A arte de educar-se e ser educado exige dos que nela se exercitam um papel de artista Numa altura em que a educação, fenómeno sócio-humano, é trazido à baila temática e com valor artístico, faz-se necessário (a nível de ideias) e também útil (com valor prático) recorrer à ementa basilar, aquela segundo a qual ao tirar de dentro para fora, seja na sala de aula ou fora dela, só pode educar quem for realmente educado.
Este modo de olhar para a educação, obedecendo o primado do exercício consequente, sob a tónica da arte de educar e outra de educar-se a si próprio, à luz da reflexão elencada, é na verdade uma inversão premeditada, que enfatiza o processo de ensino em detrimento da aprendizagem, eleva o professor e promove a subordinação constante do aluno, todavia quando problematizada, traduzse, por conseguinte, na arte de educar-se e somente depois educar, pois que, a acção de agir e despertar o outro em virtude da educação, exige de quem o faz ser portador dos valores inerentes a ela.
A construção do temário nos moldes acima, é de valor necessário para os seus intervenientes, não no sentido holístico ou macro ao nível de concepção das políticas educativas, e sim ao nível micro da materialização dos planos e programas curriculares.
Olhar ao professor como sujeito dotado de conhecimentos, competências e valores necessários à concretização da prática docente, com uma alma sensível e inteligível para modelar e ser modelado na relação contagiante e de profundos propósitos com os alunos.
Nestes tempos de distinta pressa e demandados por avanços em quase todos os domínios de actuação, alunos e professores vêem seus perfis a serem cada vez mais complexados, na medida em que são chamados a tomar posições consentâneas dentro do processo.
Assim, neste particular, em que a acção de educar-se possui um carácter artístico, ser aluno equivale a ser, antes, um contemplador das suas próprias acções, e mais tarde das acções do professor, de tal modo que consiga enxergar os momentos mais oportunos para intervir, questionar ou opinar diante das temáticas construídas e partilhadas, onde a ideia de subordinação, figura dependente do professor não é mais bem-vinda num contexto em que adoptar o papel de artista se faz necessário.
A Didáctica ou arte de ensinar, na perspectiva de Ratke (1961), reflecte-se num importante activo para a mudança de concepções e posturas comprometidas com o bem.
Neste prima ela é necessária para todas as instituições sejam elas públicas ou privadas, encarregadas de dar aos alunos o que for necessário para os dignificar.
Tanto o primeiro (o professor) quanto o segundo (o aluno) cultivam e promovem ao longo do processo de interacção a alteração de papéis, modos de ver e afirmar-se, numa espécie de visão autogestionária do labor pedagógico.
A arte de educar também é tida, neste particular, como ruptura, inversão de certas visões grosseiramente normativas. Dentro de um viés pedagógico fechado a arte em questão torna-se cada vez mais oculta, menos atingível e quase que inexistente, pelo que se faz necessário olhar à ideia há muito propalada por (Veiga, 2012), da pedagogia enquanto ciência e arte de educar, onde para além do valor, da instrução, fazse uso de outras técnicas, por via das quais será possível substituir as normas afastativas pela comunhão de influências.
Tal pretensão faz ecos de renúncia aos mesmos métodos, às mesmas técnicas, às mesmas tendências pedagógicas, resultando, assim, no mesmo clima organizacional, enfim, de estar na mesma sala, sem ao menos poder desejar e ver-se mentalmente ou fisicamente fora.
A liberdade nesta forma de ver afirma-se pelo conjunto de possibilidades que se concede aos alunos e ao professor, ela é tão fundamental que passa também a ser vista como poder, porém deve ser cuidadosa e profundamente percebida, questionada e explorada, pois que, tal como no exercício artístico, a arte de educar não deva ser permeada pura e simplesmente por ela, considerando que, quando assim suceder, chegará a ser mais prejudicial do que a falta dela.
Em virtude das perspectivas até aqui afloradas, percebe-se, pois, que, hoje, na pós-modernidade, a arte de educar tem como fim último dar ao corpo e à alma toda beleza que lhes for susceptível com dignidade, seja no domínio teórico quanto prático.
Quanto à arte de poder educar-se, fica assim apodítico que é, antes e sobretudo, tarefa de todos os partícipes do processo, que não deva ser anulada sob o falso pretexto de se tornar professor, transferindo tal responsabilidade aos alunos, pois, se ambos negam abrir-se ao aprendizado nem para um, nem para outro serão dignos de ser.
Por: Fernando Adelino