Em verdade, estimados iluminadores de mentes obscuras, eu digo-vos: é preciso ser ousado para se mostrar o que se pensa e partilhar com gente que pense diferente de nós para que aprendamos novas ideias. Há dias, notei uma situação repugnante numa das redes sociais.
Um amigo fez uma publicação a respeito de um assunto que me chamou a atenção, por isso, despreocupado, deixei o meu comentário na sua postagem.
Nesse comentário, a princípio, concordei com uma parte, porém discordei de outra, tendo mostrado argumentos suficientes.
No entanto, para o meu espanto, depois de 10 minutos, já não conseguia ver o meu comentário no seu post.
Conseguia ler apenas comentários de pessoas que concordavam com ele em tudo, o que me deu a entender que o meu comentário tinha sido eliminado por mostrar um contraditório.
Dado o exposto, fazendo uma analogia com a real situação educacional do nosso país, julgamos que tudo isso seja fruto de uma educação infrutífera gerada pelo medo de quaisquer questionamentos por parte dos alunos.
Parece-me que “ninguém” está preparado a ouvir ideias contrárias às suas. Todos gostamos apenas quando concordam connosco. O professor infeliz detesta alunos que remam contra a maré.
A educação precisa de se libertar para as descobertas de novos horizontes. Privar o discente de quaisquer questionamentos é o mesmo que cortar as asas de uma águia para que voe sempre como galinhas.
Na nossa “Ngola” isso acontece de forma amiúde. O professor que não permite seus alunos voarem é mais perigoso do que uma bomba atómica, pois esse destrói uma sociedade.
A educação não se faz com fanáticos, esses que pensam que são detentores de uma verdade incontestável, “que se agarram à verdade como um cão a um osso”; alguns dogmas arcaicos precisam de ser submetidos ao questionado, senão continuaremos estáticos.
A educação é motor de uma sociedade, por isso precisa de ser ousada para novas descobertas.
Tomando por empréstimo as palavras de Russell, a educação deveria ter dois objectivos basilares: Primeiro, oferecer um conhecimento definitivo, leitura e escrita, linguagem e matemática, e assim por diante; Segundo, criar hábitos mentais que capacitem as pessoas a adquirir conhecimento e a formular julgamentos sólidos.
O primeiro podemos chamar de informação; o segundo de inteligência. Logo, afirmamos que a utilidade da informação é admitida na prática, bem como na teoria; sem uma população letrada, um Estado moderno é impossível.
Mas a utilidade de inteligência é admitida apenas teoricamente e não na prática: não é desejável que pessoas comuns pensem por si mesmas, porque se presume que essas pessoas são difíceis de controlar e causam dificuldades administrativas.
Só os guardiões, na linguagem de Platão, podem pensar; o resto deve obedecer ou seguir líderes como um rebanho de carneiros. Infelizmente, é essa doutrina que corrompe radicalmente todo o sistema de educação em Angola.
O professor tem uma missão íngreme no combate à ignorância de uma nação, por isso não basta estudar para ensinar. É necessário, antes de tudo, ser vocacionado para desempenhar com zelo e diligência este espinhoso trabalho, porquanto a docência é uma missão de gente nobre.
Logo, asseveremos que só um educador competente é que consegue excitar a inteligência de um aluno.
Por isso, caríssimos professores, meus prestimosos colegas, sejamos mais humildes. A humildade científica ainda tem o seu valor, aliás, nós também podemos aprender com os nossos discentes.
Deixemo-los voarem, pois o processo de aprendizagem não se faz com meros repetidores de ideias prontas. Daí que somos todos eternos aprendizes, porque aprendemos também com os nossos petizes.
Por: Xavier Guialo