Não se pode precisar, certamente, quando exactamente se verificou a presença dos primeiros imigrantes congoleses no bairro do Camama.
É uma constatação difícil por se tratar de um bairro que foi conhecendo, de forma rápida, a integração de vários grupos oriundos de várias províncias de Angola tal como já tivemos ocasião de descrever no texto referente a sua história.
Por outro lado, trata-se de um bairro cujo crescimento e organização não resultou de um plano urbanistico do Estado e a integração das populações foi sendo feita através das relações de compra e venda de terrenos.
A partir de 2006 já se começava a registar a presença de alguns imigrantes da RDC, em número insignificante e cuja mobilidade social não era muito notória sobretudo ao controlo das autoridades administrativas do Estado que, para além da organização do próprio bairro, se preocupavam com os principais desafios sociais desde o saneamento básico, energia electrica, segurança, etc.
Nesta fase, isto é em 2006, calcula-se que menos de 200 imigrantes da RDC já estavam integrados no bairro Camama 1 e tratava-se, pois, da primeira comunidade de imigrantes a estabelecer-se no local.
Para além deles, não se tem referências precisas de outras comunidades de imigrantes, no ano a que fazemos referência, que se tenham integrado.
Os imigrantes da RDC podem, entretanto, terem servido como a porta de entrada e/ou de actracção de outros tantos imigrantes que hoje se estabeleceram no bairro.
Quatro anos depois, isto é 2010, a comunidade de imigrantes da RDC registou um inevitável crescimento e estima-se que poderiam estar na ordem de 1500.
Estamos, pois, a falar de um contexto em que Angola já vivia muitos anos de estabilidade política e as condições de atracção haviam se multiplicado consideravelmente sobretudo devido as possibilidades que o mercado oferecia aos seus investidores.
De 2010 até aos dias de hoje, isto é 2016, verificou-se um crescimento extraordinário da população imigrante, com particular destaque para os imigrantes da RDC que continuam a ser, até ao momento, a maioria comunidade se comparada com outras que integraram o bairro e que são pouco representativos.
Segundo as informações que obtivemos do soba local, os imigrantes da RDC podem estar situados na ordem de 2500 divididos entre mulheres e homens com maior predominância para os homens que parecem ser os mais visíveis no bairro.
Apesar de ser, apenas, uma estimativa feita sem bases concretas, a constatação,no terreno, nos leva a verificar a existência de um número superior dado, principalmente, ao facto de terem, para além dos adultos e trabalhadores imigrantes da RDC, nascido no bairro os filhos destes que formam uma nova geração de prováveis futuros habitantes do bairro.
Para além dos imigrantes da RDC, estão no bairro muitos outros imigrantes nomeadamente os nigerianos, senegaleses, chineses, malianos e, agora, vietinamitas. Dentre estes, a presença vietnamita e chinesa não é tão visível como a dos imigrantes africanos que são, de longe, a que maior concentração representam quer em termos de actividades quer em termos de população.
Portanto, o que se pode depreender, com a presença dos imigrantes no bairro, são as mudanças nos hábitos e costumes do bairro ou seja, o ambiente sóciocultural passou a ser influênciado com a integração de novas culturas. Isto pressupõe que o Camama já não é o mesmo bairro de há 40 ou 50 anos atrás e já não se consegue verificar, por exemplo, a predominância de um único grupo étnicolínguistico e muito menos se pode considerar o espaço territórial como uma área de maioria kimbundu ou, por outro lado, que tenha nos imigrantes da RDC como a única comunidade como se verificou no princípio de 2000.
Estas mudanças obrigaram, igualmente, significativas alterações na estrutura do poder administrativo. Face ao crescimento de muitas unidades empresarias, a Administração local passou a fiscalizar as actividades comerciais com equipas de fiscalização mas mesmo assim se continuou a verificar o crescimento de muitas imigrantes no mercado informal alguns dos quais com actividades comerciais nas imediações das instalação da própria administração.
Provavelmente se pode compreender que o número da população residente (cidadãos nacionais) poderiam não merecer, imediatamente, uma resposta efectiva em termos de controlo securitário e administravo.
O mesmo se pode colocar em relação a mobilidade comercial, especialmente o comércio informal.
Para todos os efeitos, o Camama mudou e se espera que muitas outras coisas venha a mudar nos próximos tempos porém, os desafios quanto a realidade migratória não conheceram mudanças significativas a presença de imigrantes em situação ilegal permanence um desafio e continua a ser uma questão que requer um posicionamente das autoridades administrativa policiais.
Por: LUTINA SANTOS