A relação interdisciplinar entre as artes é evidente e nalguns casos a proximidade entre as artes é tão profícua que não se imagina uma possível separação; é o caso da música e a dança, artes intrinsecamente ligadas pelo mesmo cordão umbilical, principalmente, em sociedades africanas como a nossa em que determinados ritos são efectuados com a companhia da música e dança que reforçam a dramatização de um rito específico.
Outrossim, não se pode negar a relação da literatura com o cinema, daquela com o cinema e dessa com o teatro; relativamente a relação do fenómeno literário com o cinema, saiba-se que amíude, a arte cinematográfica tem bebido muito das águas da literatura, uma vez que vários sucessos nas salas são, na verdade, adaptações de obras literárias ao cinema. É o caso do grande sucesso “ .
Os miseráveis” e “ O conde de Monte Cristo” ambas obras do escritor iluminista francês Victor Hugo, “ Alice no país das maravilhas” de Lewis Carrol, “ A culpa é das estrelas” de John Green ou ainda “ O senhor dos anéis” de J. R.R. Tolkien; em Angola, por exemplo, a novela de Luandino Vieira “ A vida verdadeira de Domingos Xavier” foi adaptada ao cinema pela cineasta francesa Sarah Maldor, já a narrativa de Manuel Rui “ 1 Morto e os vivos” deu na telenovela “ O comba”.
São inúmeras as obras que mereceram a atenção de cineastas, algumas mantêm o enredo tal e qual a narrativa original, outras sofrem alterações substanciais que quase que adulteram a diegese, a psicologia das personagens, a sua caracterização, surpreendendo o receptor antes leitor, agora cinéfilo ou pela negativa ou pela positiva.
A verdade é que o processo de adaptação impõe omissões e criatividade o que pode afastar a obra cinematográfica da narrativa original. Tal relação não pode ser encarada do ponto de vista unilateral como se apenas o fenómeno literário fosse o único a influenciar o cinema, pois o contrário também se observa, mormente, no processo de ampliação da criatividade dos escritores.
“The curious case of Benjamin Button” é uma narrativa de género conto que em uma narração ora burlesca e jocosa, ora dramática e melancólica relata sobre a vida de Benjamin Button, o herói da narrativa, que nasce totalmente senil, rompendo com a ordem natural, fazendo o processo inverso, isto é, no lugar de crescer ou envelhecer, foi rejuvenescendo.
A narrativa é paradoxal, na medida em que a personagem protagonista nasce afectada pela senilidade e recebe o nome de Benjamin, nome que na cultura judaico-cristã está associado ao filho mais novo em comparação com o filho kaçula de Jacob, Israel, logo supõe-se que alguém que responde por este nome, repito à luz da cultura ocidental, seja uma pessoa mais imberbe, no entanto temos aqui um Benjamin senil, o velho.
O conto é de autoria do escritor americano F. Scott Fitzgerald – também autor do romance por sinal a sua magnus opus “The great Gatsby”, uma obra igualmente adaptada ao cinema – , foi lançado em 1922.
A obra de Fitzgerald foi adaptada ao cinema por David Fincher e lançada em Dezembro de 2008, protagonizado por Brad Pitt, encenando o papel de B. Buton e Cate Blanchett, actores com grande trajectória na indústria cinematográfica , ela é homónima e possui um enredo semelhante ao conto, entretanto no cinema a história é mais dramática, melancólica, um filme de emocionar-se e nada cómico.
São pouco momentos cómicos que se pode fazer menção, mas um deles é a forma que o protagonista perde a vida como um bebé nas mãos de sua namorada, um episódio claramente burlesco e ao mesmo tempo triste.
No conto, diferente do filme, a obra caracteriza-se por ser mais arlequinesca, a título de exemplo, Benjamin Button e o seu neto protagonizam uma cena muito hilária quando aquele, o avô, ficou tão primaveril ao ponto de brincar com esse.
Button , ao longo de seu rejuvenescimento, enfrenta uma chuva de questões intrigante sobre o seu ser, porque ele é uma clara contradição, porquanto é dotado de um físico de velho, mas possui mente de jovem, mas é tratado como idoso o que demonstra a grande tendência do ser humano em tratar com base na aparência, imagem; quer a narrativa, quer a obra cinematográfica gozam da ficção para criticar o pensamento preconceituoso segundo a qual se reduz o ser humano na aparência , assim como Button, na realidade, muitas pessoas são reduzidas por parecerem ter mais idade ou menos, outros julgados apenas pela sua cor da pele, as duas obras são uma ruptura com a filosofia das aparências.
Por: FERNANDO TCHACUPOMBA