Não é tão simples quanto parece responder à questão acima. Aliás, não é por acaso que não há, entre os académicos, um consenso sobre esse assunto. Há os que negam e os que aceitam, equilibradamente.
Mas, afinal de contas, vale ou não corrigir as pessoas que dizem, por exemplo, “vi ele” e “li amo”? É disso que falaremos a seguir.
A palavra “corrigir” sugere haver duas formas distintas, uma errada e outra certa, que buscam traduzir uma única realidade.
Neste sentido, em relação à fala, muitos entendem que tudo o que se distancia da norma gramatical está errado.
Nada mais, nada menos. E há quem diga isso num tom mais radical, como é o caso de Carlos Drummond de Andrade. Para este célebre escritor, citado por Vaz (1891, pág. 101), “A língua portuguesa está a ser tão maltratada e ofendida, que poderá não existir até ao ano dois mil”.
Oxalá tenha ficado claro que há um grupo de pessoas que não tolera as variações linguísticas, os desvios à norma padrão.
No entanto, a par desse grupo, há outro que defende a ideia segundo a qual a norma gramatical não é a única forma de se falar o português: há outras além dela.
E cada uma é útil num contexto específico de comunicação. Este último grupo também defende que não se pode confundir “variação linguística” com “corrupção linguística”.
O primeiro é cientificamente/ linguisticamente explicável; o segundo não. É uma opinião produzida por um nacionalismo radical. Assim sendo, ninguém fala por mero acaso.
Todos os falantes se servem das regras das suas variantes para expressar ideias, mesmo que tal forma não seja aceite pela gramática.
O que se recomenda é que cada um saiba adequar o seu discurso ao meio em que se encontra, pois a gramática não é a essência de todo o saber idiomático.
Mas muitos dos que defendem que vale “corrigir” a fala alheia são guiados por um nacionalismo radical e tomam tudo à luz do etnocentrismo cultural.
Acham-se senhores de uma língua “pura”, colocando os demais falantes na categoria de “bárbaros”, como faziam os romanos.
As pessoas têm o direito de aprender qualquer que seja a norma, e não é porque falam errado, porém porque isso lhes dará as ferramentas comunicativas necessárias para interagirem em diferentes contextos.
Portanto, se esse for o sentido de “corrigir”, isto é, dar aos falantes mais ferramentas comunicativas, torná-los <<poliglotas>>, ensiná-los, então, sim, pode-se corrigir livremente.
Se, no entanto, esse termo for aplicado no sentido de dar às pessoas a única forma de se falar o português, darlhes a língua “pura”, então, não se deve corrigir a fala dos outros.
Por: Famoroso José