E depois da euforia na folia eis que no mundo cristão, mais propriamente na religião Católica, celebra-se a quarta-feira de cinzas como sinal de arrependimento dos pecados cometidos.
Obviamente e convém deixar claro que o arrependimento é uma espécie de fardo do peso de consciência que nos apoquenta após um acto que viola os princípios de uma sã convivência em sociedade ou simplesmente daquilo em que acreditamos.
Para quem professa a religião católica na quarta-feira de cinzas é-lhes feito uma cruz na testa enquanto o padre diz “arrependei-vos e acreditai no evangelho”.
Com isto começa a Quaresma, uma época de sacrifícios e desafios em que os cristãos se propõem seguir de forma rigorosa e de modos a estarem um pouco distante dos erros do mundo. São só quarenta dias.
Para começar esse processo fui confessar-me. Num dia de semana comum logo após a quarta-feira de cinzas fui a uma igreja e busquei redimir-me dos meus pecados, fazendo uma limpeza àqueles demónios que de quando em sempre apoquentam minha sanidade.
Naquela dia a igreja estava consideravelmente cheia. Haviam pessoas de quase todos os extractos sociais desde os mais miseráveis na aparência aos mais bem vestidos mas que pelo rosto que faziam, quando de joelhos, carregavam todo o pecado que eu tinha.
Esperei pela minha vez e fui descarregar meus problemas ao padre que muito calmamente só ouvia e acenava com a cabeça sem fazer caretas. Foi mais uma conversa para ele do que confessar pecados.
Pela penitência que me foi dada pude perceber que ele não estava zangado comigo. Nem ele nem Deus: “Reze três pai nosso, dez Avé- Marias e um Credo”.
Mal saí e fui logo pagar a minha dívida em oração.
Depois senti-me um homem novo. Já estava pronto para seguir firme e santo.
Para o céu já podia entrar porque pequei, arrependi-me e pedi perdão de coração.
Prometi levar uma vida sensata e sem atropelos aos bons costumes.
Quando saía da igreja lembrei que tinha de comprar pão para casa e abastecer o carro. Tinha apenas uma nota de dois mil cuanzas porque os “miudinhos” de duzentos e quinhentos acabei deixando como oferta depois da oração.
Nem dinheiro no cartão mais tinha.
Eis que na porta quando ia para o carro, uma senhora com o rosto côncavo, pómulos claramente visíveis, de meia idade e vestida de panos da Mamã Muxima, vem até mim e começa logo a chorar dizendo: “meu filho ajuda a tua mãe.
Quero só marcar uma missa de uma ano de falecimento do meu marido.
Ele era assim como você, alto e bonito e não tenho dinheiro pra nada.
Ajuda só”. Comecei a transpirar e disse pra mim mesmo “Isso é azar.
Assim essa tia lhe digo o que então?” Olhei para ela com firmeza. Lembrei que estava a sair da igreja e de uma confissão.
Momento de Quaresma. Já tinha o coração limpo e pecar logo aí estava fora de hipóteses. Era o meu único dinheirinho.
O que fazer, meu Deus? Olhei para o céu, olhei para a senhora, olhei de novo para o céu e para senhora e respondi que não tinha dinheiro.
Pequei na porta da igreja mal tinha acabado de me confessar. Um pecado desses também não pesa muito.
Até porque dinheiro mesmo eu não tinha. Era escolher entre o pão das crianças e o combustível ou a senhora pedinte.
Todas as passagens da Bíblia que dizem “quem dá ao pobre recebe a dobrar” esqueci naquele momento.
Vou confessar-me depois.
Esse é um pecado bem básico.
Por: EDY LOBO