Insisto com os mais novos que o nosso foco não deve estar em criticar os feitos do Presidente da República. Ele tem toda uma equipa com quem se aconselha para tomar decisões.
Supostamente, são pessoas maduras, idóneas, experientes, competentes (e se não o são, que fossem), com visão tridimensional, futurista e holística, com conhecimento das metas, objectivos e alvos a alcançar no presente mandato (e se não a têm, que a tivessem); entidades que, melhor do que nós, estão abalizadas a dizer se o PR deve ir à esquerda ou à direita.
Mais do que isso, o próprio Chefe do Executivo é bastante experiente em matéria governativa, pelo que também pode dar-se ao direito de, na sua condição de titular do poder executivo, determinar para aonde cada um dos seus súbditos deve ir, o que fazer, o que dizer, etc., etc. Ouvi jovens menosprezando a ida do Presidente à Casa Branca.
Outros, sugerindo que Joe Biden, como qualquer americano, não dá ponto sem nó (significando que se ele promete algo de bom para os angolanos, certamente tirará, ele mesmo, maior proveito da situação).
Diante desta e doutras notas, o ditado “os cães ladram, a caravana passa” pareceu-me circunstancialmente ofensivo, porém, oportuno, pois, voltei a ver gente gastando tempo e energia com críticas e comentários enquanto JLo, no seu melhor, via um membro da marinha americana abrindo-lhe a porta do carro que o transportara até à Casa Branca.
Ora, que entre as nações não há “favores”, isto é óbvio. Como bem disse o empresário Fortunato Domingos “Chalé”, «até nós, com uma boa quarta classe, percebemos bem que há ali um misto de interesses».
E concordei com o mesmo quando disse «Nós temos de nos capacitar para tirarmos o maior proveito possível de todas as oportunidades que nos surgirem em cada contexto, ao invés de entrarmos em fúteis discussões.» E isto começa individualmente.
Se não nos focarmos na nossa capacitação, se não investirmos no nosso crescimento intelectual e material, continuaremos a criticar o Presidente da República por tudo o que não conseguimos na vida, por todos os sonhos que não realizamos, por todas as decepções que nos abraçarem.
Pessoas mais atentas estão a se preparar “a todo o vapor” para as eventuais demandas que as parcerias internacionais, e particularmente com os americanos, nos submeterão.
E um primeiro passo pode ser o domínio da língua inglesa. Mas pode-se já ir pensando, a guisa de exemplo, como é que tiraremos proveito da chegada da Hilton?! É só uma rede de hotéis (mais de duas mil unidade hoteleiras pelo mundo), que se anuncia a entrar em Angola com uma unidade em Luanda e a gestão de um complexo em Cabinda.
E há outros empresários e investidores a caminho. Estamos prontos para os receber e com eles formar parceiras ou estamos preocupados a criticar a maneira de sentar das entidades? Gosto de ver o PR seguindo firme a sua estratégia, independentemente do que se diz dele.
Creio que João Lourenço sabe muito bem que é mesmo perigoso coabitar e andar de mãos dadas com alguém que nunca elogia, nunca reconhece o mérito das grandes obras; se calhar, é mesmo insano andar aconselhado por quem nunca valida o bem que não lhe beneficia particularmente, que nunca aplaude os grandes feitos, que nunca aprova o bem só porque acredita na existência de algo melhor; ao seu nível, JLo deve estar acostumado a ignorar àqueles que só por sonhar com feitos astronómicos e ilusórios, não reconhecem a vantagem dos pequenos feitos; Há gente que vê sempre o elogio como bajulação.
Temos de construir uma Angola onde oponentes, rivais e adversários, sejam políticos ou desportistas, não tenham de ser necessariamente inimigos.
Onde os que pensam diferente possam reconhecer o mérito de uma estratégia melhor que aquela por si pensada. As próximas gerações não podem nascer e crescer numa angola onde confia-se mais na máquina que no seu fabricante ou operador.
E isto pode começar já, com um voto de confiança na nossa própria capacidade de tirar proveito das parcerias feitas com quem tem experiência, dinheiro e interesses.
Quem não vê nada de bom na parceria com os EUA ao menos reconheça que JLo conseguiu o que muitos sonham e, lamentavelmente, poderão morrer sem ver o sonho realizado, a saber: entrar na “Sala Oval”, dar a mão ao presidente da nação mais poderosa do mundo e ouvi-lo dizer “és importante”.
Temos de nos dar importância, temos de nos juntar para sermos maiores; se vierem estrangeiros a querer tirar as nossas riquezas devemos pedimos algo em troca, pois, só criticar, não ajuda.
Ver defeito em tudo não pode ser virtude. Defraudar o bom nome do próximo é também, sim, um mal a combater entre nós. O nosso foco deve ser capacitar-se e empreender trabalhando.
Por: MANUEL CABRAL