O presente e-book é de autoria do escritor angolano Telmo Pires, intitulado “Suzana e o Menino da Jante ”, sua obra de estreia, publicado aos 21 de Dezembro de 2021, pertencente ao género narrativo, subgénero conto. Este conto é parte do livro “ Nó(s) e Luandas ”, o mesmo tem como ponto de partida a descrição do espaço da cidade de Luanda e a descrição da personagem principal Suzana.
A menina colocou o lanche na pasta e saiu. O sino da Paróquia Nossa Senhora de Fátima bateu na sua orelha para anunciar a hora 8 da manhã. Apesar do barulho do sino, a rua estava silenciosa.
Na estrada, carros trafegavam o tempo todo, destinos repartidos entre o trabalho na baixa de Luanda e a escola dos miúdos. A menina, desassustada, atravessou a estrada e passou para o lado da Macambira. Na estrutura partida, havia meninos a jogarem a bola.
O capim alto ainda conseguia camuflar os poucos que fumavam liamba lá ao fundo.
Na porta da nova Macambira, havia uma fila enorme de pessoas, carros, botijas… Faltava gás em toda a cidade. Suzana perpassou aquele perímetro todo sem pronunciar qualquer palavra.
Sentou-se num dos bancos perto do viaduto, apertou a blusa que estava na mão ao peito e suspirou: (Suzana e o menino da Jante, 2021, p. 6).
O ensino da literatura, até recentemente, pauta-se no ensino da valorização de conhecimentos de diferentes tendências, historicamente a identificar produções literárias. O homem sempre se reuniu para contar estórias, seja ela em mesa ou fogueira… esta era a forma de transmitir a sua história, criatividade, cultura, ou seja, mitos, ritos ou tradições provocando uma atmosfera de entretenimento.
Desta forma, a história do conto evoluiu do oral para o registo de estória escrita, onde não há obrigatoriedade de verossimilhança de factos. Segundo Soares (1989), conto é a designação da forma narrativa de menor extensão, possuindo os mesmos elementos que o romance, embora apresente características próprias.
“Suzana e o Menino da Jante”
De um ponto de vista estrutural, a função do título foi bem estudada, o que se pode dizer de imediato é que a sociedade, por motivos comerciais, tende a associar o texto a um produto comercial. Todo o título tem vários sentidos, pelo menos dois: 1 é aquilo que ele enuncia, ligado à contingência do que vem adiante; 2 é o próprio anúncio, este anúncio metalinguístico tem uma função aperitiva; trata-se de pôr o leitor com apetite.
Um nome próprio deve-se interrogar cuidadosamente, pois o nome próprio é o rei dos significados, suas conotações são ricas, sociais e simbólicas. Pode ler-se o nome Suzana em sua conotação. 1 presença de um código sócio-étnico: seria um nome francês? angolano? “ Suzana tem origem no hebraico, Shoshana, que significa lírio/ ou flor.
Suzana é um nome de forte simbolismo associado à delicadeza e à beleza de flores. A obra aborda eventos ocorridos em espaços como: Baixa de Luanda, Macambira, viaduto da unidade operativa, tourada, Kassequel do Lourenço, Mártires e aeroporto.
Nota-se que a nossa personagem, criança que é, vítima de falta de atenção dos demais membros da família, vivia em uma profunda angústia. — A minha mãe foi para o céu. Pelo menos, é o que dizem, já que ela não me despediu.
Toda a vez que passa um avião, eu sinto que é ela a chegar. O meu pai também olha para o céu. Mas fiquei cansada de esperar, vou visitar ela lá. Sabes onde fica o aeroporto? (Suzana e o menino da jante, 2021, p. 8).
Baixa de Luanda, Macambira, viaduto da unidade operativa, tourada, Kassequel do Lourenço, Mártires e aeroporto são espaços da narrativa e se admitirmos que o 1.º de Maio é o centro, então, podemos dizer que toda a narrativa é desenvolvida no centro da Província e os mesmos espaços não são fictícios, porque são todos reais e situam-se em Luanda, Angola/África.
O idioma falado maioritariamente é o português, uma herança colonial. Em suma, em Suzana e o Menino da Jante pode tirar-se inúmeras lições para o contexto da realidade angolana, principalmente quando perdemos um parente próximo.
Por: HÉLIO PANDA