Séketxe é o nome de um grupo que apresenta um estilo musical híbrido e uma linguagem que traz a expressão da “maioria anónima”, a expressão do gueto. Segundo Varela (2021), “o grupo existe desde 2016 e teve como estilo inicial o estilo Kuduro.
O grupo é composto por Kokaina Preta, Djamba, Murtalha, Layfado e Banzelo”. As músicas em análise, quanto ao tipo, enquadram-se no estilo musical Rap. Quanto ao género, enquadram-se no género híbrido, uma junção de Rap e Kuduro, a que podemos denominá-lo de “Rap-duro” ou, então, por “Rap Cia” como o grupo tem considerado.
Enquadramos estas músicas ao género Rap-duro devido à fusão do BPM e por trazerem também uma velocidade rítmica uma linguagem típica que se assemelha ao kuduro.
Olhando à expressão “faz um coro”, percebemos que se trata de uma expressão muito utilizada entre os moradores dos bairros de Luanda e serve para acalmar os ânimos das pessoas, dar esperança e tranquilidade, pois pode significar “fica calmo”, “relaxa”, ou, de uma forma mais extensiva, poderá ser “mantenha cabeça fria”, “fica calmo, tudo dará certo” ou ainda “procure relaxar e seguir a vida”.
Na realidade, os seus significados vão variando de acordo com o contexto a ser utilizado. Já a palavra “Guetão”, não é utilizada para exprimir, simplesmente, o grau aumentativo da palavra gueto, mas, claro, entendemos “guetão” como uma expressividade estilística para elevar o nome dos bairros de Luanda, para expressar que, apesar de sermos subjulgados, excluídos de várias situações do país que serviria para beneficiar a população, continuamos firmes e fortes nas nossas convicções, pois o “guetão” representa todo indivíduo que vem do anonimato, todos aqueles que vêm dos bairros de Luanda e não só.
Portanto, a língua, enquanto produto social, vai acompanhando a dinâmica social dos seus falantes e registando as suas marcas. Como afirma Guiraud (1970), “a língua, uma expressão do homem, evolui com ele, com os costumes, os ideais e os usos que exprime”.
A vida nos bairros de Luanda tem sido um verdadeiro caos, uma vida repleta de pedras nos calcanhares. Muitos enterram os seus sonhos devido às dificuldades vividas, à falta de oportunidades, e vão enterrando os sonhos no alcoolismo, nas drogas, na delinquência ou na prostituição. Para estes, sentemse excluídos, abandonados pelo país.
Por fazerem parte de uma sociedade anónima, subjulgada pelo próprio Estado que os daria proteção e melhores condições de vida, preferem crer em Deus como a solução dos seus problemas e esquecer o Governo e o incumprimento das suas políticas.
Como se pode ver no trecho da música faz um coro: “o sofrimento rouba sonho que muda mente do meu bairro/ […] delinquência e prostituição, é muita fome e desemprego, vida apertada do meu bairro/ deposita fé no ngana Nzambi, único Governo do meu bairro”.
Sendo o desemprego e a pobreza fenómenos resultantes da exclusão social, nos bairros de Luanda, maioritariamente, os seus habitantes enfrentam no seu diaa-dia o dilema da exclusão social, sendo a pobreza a mais frequente.
Entendemos pobreza não apenas à falta de dinheiro ou de rendimento, ela ultrapassa os aspectos económicos, vai sendo a privação dos direitos de cidadania, como o acesso à saúde, à educação, à participação na vida social ou política, entre outros.
O índice alto de pobreza é característico aos habitantes dos bairros de Luanda, isto por parte daqueles que têm idade laboral, vai criando, para aqueles dependentes destes e não só, uma exclusão de alguns direitos e o mais frequente é a educação.
Estes vão largando as escolas e fazendo alguma coisa que seja rentável. Por exemplo, é frequente a verificação de crianças e adolescentes nos mercados a comercializarem ou então, para o caso típico dos rapazes, recolher resíduos, como ferro ou alumínio para algum sustento que nem sempre é para eles, muitas vezes é para a família toda.
Como se pode ver no trecho da música faz um coro: “nos viram perdidos tão cedo sem coragem de enfrentar o medo/ incapazes de seguir em frente/ não somos presos de pensamento/ larguei o lápis muito cedo, fumei uma parte do caderno”.
Por: Khilson Khalunga