Seria muito mau se de repente houvesse mais unanimidade sobre a questão da corrupção para além da conclusão de que é perniciosa e deve ser combatida. Seria mau porque aí seria o fim do mundo, se toda a gente pensasse da mesma forma e tivesse deixado que ela se alastrasse como se alastrou no nosso país.
POR: José Kaliengue
Falo de corrupção, a moral, a financeira, a comportamental, a religiosa, tudo. Porque corrupção não é apenas o desvio do dinheiro público. É interessante que o MPLA esteja a debater a corrupção num seminário que hoje termina. É um sinal importante, porque o MPLA é o partido que governa o país e ignorar o problema seria assumir a sua “autoria” e a sua defesa.
Apesar de não ser coisa de outro mundo haver corrupção também em entes privados e até na Oposição, a verdade é que quem gere os dinheiros públicos é quem governa e é da corrupção envolvendo dinheiros públicos de que mais se queixam os cidadãos. E é a mais nefasta. Na discussão do MPLA há divergências sobre a origem da corrupção, sobre o “caldo” social, económico e político que a propiciou.
Há olhares para o passado histórico, para outras realidades, cobranças ao Ocidente, paralelismo com a idade da barbárie e até há quem não enxergue qualquer corrupção em Angola. É isto que torna o debate mais rico e é isto que permite ver como chegamos ao ponto em que estamos.
Uma recomendação apenas: além de todas as filosofias, ponham os pés no chão, olhem para o país que temos e haja coragem para sentir a dor que a corrupção semeou em cada família. A família é importante, porque há quem tenha aprendido em casa que tudo o que se passa é normal, não é corrupção, não é nefasto.