O mistério nebulou a região. Nunca a aldeia ficara tão agitada quanto estava. Entre euforia, apreensão, admiração e incertezas, o certo estava lá, Ukanda, a mudança de paradigma.
Quem a trouxe? Muitas dúvidas e poucas certezas. No entanto, Ukanda chegou e tudo mudou. Passava-se a década de 80, Tuvalova era o soberano. Reinava com ímpeto, perspicácia e rispidez. De tanta pouca simpatia aos deuses do refastelo, chamavam-no Bastão de Ferro.
Andava sempre com uma vara metálica, por si reconhecida como a materialização do seu cognome. Talvez lhe enfeitasse Ukanda, pelo que fez dela e com ela.
De tão machista que era, rejeitava o apelido com a justificação de que tinha afeições femininas. Então continuou Bastão de Ferro. Diga-se, os mais tradicionalistas e conservadores simpatizavam-se com ele, pois, a sua autoridade possibilitava a adopção de ordens como leis.
Era exactamente aqui onde residia o problema. Bastava que Bastão de Ferro falasse, aquilo era lei, era norma, notícia que corresse até as regiões mais remotas.
E, assim, a lei era Bastão, a norma era Bastão, a ética e moral eram Bastão. Com excesso de poder, privilégios e riquezas, Tuvalova começou a conduzir os destinos do seu povo drasticamente.
Até que um dia foi influenciado a adoptar novas práticas para, supostamente, exercer melhor o seu poder, recorrendo à Ukanda. Nem ele mesmo sabe de quem recebeu a sugestão.
Porém, estava convicto de que esse era o caminho. Tanto é que não demorou a estabelecer a Ukanda na sua aldeia como meio de interacção social. Tudo agora passasse pela Ukanda.
As pessoas ficaram mais distantes umas das outras por causa da Ukanda. Uma nova prática do nosso quotidiano, sem Ukanda, tudo é reduzido a zero.
Os laços amorosos não valem, as relações de negócio não vincam, as organizações que quisessem cooperar entre si desentendem-se, até mesmo para conversar com soberano, era necessário Ukanda.
Formal, informal, familiar, institucional, enfim, Ukanda toma diferentes características em função da necessidade de utilizá-la.
Ukanda – a Carta – mudou a forma de viver da aldeia de Bastão de Ferro. Tudo quanto se pretendia a sua concretização devia ocorrer por meio da Carta. Entre pais e filho, vice-versa, entre irmãos, amigos e parentes, a comunicação acontecia através da carta.
À Sua Excelência Meu Amigo; Ao Excelentíssimo meu irmão; À Requerida Minha Esposa; À Sua Genética Meu Filho, e assim por diante. Desse jeito começavam as cartas.
Édito do rei tinha de ser cumprido. Tuvalova percebeu que a burocratização das relações humanas levá-lo-ia a consolidar o seu poder.
Afinal, não era ingénuo. Também adorava ser adulado. Por isso, a Ukanda para ele eram distintas e começavam deste jeito: À Sua Excelência Excelentíssimo e Digno de Poder, Vossência Bastão de Ferro… A Ukanda mudou para sempre as comunidades.
Por: ESTEVÃO CHILALA CASSOMA