No âmbito das celebrações do 49.º aniversário de Independência Nacional, a rubrica “O jovem e a Independência” da presente edição do jornal OPAÍS traz a visão do jovem escritor e comunicólogo Lopes Baptista.
Nesta breve entrevista, Lopes Baptista defende a mudança de mentalidade, tanto a do cidadão comum como a das autoridades com poder de decisão, a fim de se concretizar o sonho de uma Angola melhor para todos.
O jovem escritor apela ainda para a melhoria do funcionamento das instituições e da qualidade das infra-estruturas a serem construídas, no âmbito dos ganhos da Independência Nacional. O povo angolano está a celebrar, no mês em curso, 49 anos da sua Independência
Nacional. De igual modo, prepara-se para comemorar, no próximo ano, os 50 anos de Independência. Enquanto jovem, que análise faz destes 49 anos de Independência Nacional?
Foram 49 anos com alguma turbulência, porque, depois da pro- clamação da Independência Nacional, seguiram-se vários anos de conflito armado, associado a outras práticas, que não permitiram o melhor desenvolvimento do país, que podia ser reflectido na qualidade de vida de cada cidadão.
Os ganhos da Independência Nacional até aqui alcançados, têm sido preservados pelos angola- nos? A circulação de pessoas pelo território nacional, que considero um dos ganhos, podia ser melhor.
Seria importante cultivar o hábito nas pessoas de andarem por Angola, que implicaria esquecerem as preocupações básicas para sobrevivência. Outros ganhos, como a construção de mais escolas nos variados níveis, hospitais, habitações, e outros, são visíveis, mas sua preservação depende de vários factores, como a educação.
As pessoas precisam ser educa- das, terem urbanidade e tornarem-se cidadãos capazes de preservar os investimentos feitos durante este período, sem deixar de parte a qualidade dos referidos investimentos. Há 49 anos que o povo angola- no é soberano e livre da opressão colonial portuguesa.
Acha que a reconciliação nacional entre os próprios angolanos foi consolidada? Reconciliação é um processo que vamos alcançar plenamente, quando começarmos a entender que a guerra não foi benéfica para todos lados, os que morreram foram angolanos, que muito poderiam contribuir para o desenvolvimento deste país.
Quando aquele que tiver o poder de tomar alguma decisão, por menor que seja, seja na Assembleia Nacional, nas instituições públicas e outros organismos, deixar o seu ego e pensar no país que queremos construir, uma Angola rica e bela para todos, o cidadão precisa entender que pode fazer diferente, que a dificuldade não deve ser motivo para passar pelos outros, estaremos a caminhar para uma verdadeira reconciliação.
Todos os angolanos, de Cabinda ao Cunene, são chamados a participar, no próximo ano, da grande celebração dos 50 anos de Independência Nacional. Entretanto, olhando para as dificuldades de vida que aumentam a cada dia, acha que o povo se revê nessas celebrações? São 50 anos de Independência, e devemos celebrar.
Penso, por exemplo, na comemoração dos 50 anos de independência ver as aldeias a saírem daquele formato típico de casas de adobes ou feitas de capim, sem electridade e nem espaço de lazer.
Anseio nestas comemorações ver concursos de leitura, de redacção, de soletração em toda extensão do território nacional, livros a serem distribuídos, ou a criação de bibliotecas comunitárias. 50 anos de Independência precisam significar crescimento na vida de cada criança, de cada adulto, para que seus actos sejam feitos em consciência nos próximos 50 anos.