Não precisamos de fazer um estudo estatístico para sabermos que nunca houve um número tão elevado de intelectuais na nossa sociedade como nos dias de hoje.
Tal elevação deve-se as universidades e institutos Superiores que foram crescendo de modo exponencial ao longo destes últimos 21 anos que por sinal Angola alcançou a paz.
É uma negligência não considerar a praça académica deste país como uma das maiores de África, pois intelectuais encontramos em diversos locais, principalmente, nos media.
Liga-se o rádio por aí, certamente não faltará indivíduo com discurso pleno de ‘’portantos’’ e ‘’defactos’’ e um conjunto de palavras vazias a assumirse como verdadeiramente intelectual; algo diferente não sucede com a televisão, basta ligar o televisor e ver-se-á pessoas com um discurso semelhante que exalta a filosofia ocidental com um certo de comoção emocional ao referirse dos clássicos gregos mas que não percebe patavina da tradição africana ,ou a comentar sobre a geopolítica prevendo o comportamento de um dos líderes das potências mundiais, assim como estas correntes capitalismos, socialismos ou outra qualquer, ainda há outros que se focam em sustentar o partido A ou B, com unhas e dentes apesar de fazer um péssimo trabalho público, discutindo se são de direita ou da esquerda e simplesmente reduzir-se a isto.
E para melhorar, não se pode ignorar que as nossas universidades todos os anos lançam para o mercado mais versões de intelectuais, aqueles que defendem o pensamento falacioso segundo o qual a política é somente para os políticos, fazendo surgir uma cidadania caracterizada pela fragilidade, porquanto não questiona, não intervém, não participa, uma cidadania cega e muda, porque finge que não vê os variados problemas sociais e se os vir, não os divulga, uma intelectualidade fundada no medo.
Não se pode esquecer dos assumidos intelectuais religiosos que se comprometem somente com a verdade, quer a que se supõe ser revelada pelo Sagrado como a verdade científica, mas que ainda assim se mantêm escondidos a engordar como sapos em lágoas em dias de chuva, preferindo morrer com as duas verdades e no plano relacional confundem-nos com comportamentos anti-verdade.
Logo,é inegável a variedade da classe dos intelectuais no país do Pai Banana.
Ante a tudo isto, uma pergunta que não se cala é sobre o que é na realidade ser verdadeiramente intelectual, porque respondendo a esta questão ficaremos a saber que muitas ideias referentes a este conceito não passam de pseudointelectualidade, ou seja, falsos pensamentos sobre o que é ser intelectual que são tidos como verdade e que ganham força na por serem sustentados pela academia, dito de outro modo, estes pensamentos encontram sumidade de se enraizar, na nossa sociedade, por causa da academia que em muitos casos se apresenta de forma mórbida e com uma formação fraca devido à falta de aposta do Governo, amíude, em proporcionar um ensino de qualidade.
E se realizarmos caças as bruxas, entenderemos que se trata de um problema sistemático, ou melhor, o problema parte do sistema de ensino em geral.
Voltando a pergunta, saiba-se que existem muitas respostas possíveis, há quem diga que ser intelectual reduz-se em ler muito e, por isso, muitos sabendo previamente de um ensino de pouca qualidade que o país oferece para os seus habitantes e com sede de intelectualidade focam-se na leitura, entretanto como a nossa sociedade começou a pôr por escrito a sua história não a tanto tempo encontram dificuldades de conhecer a sua própria história e caem no perigo da alienação por reduzirem as suas leituras no ocidentalismo e outros que nem sequer lêem mas que perdem tempo em exibir os calhamaços debaixo dos sovacos ou na estante de casa o que chamamos de tamodismo ou a filosofia do Tamoda e são estes os mais difíceis de os revelar que ainda não são verdadeiramente intelectuais.
Mas o que é ser verdadeiramente intelectual?
Não sei se consiguiremos responder a esta pergunta, no entanto podemos acrescentar aqui aquele grupo que sente sede de identidade africana e busca por isso, estudando, venerando a cultura africana e clamando pelo Kemet, e por uma aplicação que se sustenta no radicalismo da visão ancestral africana de ver o mundo na hodiernidade, porém fechando-se a actualidade, por desvalorizar totalmente o que vem de outras regiões, mostrando-se antiglobalização.
Considera-se, nesta perspectiva, como verdadeiramente intelectual aquele que não se desliga da sua ancestralidade ou identidade e posiciona-se como tal, todavia esta visão leva-nos a questionar se não será o destino da humanidade a desconstrução do étnico, o misticismo, portanto?
Na verdade, a resposta desta questão deve gozar de uma grande reflexão, pensamos que um verdadeiro intelectual é um indivíduo que possui uma razão iluminada e, por isso, compromete-se somente com a verdade e não com ideologias que o corrompem, tornando-o imparcial e cego, aliás, um intelectual é como a ideia de poeta que o escritor David Mestre nos apresenta, isto é, aquele que tem olhos para os que não podem ver e voz para os que não podem falar.
A nosso ver, a retórica e a oratória é tudo uma consequência da razão iluminada e, portanto, o exibicionismo ou o tamodismo é uma pseudointelectualidade que deve ser apartada.
Por: FERNANDO TCHAKUPOMBA