Chegar a Beijing depois de 15 horas de voo foi o primeiro passo numa jornada que eu nunca esquecerei. A cidade, moderna e histórica ao mesmo tempo, parecia uma recepção ideal para quem, como eu e os meus colegas angolanos de diferentes jornais, estava ansioso para entender um pouco mais sobre a China contemporânea.
A viagem, organizada pela Embaixada da China em Angola, foi organizada para nos apresentar o coração político e cultural deste gigante asiático. A primeira parada: o Museu do Partido Comunista da China (PCCh), um local que é muito mais do que um edifício; é uma verdadeira imersão na história e ideologia de uma nação que se reinventa todos os dias. Ao aproximar-me do museu, a grandiosidade da arquitetura já impressionava.
O edifício moderno, com linhas arrojadas e fachada imponente, deixa claro o simbolismo do partido na trajectória chinesa. Conhecido como a “Casa Espiritual do Partido”, o museu é uma celebração do centenário do PCCh.
A expectativa crescia enquanto adentrávamos um espaço que, mais do que um museu, é uma crônica de resistência, resiliência e transformação. Logo na entrada, fui recebido por um imenso mural digital que retrata a fundação do partido em 1921.
A apresentação é rica em detalhes e organizada cronologicamente, conduzindo os visitantes pelos eventos que moldaram o país: desde as invasões japonesas, a Longa Marcha e a fundação da República Popular da China em 1949, até a modernização sob o comando de Deng Xiaoping e a ascensão económica nas últimas décadas.
Exposições interativas e tecnológicas
O museu é um exemplo de como a China mescla a tradição com a tecnologia de ponta. Com recursos audiovisuais em Ultra HD 4K, as exibições incluem fotografias, documentos originais, artefactos históricos e até mesmo simulações digitais das reuniões e batalhas mais significativas.
Assisti a vídeos interativos que nos transportam para momentos decisivos do partido, como a Longa Marcha do Exército Vermelho, um feito heroico que consolidou a resistência comunista e é celebrado até hoje.
Além dos vídeos, há recriações detalhadas do Primeiro Congresso do PCCh em Shanghai, onde a jornada do partido teve início numa pequena sala com apenas 13 membros.
A forma como o museu conecta estes eventos históricos com a China moderna é inspiradora e deixa claro o quanto o país valoriza a sua trajectória, por mais dura e desafiadora que tenha sido.
À medida que avançávamos pelas galerias, o impacto emocional era crescente. A cada sala, objectos históricos como uniformes, bandeiras e documentos originais revelavam a luta e o sacrifício daqueles que acreditaram no ideal comunista.
Uma das peças mais impactantes foi uma cópia da primeira Constituição do partido, cercada por fotografias dos fundadores, que parece quase sagrada na forma como é exibida.
Senti uma conexão quase tangível com a história ao observar as cartas de Mao Zedong, cuidadosamente preservadas e exibidas como testemunhos de uma era em que a revolução parecia um sonho distante.
Reflexão e admiração
Ao deixar o museu, senti-me imerso numa cultura de reverência à história e um profundo respeito pelo sacrifício colectivo. O PCCh não é apenas uma força política; é uma parte indissociável da identidade chinesa.
O museu não deixa isto em segundo plano, e senti-me verdadeiramente privilegiado por ter experimentado esta imersão tão autêntica. Saí do Museu do PCCh não apenas como um visitante, mas como alguém que pôde testemunhar de perto a importância que os chineses dão à memória, à perseverança e ao seu caminho único de transformação.
Por: João Feliciano
*Jornalista