Talvez tivesse sido um escritor de aventuras se estivesse num país próspero intelectualmente.
Os meus escritos não são levianos, são, antes, chuvas de reflexões que me custa acreditar que essa sociedade os aproveitaria, escrevo-os com alma de quem quer apenas oferecer alternativas à imaginação do senso comum.
Então, escondo-me entre os normais, finjo pensar e a agir à sua maneira.
O meu silêncio com as letras preocupa-me, faz-me ter ideias suicidas, no entanto resisto à dor que sinto, ao amor pela partilha das sombras que carrego.
Escrever é derramar, com antecedência, as lágrimas de não ser lido, tido nem achado, porquanto as probabilidades são maiores por aqui.
Já se percebe que o sol nasce e se expande em si, cumpre o seu próprio desígnio, porém eu estaria disposto a ter acesso, pelo menos, a uma porção da sua dimensão, brilhar sem medo da escuridão, entretanto o factor geográfico já é um empecilho, o humano ainda pior desviado pelo seu próprio governo.
Hoje só já se vê muitas promessas vazias, o “jajão” que esmaga a esperança de triunfar.
Um bom amigo, de cuja lembrança me é feliz, disse certa vez: “ler não é prioridade, parece ser um veneno face às novas tendências adquiridas pela sociedade.”
A rapidez com que a mediocridade viaja por essas bandas é assustadora, extermina qualquer sonho de se ser gigante, reconhecido entre os astros celestiais, sem ter que mendigar noites ou escalar o paraíso partidário.
Então, prefiro que o silêncio me leve aos poucos; que a minha esperança fique sem baterias, pois estou num país perfeito para não seguir adiante com ideias “utópicas”.
Outro dia estava deitado, ouvindo músicas, a tristeza batia-me o rosto fortemente, não quis partilhar a minha dor, sempre egoísta.
As lágrimas corriam velozmente, não as segurava.
Ouvia vozes na cabeça, elas diziam que era o centro de alguma coisa — talvez das lamentações — não percebia bem a linguagem, pois estava com medo de descobrir mais, medo de sentir o vazio cada vez mais profundo.
Por aqui, vê-se a noite, com o brilho lunar, embora o sentimento de expectativa da gente já se calou faz tempo. Apenas se vê com o olhar de esquecer a realidade dos factos da pátria.
Pintar as palavras era um sonho de menino que se escondia em mim.
Escrever sei lá o quê! Apenas escrever porque palavras dizem alguma coisa, dão algum sentido à existência.
Talvez fosse isso que trouxera a ideia de ser escritor de crônicas naquele tempo!
Hoje, adulto, não sonho mais, estou acordado, preocupado com o que comer, pois a fome não quer saber dos sonhos de ninguém, é indiferente.
Por: MANUEL DOS SANTOS