Angola vive um momento ímpar na sua história com a chegada do Presidente dos Estados Unidos da América Joe Biden, o primeiro Chefe de Estado americano a deslocar-se ao nosso país para uma visita de 3 dias dividida entre Luanda e Benguela.
No encontro oficial entre os dois governantes, numa recepção foi calorosa, à boa maneira angolana, foram abordados um conjunto de assuntos do interesse de ambos os países. Esta visita é resultado de um longo e consequente trabalho diplomático das autoridades angolanas e do empenho pessoal do Presidente João Lourenço que no encontro no Palácio da Cidade Alta proferiu a seguinte frase: “esta visita enterra um passado das nossas relações no quadro da guerra fria”, cujo alcance e a profundidade são inquestionáveis, tendo destacado anteriormente o crescimento que têm vindo a conhecer nas relações político-diplomáticas entre os dois países, iniciadas a 19 de Maio de 1993.
Por sua vez Joe Biden não foi menos profundo ao afirmar que está orgulhoso por visitar Angola, e que “o futuro do mundo está aqui em África, em Angola”. Foi mais longe ao deixar a garantia de que os Estados Unidos estão totalmente comprometidos com Angola, enfatizando que em “mais 20 anos, vocês serão o maior país e continente do mundo” referindo-se a Angola e África, dissipando eventuais dúvidas em relação ao olhar circunstancial, de ligeireza, ou a possibilidade do esfumar ou esfriar desta parceira a curto prazo que muitos defendem que irá ocorrer com ascensão de Donald Trump ao poder.
Como era expectável, ambos os líderes abordaram a cooperação futura em múltiplos segmentos, desde o combate à corrupção e a impunidade, o aprofundamento da democracia, a criação de um melhor ambiente de negócios, defesa e segurança, tecnologia, inovação, energia eléctrica, saúde, educação, ensino superior, alimentação, indústria, infra-estruturas, turismo, aviação, comércio, negócios, finanças e investimentos público e privado, com a uma verdadeira janela de oportunidades aberta em ambos o sentido.
Seguiu-se a visita ao museu nacional da escravatura, destacando-se um roteiro de mais de 400 anos de história e ao Corredor do Lobito na companhia dos Presidentes da RDC, Zâmbia e o Vice-Presidente da Tanzânia.
Não restam dúvidas que as relações entre Angola e os EUA irão conhecer uma nova dinâmica, uma nova era em que ambos os países invertem claramente o sentido da orientação política de décadas, num rompimento definitivo com o passado, com os americanos a olharem a partir de agora para África no plano estratégico, tendo iniciado um processo de transformação da visão americana em relação ao nosso continente com Angola na linha da frente, no sentido de recuperar espaço e muito tempo perdido para a gigante China, despertando no sentido de conter a influência do concorrente que nos últimos 25 anos expandiu amplamente a sua influência no domínio económico, financeiro e empresarial.
Destaco a coragem e a visão estratégica do Presidente João Lourenço que vem materializar as linhas chave da orientação diplomática angolana bem vincadas na constituição angolana, assentes numa visão de cooperação com todos os povos, multilateralista, livre, soberana, independente, de igualdade e de reciprocidade de vantagens, ou seja, “não-alinhada” tendo em vista, a paz, a justiça, o progresso e o desenvolvimento da humanidade, dissipando e enterrando de uma vez por todas o antagonismo ideológico do passado.
Relação esta que para ambos deverá ser: proveitosa, profícua, produtiva, de igualdade e fundamentalmente de estabilidade. Numa outra perspectiva não poderia deixar de analisar e lamentar o posicionamento anti-patriótico de muitos angolanos, alguns ao mais alto nível, que se manifestaram indisposta e negativamente num primeiro momento com a possibilidade da visita de Biden e posteriormente com a sua chegada.
Infelizmente houve demasiada gente a celebrar, a “lançar foguetes” devido ao anúncio do adiamento, alguns garantindo até que essa viagem não aconteceria e durante largos dias não se contiveram nas manifestações, no exteriorizar da sua felicidade pela suposta falha da investida diplomática do executivo angolano.
Mesmo em tom de brincadeira, ninguém aventava a possibilidade deste desfecho, mas é um facto, o Força Aérea 1 aterrou no Aeroporto 4 de Fevereiro com o líder mais importante do mundo a bordo.
E mal chegou as críticas não só se mantiveram como subiram de tom, desta feita, direcionadas à opção pelas tolerâncias de ponto decretadas em Luanda e Benguela e garantias de que a visita de Joe Biden não terá impacto na vida das famílias angolanas. Entendo que este passo importante irá certamente contribuir para a melhoria da qualidade de vida das famílias angolanas se o impacto económico dos acordos celebrados entre os Estados gerarem os resultados esperados.
A resposta só saberemos no futuro, ou seja, com o andar do tempo pois temos a necessidade de aproveitar o potencial do corredor do Lobito, que vai permitir o transporte de minério e outros produtos da Zâmbia e da RDC para América e outros destinos com maior rapidez e a melhor preço, estando conectado a um caminho de ferro que por sua vez liga a Zâmbia à Tanzânia, percorrendo o África ao meio e ligando o oceano atlântico ao oceano indico. Este potencial é fundamental para atrair um forte investimento dos EUA em Angola, para além de financiamento americano.
O grande desafio para Angola neste processo é justamente aproveitar a nossa posição geográfica privilegiada e esta aposta geostratégica para alavancar o comercio e a economia angolana, salvaguardando os nossos interesses através de projectos e iniciativas que promovam e ajudem a capitalizar esta parceria estratégica no sentido do desenvolvimento económico integral e sustentável do país e para a melhoria das condições de vida das populações angolanas.
Respeitando a liberdade editorial dos órgãos de comunicação social, o critério de noticiabilidade ou a linha editorial, estendo as minhas criticas à imprensa portuguesa no geral, que à semelhança do que nos vem habituando ignorou um acontecimento histórico de alto grau de positividade e importância para Angola, quando em sentido contrário, a cerca de mês e meio foi anunciado o adiamento da viagem do Presidente americano a Angola pelas razões sobejamente conhecidas, na mesma imprensa deu-se bastante destaque e relevância.
Noticiou-se, transmitiram-se debates, programas televisivos de horas sobre o cancelamento da viagem, onde certos comentários chegaram ao ponto de especular que a possibilidade da mesma sequer seria realista, tratando-se o anúncio como uma manobra de distração política para entreter as autoridades angolanas.
Fala-se tanto da Ucrânia, da Síria, de Israel, por motivos óbvios e porque não se fala de Angola com a profundidade que se impõe? Tendo em conta os laços históricos entre os dois países o normal seria o contrário até porque não se trata de um acontecimento qualquer mas percebe-se perfeitamente as motivações que não são nada positivas ou minimamente aceitáveis.
A cobertura deste momento histórico deveria ter sido feita em cima do acontecimento e não de modo tímido e reactivo como ocorreu horas depois. O mais curioso foi o enorme destaque dado pela mesma imprensa quando Biden aterrou em Cabo Verde, parecia que era o destino final da viagem, o que é lamentável.
Contrariamente a esta tendência negacionista, sentimos um enorme arrepio ao vermos o avião Força Aérea 1 a sobrevoar os céus de Luanda e aterrar no solo pátrio, se calhar idêntico ao que os nossos pais sentiram aquando da proclamação da independência a 11 de Novembro de 1975, pelo Saudoso Presidente Agostinho Neto.
Sem dúvidas um momento ímpar na luta pela liberdade económica de Angola, que reascende às esperanças de vermos Angola no trilho do progresso e do desenvolvimento econômico e na arena dos grandes desafios econômicos globais.
Termino, dando os parabéns ao Presidente João Lourenço pela eficiência e eficácia do trabalho diplomático de realizado e pela visão estratégica em pleno movimento em prol da melhoria da qualidade de vida dos angolanos. Seja bem-vindo a Angola Presidente Joe Biden! Viva Angola!
Por: Omar Ndavoka Abel