Por a língua ser um sistema aberto, heterogêneo, inacabado e em constante (re)construção, permite que ela seja diferente, numa certa época, num certo lugar, num certo grupo social e numa determinada situação de interação entre as pessoas.
Esta distinção, chamada de variação, pode ocorrer no grau mais alargado, neste caso, de país para país e no grau mais restrito, isto é, de região para região do mesmo país ou também de pessoa para pessoa.
Esta diferença poderá ser verificada nas unidades lexicais selecionadas pelos falantes, na “fonética,” na prosódia e no significado, isto faz com que se consiga distinguir, por intermédio do sotaque, falante do português, especificamente, identificar o seu grupo geolinguístico, por exemplo, percebe-se quem é um português, um angolano, um brasileiro, um moçambicano, um cabo-verdiano, um são-tomense, um guinnense.
Apesar de haver, como afirma Teixeira (2014: 105), miscigenação de falares distintos no mesmo país ou região, pode ser uma tarefa difícil, porém, consegue se notar o falante nativo e o falante que imita/esforça o sotaque.
Por outro lado, em cada variedade, de forma geral, pode se identificar a variante restrita, conforme a região (província ou município), no caso de Angola, na variante do português de/em Angola, pode se notar, a partir do sotaque, o grupo etnolinguístico dos falantes na interação, há, segundo Fernando dos Santos (2017: 15), interferência das línguas angolanas no português falado no espaço supramencionado, esta interferência afecta as unidades lexicais e o sotaque, por esta razão, podemos, conforme Mateus e Nascimento (2005:19), distinguir um falante do português: “luandense, do sul, do centro e do norte.”
Dado que o sotaque da sua língua nativa será, em muitos casos, transportado no português, surgem, então, as designações português de Angola falado em Luanda, português de Angola falado em Benguela, português de Angola falado no Zaíre, para particularizar um determinado grupo de falantes que possuem traços idênticos/próximos e, às vezes, partilham o mesmo espaço geográfico.
Também pelo sotaque se tem informação relacionada à classe social, ao nível de escolaridade, à idade, ao sexo, à profissão, bem como à situação da interação, se for mais formal, mais/menos formal e informal.
É, de facto, observado que falantes da mesma variante, mas pertecentes à classe social distinta, terão sotuque diferente, cada de acordo com seu nível socioeconómico, consequentemente, o de nível alto terá um sotaque mais próximo ao sotaque “padrão” ou de “prestígio.”
Assim, poder-se-á distinguir o nível escolar (básico, médio ou superior), ou então, não escolarizado, a faixa etária (criança, jovem, adulto e idoso), o sexo (masculino e feminino) e a profissão (professor, médico, jornalista, advogado).
Liu Kid, rap de Lubango, nos seus vídeos intitulados “batalha das línguas,” em alta criatividade, exemplifica o já mencionado acima por meio das barras de rap entre os lusófonos e, adicionalmente, chineses, espanhóis, norte-americanos, congolês… o rap demonstra nas barras, por intermédio do sotaque, a variante linguística dos intervenientes, é possível identificar o país de cada interveniente mesmo sem colocar a bandeira, como se pode ver nos vídeos (nas partes 1 a 6).
Há, de facto, uma imitação do sotaque real de cada país lusófono. Portanto, Liu Kid, o génio, incorpora unidades lexicais, além do sotaque, próprias de uma determinada variante, capazes de ser entendidas por seus falantes ou falantes doutras variantes que conhecem tais unidades lexicais.
Por: ESTEFÂNIO JOSÉ CASSULE
Professor e estudante de letras