomentar o aproveitamento da produção nacional, motivando os camponeses na produção nacional.
Seca no Sul do país
Relativamente ao Sul de Angola, a ADRA referiu que tem estado a defender a necessidade de se adaptar naquela região, o hábito de poder multiplicar as experiências relativas ao desenvolvimento da agricultura com base nas culturas resistentes à seca. “Estamos a falar da mandioca, do massango, da massambala, da batata-doce, entre outras culturas que são resistentes à seca”, avançou. Disse haver já no Cunene experiências de algumas associações e cooperativas familiares que se dedicam a essa prática, mas essas experiências não estão expandi- das em todos os municípios. Para que isso possa acontecer, defendeu o reforço na assistência técnica na facilitação do acesso ao crédito agrícola, no processamento, entre outros.
“Há também a necessidade de se aproveitar o potencial hídrico da- quela província, nomeadamente do Rio Cunene e agora o canal do CAFU, no sentido de desenvolver uma agricultura de irrigação para evitar a dependência das chuvas” salientou. Considerou, por outro lado, o Canal do Cafu um projecto importante e necessário para aquela região Sul do país. “É importante que as famílias possam ter maior proveito desse project. Portanto, há esta necessidade de se concluir o projecto com derramares de irrigação, mas isso tudo passa pela necessidade de trabalhar com as famílias, estimulando-as para que possam ter acesso às terras e motivadas em desenvolver esta actividade agrícola e ter a garantia da segurança alimentar e nutricional”, concluiu.