Poucos se importam em, antes de comprar ou ao ler um livro ou um jornal, ver a ficha técnica; se assim o façam, os olhos não caem para o editor textual nem para o revisor linguístico.
Em Angola, a prática relacionada à revisão de texto é assegurada pelo artigo 9.º da Lei n.º 7/14 – Lei Sobre Publicações Oficiais e Formulários Legais. O revisor tem a função de garantir a qualidade de qualquer texto antes da sua divulgação e circulação pública, revendo todos aspectos gramaticais e aspecto da produção textual, principalmente, a coerência interna e externa do texto.
A qualidade de uma instituição, que trabalha com a escrita, está também nos seus textos, na ausência de um revisor linguístico nessas instituições, o papel de conferir a qualidade dos seus textos é entregue ao técnico de informática ou aos softwares de correcção automática com uma tecnologia muito limitada neste aspecto, uma vez que a prática de revisão humana exige uma adaptação do contexto específico de cada texto ou documento e uma validação das regras gramaticais mais ou menos complexas.
É claro que a edição e a revisão, de modo geral, poderão variar em função da natureza do texto, por exemplo, não se pode adaptar os critérios usados em um texto académico ou administrativo a um texto literário, tendo em conta as características internas e externas do texto.
Nestes textos, a revisão linguística é limitada porque respeita a expressividade das personagens (se for texto narrativo) e o estilo do autor, porém, é um equívoco defender a inutilidade da revisão linguística nos textos literários.
Por trás de muitos textos bem ou mal editados/revisados, há um revisor que não é tido nem achado, aliás, é achado em casos de erros na revisão. A não valorização dos serviços de revisão linguística (dos textos administrativos, académicos e literários) talvez seja por estarmos no País dos Todólogos, onde todos fazem tudo e, no final, não fazem nada.
A publicação de um texto, às vezes, só é possível graças ao empenho de um sujeito anónimo, visto que alguns textos têm mais a cara do revisor do que do autor, portanto o mérito de um editor/revisor reside no facto do texto/livro ser lido por muitos e ser uma referência, mas toda honra recai, justamente, ao autor do texto.
Por: ESTEFÂNIO JOSÉ CASSULE*
*Estudante de Letras